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É uma sensação diferente. Um incômodo inacessível, mesmo com a garganta farpada ou bolhas num copo d'água. Pode acreditar. Eu já tentei. Tento todos os dias, mas falho miseravelmente, terminando com os dedos-fagulha ditando dor. Talvez seja coisa da minha cabeças e dos monstros que se apropriam da minha verdade, e ainda é tão difícil ignorar a brincadeira de criança, buraco lunar, obscuro triplicado. Quando tudo que escolhi na caminhada foi a lua como guia.

Essa urgência de se meter nas beiras do completo é uma ótima observação em prol da urgência de se escapar dela. O puxa e empurra não tem nada a ver com o fato de eu estar caindo, porque a força que me guia é uma via sem sentido, direção ou intensidade; é desconhecida, inexplorada.

A urgência sem vetor.

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[...]

Rasgo o lírio em milhões de pedaços enquanto amaldiçoo meu lado fútil e venenoso. Eu, Kang Younghyun, sou um ser humano. Um ser humano totalmente capaz de compreender que certas coisas não devem ser ignoradas.

E isto basta.

Meses. Há meses que meu eu fotovoltaico absorve porra nenhuma de luz. Sinto-me sem energia e sem saída. Acreditava que fosse uma maneira de transbordar o copo de outras pessoas com poesias e, muito embora não me identificasse com o sentimento, ele corroía meu cérebro de pouquinho em pouquinho e todos se perguntavam o que havia acontecido comigo. Younghyun não come mais dois sanduíches de pasta de amendoim, porque prefere perder o horário do almoço aprendendo a fazer lírios de origami; Younghyun precisa parar de assustar os outros com essa estranha aparição do lado sentimental e avoado, porque não parece certo; Younghyun precisa sair da banda, porque seus solos estão ficando péssimos; Younghyun não é Younghyun, o perfume dele mudou.

Era idiota, mas era o que mais me assustava, porque óbvio que fazia o mais absoluto sentido. Abrira mão de meus "princípios básicos" por conta desse vendaval de papéis e palavras; acho que as pessoas temiam que me tornasse um garoto enjaulado em pensamentos, inerte do mundo, desejando que minha lagoa rasas de preocupações assumisse liderança, sem precipitações ㅡ sim, precipitações, porque tudo é possível do outro lado, ainda mais quando se trata do ordinário na terra, cumprindo seu papel de boneco de plástico, moldando-se com o vento ㅡ , porque o mundo não é feito para sair dos eixos. Essa é a verdade. Seguimos em linhas que, embora não sejam rentes, caminham no conforto absoluto. Não existe chance de se machucar na leve inclinação do mundo. A rotação segue viagem, orbitando o sol em amizade e é tudo tão adorável que quase consigo fingir felicidade brotando dos quatro cantos dos hemisférios e que essa dor frutífera e incomum ultrapassa o valor do absurdo; um fruto mordido e ignorado, porque é o único sabor da verdade humanas, e não queremos ver. É tão mais fácil pensar nessa mistificação do eu, porque o desejo humano almeja essências contrárias, dando-nos poder. O maior dom, a maior maldição. E há de quem ouse desafiar os quatro ventos, porque sabemos que os acúleos de rosas vão machucar do mesmo jeito. É a rosa dos ventos, caralho! O mundo inteiro cai em cima de você se não agir de acordo com as marcações e vetores. Sou ousado. E não é novidade para ninguém. Então, porque não encontro as respostas? Onde está esse terceiro olho para identificar verdades em palavras embrulhadas?

Eu não sei.

Eu não sei quem é você, existência dos lírios.

ㅡ H.U.R.T. day6Onde histórias criam vida. Descubra agora