Capítulo 2 - Véspera de Halloween

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Eram seis e meia da tarde. Cada um dos quatro jovens se preparou como se fosse para uma grande aventura. Flávio levou o celular para gravar tudo, pois cada detalhe seria importante para encontrar Tom. Tícia trouxe duas lanternas de mão, para explorarem a escuridão da floresta. Pedro levou o estilingue com algumas pelotas de pedra, caso se deparassem com alguma criatura assombrada. Denis trouxe uma sacola de comida.

- Nós só vamos explorar a mata, ninguém veio passar o final de semana! - falou Tícia, vestida de bruxa, olhando para a sacola de bolachas, doces e sanduíches que Denis carregava.

- E se a gente sentir fome? - rebateu Denis, com olheiras de zumbi.

- Como alguém pode sentir fome depois da janta? – Flávio estava surpreso, em sua roupa de esqueleto.

- É que eu sempre fico com fome quando eu tô nervoso.

- Então você sempre está nervoso! - riu Pedro, com dentes de vampiro.

- Calem a boca! - Falou Tícia, sem paciência. - Com comida ou sem comida, eu já estou indo!

E desceu confiante a trilha ao lado da ponte que levava ao rio. Os outros a seguiram, porém, perceberam que a trilha que beirava o rio até a nascente era estreita e cheia de obstáculos. Não tinha como seguirem de bicicleta e decidiram deixar suas bikes embaixo de uma velha árvore perto da ponte.

A trilha continuava rio acima, seguindo a forma sinuosa da correnteza. Pedras, cascalhos e arbustos dificultavam a caminhada, enquanto o crepúsculo, lentamente, trazia um tom sombrio ao lugar.

Conforme escurecia, um nevoeiro úmido começou a se formar pelo caminho. A garota de chapéu pontudo acendeu uma das lanternas e deu a outra para Pedro, ficando os dois à frente do grupo. Quanto mais subiam o rio, mais sinistro o lugar ficava, dando espaço às árvores tortuosas e barulhos estranhos.

Um pequeno animal negro surgiu da copa das árvores e deu um rasante na cabeça de Denis, que deixou o sanduíche cair no chão.

- Vocês viram aquilo?

Tícia riu com um uma gargalhada macabra, assustando os garotos por baixo da aba do grande chapéu:

- Foi só um morcego, relaxa!

O clima estava tenso, e os garotos seguiram adiante, crepitando o cascalho a cada passada que davam.

O ar ficou gelado. Na escuridão, o vapor saía de suas bocas enquanto respiravam. O barulho contínuo da água corrente se misturava ao balançar das folhas ao vento, numa música obscura e assustadora. Os troncos e galhos das árvores formavam sombras bizarras, como velhas criaturas guardiãs da floresta. De súbito, um som agudo ecoou pela mata.

- Ouviram isso? - Flávio batia os dentes de frio e de medo.

- Deve ser uma coruja! Vamos continuar. - Respondeu Tícia, sem paciência.

- Como você pode estar tão certa disso? É impossível não ficar com medo nessa floresta escura e amaldiçoada!

A garota sorriu com malícia, parecendo uma verdadeira bruxa. Isso assustou mais ainda os garotos.

- Viemos procurar o Tom e é isso o que vamos fazer! A história do velho do rio é lenda urbana, só pirralhos como vocês pra ficarem com medo.

- Fala isso porque ainda não viu aquela coisa pendurada, ali na frente! - apontou Flávio, com a mão tremendo em direção a uma forma humanoide amarrada no tronco de uma velha árvore.

De longe, parecia uma pessoa morta presa por uma corda, balançando de um lado ao outro. Os garotos se agarraram a Tícia, que empurrou os três para o lado e seguiu em frente para averiguar a situação.

Ela se aproximou do corpo e tocou o dedo sobre a roupa, apertando para sentir. Denis estava tão tenso que parou de mastigar e Pedro sentiu a garganta apertar.

Aquela cena macabra deixou todos chocados. O medo exalava dos poros dos garotos. Tícia deu a volta pelo corpo e os mirou com um olhar sombrio. Eles estavam aterrorizados.

De repente, ela começou a gargalhar. Os garotos ficaram apavorados, achando que estava ficando louca. Sem pudor, enfiou a mão através do corpo e removeu um chumaço de palha.

- É um espantalho! Hahahaha... tinham que ver a cara de vocês!

Pedro ficou sério. Instintivamente, tocou no estilingue que estava na cintura e apontou a lanterna para o rosto dela.

- Se essa coisa tá aqui é porque não querem que atravessemos a trilha!

- Espantalhos servem pra espantar bichos, não gente! - disse a garota animada, dando uma piscadinha.

- A gente devia voltar! - Denis estava quase inaudível, com a boca cheia de farelos de bolacha revirando pela boca seca.

- Então, volte você seu covarde. Volte pra casa pra atacar a dispensa!

- Deixe o Denis! - Pedro interveio. - Ele vai se ele quiser!

- Então vá, mas vai voltar pela trilha sozinho!

Denis arregalou os olhos e suplicou:

- Eu não vou voltar sozinho! Alguém tem que ir comigo!

Todos ficaram em silêncio e ninguém respondeu ao apelo do garoto.

- Já que ninguém vai... - continuou Tícia, em tom intimidador - ...então, vamos prosseguir! A cabana na nascente do rio está perto, quero ver o covarde que não vai ter coragem de chegar até lá!

E saiu correndo na frente, deixando os garotos comendo poeira.

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870 palavras

A CABANA DO RIOOnde histórias criam vida. Descubra agora