Capítulo 3 - A Cabana na Beira do Rio

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- Puta merda! Ela deixou a gente aqui! - Denis estava apavorado, principalmente, porque já havia comido todo o lanche que trouxera.

- Se acalma! - Pedro falou, levantando as mãos. - Não precisamos dela pra continuar! Temos ainda uma lanterna e eu trouxe o meu estilingue!

- Sim, e você é o Rambo que vai derrotar um exército de monstros com um punhado de pedras! – Flávio estava com mais medo da floresta do que de levar uma pedrada na cara.

- Vamos continuar! Ou Tícia vai ficar zombando da gente na escola pelo resto de nossas vidas!

Todos olharam apreensivos, mas concordaram com Pedro. Sofrer bullying na escola era pior do que ser levado pelo velho do saco ou servir de banquete pro velho do rio. Ele tinha razão.

- Vamos, eu vou na frente!

Os garotos seguiram a trilha, que se estreitava cada vez mais conforme se aproximava da nascente do rio. Mais acima de uma elevação, era possível ver uma pequena luz amarela.

- Deve ser Tícia! - disse Denis. - Ela deve estar nos esperando lá perto da velha cabana!

Mais alguns passos à frente e um barulho muito estranho pareceu vir adiante. Era um silvo agudo que lembrava uma gaita de boca.

- É o velho do rio! - gritou Denis, em desespero.

Os três garotos pararam e se amontoaram uns sobre os outros, sem saber o que fazer.

A luz se aproximou junto ao barulho da gaita, que subia e descia as escalas musicais, lentamente. Um vulto negro de capuz carregava um lampião de vela.

- Corre! Ele vai nos pegar!

Denis se virou para correr e tropeçou em Flávio, fazendo com que os dois caíssem e rolassem pelo chão. Levantaram-se logo em seguida e saíram de carreira de volta pela trilha, feito lebres desesperadas fugindo de uma raposa.

Pedro ficou no lugar, de olhos arregalados, até o vulto chegar à sua frente. Suas pernas tremiam, mas manteve-se firme. Uma mão feminina retirou o capuz e começou a gargalhar alto, quase histericamente:

- Hahahaha! Você viu como eles se borraram? - Tícia chorava de tanto rir. - Aqueles covardes acreditaram que eu era o velho do rio! Hahahaha!

Pedro ficou sério e continuou encarando a garota de frente.

- Você não devia ter feito isso.

- O quê? - ela parou de rir e fez uma cara de deboche.

- Você ouviu bem! Não devia ter feito isso!

- Isso o quê? Fazer aqueles dois perdedores se borrarem nas calças? Me poupe! Amanhã a escola inteira vai saber da coragem do leitão comedor de bolachas e seu fiel escudeiro cagão!

- Você não pode sacanear a gente! Não pode zombar de Tom, usando o sumiço dele pra nos enganar!

- O Tom já era! Ele deve ter sido devorado por um urso!

Pedro apertou o maxilar com força, rangendo os dentes.

- Você é uma bruxa!

Tícia riu maquiavelicamente e ficou séria. Ela foi para cima do garoto e o empurrou:

- Saia da minha frente, perdedor!

Num reflexo, Pedro pegou uma pelota do bolso com uma mão e o estilingue na outra. Rápido como uma flecha, ele puxou a pedra no elástico e soltou, acertando-lhe em cheio o meio da testa. Ela caiu tonta de costas no chão sobre as folhas secas da floresta. Um fio de sangue escorreu sobre seu rosto.

- Perdedora é você! - Resmungou o garoto, virando-se de costas e seguindo de volta pela trilha que costeava o rio até a ponte, onde estava a sua bicicleta.

A garota zombeteira estava meio zonza. Levantou-se na escuridão da floresta e viu tudo girar. Parecia que as árvores tinham rostos maus, esticando os seus braços para pegá-la. Começou a ficar com medo e, antes que retornasse à trilha, ouviu uma bela música vinda de longe.

Uma melodia soou de dentro da velha cabana, próxima à nascente do rio.

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