Capítulo 23

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Hoje é o dia da remoção no meu teratoma. Essa semana inteira não falei com ninguém, era do meu quarto para a cozinha, pegava uma fruta ou algo assim e voltava para o meu quarto. Evitava os meus pais e qualquer tipo de contato com eles.

Deitada na maca observo o teto branco enquanto as enfermeiras me preparavam para entrar na sala de cirurgia. Senti o toque macio da mão da minha mãe em meu antebraço e olhei em seus olhos.

- Vai dar tudo certo.-ela sorri genericamente a desliza sua mão por meu braço.

- Logo nos veremos de novo, filha.- meu pai disse estando pouco atrás da minha mãe e assenti e dei um sorriso fraco para os dois e voltei minha atenção ao teto.

Senti uma agulha perfurar minha pele e adentrar meu corpo.A maca começou a se mover e saí do meu quarto, meus olhos foram pesando casa vez mais, era o anestésico fazendo efeito, acabei dormindo.

**

Abri meus olhos, que pareciam carregar duas toneladas em cada um de tão pesados que estavam, e olhei em volta de mim para entender o que estava acontecendo. Estava no quarto do hospital novamente, só que agora apenas meu pai estava lá. Ele estava sentado na poltrona um pouco distante,apoiando sua cabeça na mão direita e parecia bem relaxado naquele sofá. Ele percebe que acordei e se levanta rápido.

-Hey, você acordou! Que bom.- ele diz e se aproxima.

- Já acabou a cirurgia?- pergunto ainda um pouco grogue.

- Sim, faz um tempinho já.-diz e encara meu rosto.- Como você está?

- Estou bem, os médicos fizeram um bom trabalho.

- Não falo disso, falo sobre como se sente em relação a tudo.- meu pai, pela primeira vez, parecia preocupado comigo. Logo ele, que sempre parecia estar escolhendo as salas de cirurgia, estava querendo saber como estava.

- Ah...- dou de ombros.-Isso não é muito importante, não é? Estou viva e a cirurgia foi um sucesso.

- Fiz aquilo pro seu bem,sabe que ele não presta.

- Por que implica tanto com o Allan? O que o senhor sabe que eu não sei?- minha voz afina e respiro fundo.

- Creio que nada, mas não fui com a cara dele.- ele dá de ombros.

- Isso não é um critério muito confiável, não é mesmo?

- Percebi que você está muito triste depois do ocorrido,mas não quero que você continua assim. Você sempre foi uma menina muito alegre e agora...bem, parece que essa alegria sumiu.

- Só estou triste por perder quem vocês julgamos de um capricho meu.- falo baixo e fecho os olhos.- É melhor eu voltar a dormir, os sonhos tentam a ser melhores que a realidade.

Controlei minha respiração e realmente acabei dormindo.

-Você não vai falar com ela...Não! Deixe-nos em paz, já não basta a bagunça que faz na vida da minha filha. O aconselho a não nos ligar mais. Passar bem.

Uma voz grossa irrompeu meu sono e fiquei na dúvida se era um sonho ou se era realidade. Acordei com grande esforço e vi meu pai desligando a chamada. É, não foi um sonho.

-Era o Allan?-perguntei baixo e ele suspirou alto.

- Isso não importa,só quero que você descanse.- ele se aproxima.

- Ele só queria saber o que aconteceu comigo.- resmungo baixo e sinto meus olhos marejarem.- Ele deve estar preocupado.- um sorriso novo me escapa ao lembrar e como ele é cuidadoso comigo.

- Pois que ele é preocupe em lhe dar aulas, pois é para isso que ele trabalha lá e vive perto de você.

- Não tem nexo o que vocês estão fazendo.

- Um dia talvez você entenda.- ele dá de ombros.-Terei que ir, meu trabalho me chama.

- Ah claro...- sorrio com sarcasmo.-A sala de cirurgia precisa do grande senhor Ross.

- Sabe que não posso recusar o trabalho.

- Ah,não se preocupe. Cinquenta por cento,ou mais, da minha vida, o senhor estava em salas de cirurgia. Não vai ser hoje que isso fará diferença para mim. Bom trabalho.

- Obrigado.- ele suspira pesadamente.-Sua mãe logo chegará para levar você para casa.

- Okay.

Ele abre a porta do meu quarto e some ao passar por ela. É, parece que o Doutor Ross está de volta e ainda pior.

****

Voltei para casa e me tranquei em meu quarto. Tomei um banho cautelosamente e me deitei na cama e suspirei alto.

-Filha, seus amigos estão aqui. Eles querem saber como você está.-ouvi a voz da minha mãe do outro lado da porta.

-Pode entrar.- digo quase num resmungo e ela abre a porta.

Eles entram e sorriem para mim, a porta é fechada novamente e ficamos com total privacidade.

- Como você está?-a Lisa pergunta com sua voz mais calma do que nunca.

- Estou bem.- sorrio fraco.- Perdi algo de bom?

- Não.- ela sorri e olha para o Matt.- O Allan pediu para que falassemos para ele como você está. Tentei te ligar, mas só caia na caixa postal.

- Meu pai confiscou meu celular.- digo baixo e respiro fundo tentando não me estressar.- Digam a ele que eu não estava grávida, que era um teratoma.

- Teratoma?-a Carol parece confusa.

- Se não me falha a memória eu acabei absorvendo meu irmão gêmeo enquanto ainda éramos um feto. Apenas agora ele veio me fazer "mal". Por isso a cirurgia pra tirar.- eles assentem e continuo.-Diga a ele que estou bem...e que o amo.

- Seus pais não concordaram com esse relacionamento, não foi?-o Matt sentaao meu lado na cama e toca minha mão. Assenti e fiquei com vontade de chorar.- Não gosto muito dele,na verdade,só tenho minhas dúvidas. Mas quando vi o que ele faz por você, bem, meio que estou mudando de idéia.

Sorri e enxuguei, com as costas da mão, uma lágrima que escorria em meu rosto.

- Te ver triste assim acaba comigo,principalmente por algo que seus pais parecem não entender.- ele continua baixo e olha em meus olhos.-Vamos te ajudar com isso.

- Como?-minha voz falhou e pigarreei.

- Não sei como, mas vamos.

- Só queremos te ver feliz,Viol.- o Froy se pronuncia e sorri. -Afinal, amigos servem para isso, não é mesmo?

- Ah,gente.- tento não chorar,mas não resolveu muito.- Eu amo demais vocês.

Damos um abraço em grupo. Alguém me apertou demais e gemi baixo de dor.

- Ah, desculpa. Acho melhor não ter muitos abraços por enquanto.- a Lisa se afasta e sorri.

Logo estava fora do abraço, porém sentia meu coração sendo abraçado por eles. Ah, como é bom ter amigos com os quais posso contar.

Querido professorOnde histórias criam vida. Descubra agora