Marilyn Monroe tá com vergonha até hoje.

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25 de Setembro de 2018.

Querido Diário,

Como você sabe, eu moro aqui no Rio de Janeiro, e aqui é... maravilhoso, como você já ouviu dizer. Enfim, um dia eu te conto mais, porque hoje, o que você precisa saber, é que existem alguns lugares importantes por aqui, um desses lugares é a Avenida Rio Branco. Ela é bem cheia, principalmente às cinco horas, quando as pessoas estão saindo do trabalho. 

Mas adivinha só quem estava lá, Diário.
Pois é.

Eu saí do cursinho com a minha mãe e com minha irmã, e estávamos rachadas de fome. Lá no centro da cidade tem muitos lugares pra comer, principalmente na Rio Branco, então fomos andando até lá. Eu quando estou com fome fico muito distraída, você sabe, né? 

Mas nunca, na minha vida inteirinha, eu imaginei que algo assim poderia acontecer.

— Vocês querem comer aonde?  — Perguntou minha mãe.

— Eu quero ir no Burguer King. — Respondeu minha irmã.

Concordei.
Viramos a esquina, tagarelando sobre a aula, e sobre a possibilidade de existir uma explicadora para teoria musical. Passamos pela banca de jornal, pelos pombos, o portal de andaimes, pelas senhorinhas que andam em câmera lenta, pelo carrinho de amendoim torrado — com aquele cheiro horrível e aquela fumaceira de dar agonia — as vendinhas com aqueles doces baratinhos, e os lençóis no chão custando 10 reais. Muita gente, Diário. Muita gente. 

Eu estava andando prestando atenção nisso tudo, e era tanta coisa, que eu me esqueci de prestar atenção no chão. Não, Diário, quem me dera eu tivesse caído no chão. Ninguém caiu no chão, o problema foi o que subiu dele, e o que subiu com ele: minha saia.

Você já ouviu falar nos bueiros que soltam vapor em Nova York? Pelo que parece, nós temos alguns aqui no Rio também. E talvez eu tenha descoberto da pior forma possível. Até porque, nada pode ser mais didático do que ficar semi-nua no centro do Rio de Janeiro, não é mesmo? Vou me lembrar de olhar pro chão pra sempre, e talvez aquelas pessoas também.

Aquele vapor inútil  jogou minha saia pro alto da minha cabeça, me deixando com tudo de fora. 
Tudo.

E eu, super inteligente do jeitinho que sou, fiquei tentando abaixar a saia sem andar, o que significa que o ar continuou levantando a saia, dando tempo pra me tornar o mais novo meme na internet, se fosse o caso. Eu abaixava e ela continuava lá, levantada, pra todo mundo ver: as pessoas da banca de jornal, os pombos, os caras do andaime, as senhorinhas que andam em câmera lenta, o moço do amendoim torrado, os clientes e vendedores dos doces baratinhos e dos lençóis por 10 reais.
Ah, Diário... mais dois segundos eu eu arranco a tampa daquele maldito  bueiro e me escondo lá.

Como se não fosse o bastante, minha irmã ainda deu algumas daquelas gargalhadas de sirene, que chamaram a atenção dos desavisados que atravessavam a rua, enquanto minha mãe opinava em alto e bom som, sobre meu estilo de calcinha — ou de calçolas, já que tudo depende do ponto de vista.

Quando chegamos na lanchonete, fui direto para o subsolo, tendo a certeza de que não existe lugar nesse planeta onde eu possa me esconder. Será que ainda tem vaga pra'quela viagem só de ida para Marte?
Acho que seria a solução. 

No final disso tudo, percebemos que tinham duas mulheres em uma das mesas, que não paravam de nos olhar. Eu não pensei nisso na hora, mas agora, penso que talvez elas deviam estar querendo um autógrafo. 

Por isso, eu, Clarinha, prometo sempre olhar por onde ando, Diário.
Principalmente no centro da cidade.

Me lembra, tá?

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