Encarei o relógio no meu pulso e respirei fundo. Nove e cinquenta. O horário de recolher era às dez, o que significava que a maioria dos adolescentes estariam caminhando em direção aos seus dormitórios. Bem, a maioria menos o grupo de Clare, que planejavam dar uma festa da fogueira.
- Existem tantas pessoas por aqui... por que diabos tive que me envolver no grupo mais problemático? - perguntei para mim mesma, enquanto observava, de trás de uma árvore, o pai de Layla adentrar o escritório. O fluxo de onde eu me encontrava não continha mais alunos, então era questão de minutos até ele e sua esposa saírem. Até Lilith entrar em ação.
Um copo de água. Tudo o que eu precisava fazer era entregá-la um copo de água, para que a mesma voltasse para o escritório e pegasse no sono. Como Jackson mesmo havia dito, era fácil. O problema era ter certeza se ele iria beber ou não. E eu não queria estragar a festa deles. Isso iria ser uma confusão. E eles iriam me culpar.
Aproveitei os dez minutos restantes para tentar me acalmar, enquanto segurava o copo de água em uma das minhas mãos. Quando Mary depositou o pó do sonífero dentro do mesmo, imaginei que fosse ser perceptível a mudança de cor, mas não foi. Amém.
Encostando minha cabeça na árvore, cantei algumas músicas na mente enquanto isso. Era incrível notar que, quando desejávamos que o tempo passasse, ele parecia mais lento que uma tartaruga.
Foi então que meu celular apitou. Dez horas. No mesmo segundo, ajeitei minha postura e virei em direção ao escritório de diretor, que estava abrindo a porta do mesmo, um pouco desconfiado. Ele olhou ao redor, encarou o celular em seu pulso e então sua esposa apareceu também, ao lado de uma mulher que, ao menos eu, assimilei como a Lilith.
Os três conversaram por alguns segundos, até que o casal se despediu da mulher e começou a caminhar em direção a saída, onde deveriam ter pedido um táxi ou coisa parecida. Mas isso não era importante para mim. O importante era deixar Lilith anestesiada por algumas horas. Só isso.
- É agora - comentei, quando notei que estavam longe o suficiente e que não iriam mais voltar.
Fui caminhando em direção ao escritório, uma vez que não conseguia correr, e então bati na porta, levemente, para não dá a impressão de desespero, coisa que por sinal, eu estava bastante.
Quando abriu a porta, a mulher que encarou de cima a baixo, surpresa, mas não disse nada. Não inicialmente, ao menos.
- Não conheço você - Falou, erguendo uma de suas sobrancelhas. - Não deveria estar no quarto? Já passou do horário de recolher.
- Horário de recolher? Eu não sabia que tinha horário de recolher aqui - menti, torcendo para que ela acreditasse. - Sinto muito, sou nova.
Lilith encarou a água em minha mão direita, e então seus olhos voltaram a me analisar, enquanto a mesma cruzava os braços. Merda. Acho que ela era esperta.
- Hoje é seu primeiro dia?
- Sim.
- E o que está fazendo aqui?
Tentando dopar você, pensei, mas não disse.
É claro que não.
- Vim pedir meu remédio. Tenho insônia. Mas o diretor confiscou. Trouxe até essa água junto comigo, já que não tenho nada no meu dormitório.
Novamente, ela pareceu me analisar.
- Não posso entregar o seu remédio - falou. - Se é que você tem um, realmente.
Assim como o diretor, Lilith também sabia sobre nós, os adolescentes pirados. Sobre prescrições médicas, traumas, problemas em relação aos comportamentos. Notei quando disse isso, o que facilitou tudo em minha volta.
- Por favor, não conseguirei dormir sem ele! - fingi estar desesperada. - Eu tenho pesadelos constantes. Quando tomo meu remédio, me sinto bem. Nas nuvens. Durmo quase como um anjo.
- Sem chances. Volte para o seu quarto antes que eu chame o diretor - informou.
- O que eu faço com essa água, então? - perguntei. - Vou levá-la comigo.
O copo cujo eu estava segurando era de vidro. Lilith notou isso e, enquanto eu me virava, a mulher tomou-o de minha mão e disse:
- Eu fico com isso. Não sei como pegou esse copo do refeitório, mas na próxima vez, use as garrafinhas de água. Estão sempre disponíveis. Boa noite, senhorita...
- Ryle - menti meu nome.
- Senhorita Ryle - ela assentiu e fechou a porta na minha cara.
Enquanto isso, fingi me afastar, mas na verdade me abaixei e fui em direção a janela ao lado esquerdo do escritório, que também se parecia com um quarto do lado de fora. Madeira, uma porta simples e janelas. De esguelha, observei-a sentar-se na poltrona preta do diretor e então beber a água, tranquilamente. Era óbvio que ela não iria desperdiçá-la.
- Feito - murmurei para mim mesma, ao sair definitivamente daquele lugar.
Eu corria em direção a floresta quando me esbarrei com alguém. A força repentina de um corpo contra o meu me faz perder o equilíbrio e caio no chão, quase batendo minha cabeça.
- O que diabos... - alguém começou a falar, mas então parou. O lugar está um pouco escuro pois é mais afastado dos dormitórios, mas ainda assim, consigo ver quem é. - É apenas você, novata.
Jackson falou, com um sorriso nos lábios. Diferente de mim, ele continua em pé, com uma garrafa de vinho na mão esquerda.
- Por acaso esse é seu jeito de me parabenizar? - perguntei, encarando-o.
Inicialmente, ele pareceu um pouco confuso, mas então seus lábios me lançaram um sorriso animado e ele oferece sua mão, como uma apoio para que eu me levante.
- Conseguiu fazê-la beber a água?
- Cada gole - informei, quando já estou de pé. - Embora não tenha sido como o plano original.
- Ótimo. Isso é ótimo - ele disse, ainda sorrindo. - Então só precisamos armar a fogueira. Parabéns, novata.
- Obrigada.
Seus olhos me encaram por alguns segundos, como se estivesse analisando algo escondido dentro de mim, e o mesmo se aproxima, bagunçando meu cabelo sem motivo algum.
- Desculpe por derrubar você - disse, e isso me pega realmente de surpresa. - Vamos nessa, os outros devem estar nos esperando.
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Camping in Florida ❄️ GOT7
Fiksi PenggemarEsya sempre teve problemas para se relacionar com as pessoas ao seu redor. Vivendo sempre em seu pequeno mundinho fechado e longe de problemas, ela sempre levou uma vida estável. Bem, até ser obrigada por seus pais a passar suas férias num acampame...