I -A Bruxa

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A elfa correu desesperada pelo bosque, flechas voavam em sua direção, alcançando árvores e pedras. Sua respiração era ofegante e rítmica, seus perseguidores, cruéis e rápidos.

Outra flecha cravou em seu ombro esquerdo, a dor não foi maior pois sua capa feita com peles de ursos absorveu parte do impacto, mas foi o bastante para desequilibra-la e fazê-la cair – não havia tempo para chorar – levantou-se e continuou a corrida.

A algumas dezenas de metros dois homens corriam, rindo e gritando, na expectativa de abater a presa, caçadores atrás de um animal, um troféu, um já era senhor, aproximadamente cinquenta anos, cabelos e barba grisalhos, usava uma meia armadura e além da besta portava uma espada curta, o outro, um jovem orc, aprendiz de guerreiro, também carregava uma besta, e uma corrente – ambos, membros fiéis da inquisição, a vítima, uma mulher acusada de bruxaria, foi vista curando uma pessoa e usando poderes do Diabo, resumindo – uma herege.

A perseguição durou cerca de meia hora, que para a elfa se passou como meia eternidade, subiram por uma estrada e depois desceram para dentro do matagal, os pés da elfa doíam, suas pernas estavam cortadas pelo mato e pelos espinheiros do caminho, o frio era tolerável apenas por que seu corpo estava em chamas, adrenalina e suor , era possível ouvir seu coração – então ela parou.

Alguns segundos depois seus dois carrascos chegaram ao local, um grande espaço aberto, areia cobria o chão, dando espaço a pequenas pedrinha trazidas pelo rio, eles se olharam e riram, seria muito mais fácil do que o imaginado. Uma mulher – linda, diga-se de passagem, roupas molhadas e rasgadas, a noite, cercada por dois homens, tão religiosos e piedosos quanto os demônios da Corrupção.

A elfa não tinha escapatória, ninguém conseguiria atravessar aquele rio.

E naquele momento eles até mesmo esqueceram o que ela era – uma bruxa, como diria o bispo de Lancerarr.

- Pra que matá-la ? ela pode ser nos útil. Disse o mais velho, olhos de vidro, coração acelerado, vontade de animal. O silêncio da noite entrando pelos ouvidos e silenciando a razão.

O orc apenas olhava inquieto, a mulher estava parada, cabisbaixa, sua respiração estava começando a normalizar – algo não estava certo.

O velho se aproximou. – olha minha querida, há formas de você sobreviver sabe... uma bruxa a mais , uma bruxa a menos, depende do que você está disposta a nos oferec... – as palavras não terminaram, o velho engasgou, água estava entrando em seus pulmões, ele se contorceu apertando sua garganta enquanto jorrava pelo seu nariz mais e mais água. Suas mãos tentavam abrir um buraco no pescoço, qualquer coisa que devolvesse o ar para dentro de si, olhou com olhos esbugalhados de quem estava prestes a morrer, sacou a espada e tentou cortar seu próprio pescoço, mas não houve sangue, apenas água .

A elfa sussurrava palavras ao rio e este a estava respondendo.

A areia tratou de abraçar o homem ainda vivo e levá-lo para dentro das correntezas.

Desespero.

O orc tentou fugir, mas estava com medo, pensou em atacar, mas estava com medo, pensou em implorar por sua vida, mas estava com medo. Água escorria por entre suas pernas e não era nenhuma bruxaria.

A elfa se virou encarando-lhe, suas feridas começavam a se curar, então deu um passo para trás e mais um, e mais um, até sumir nas águas frias do rio, foi levada pela correnteza.

Alivio.

A arma caiu de suas mãos, seu corpo grande também desmoronou na areia, pouco a pouco a adrenalina baixava, estava salvo.

Então , começou a sentir frio, muito frio, sua visão começou a se embaçar e seu raciocínio lento, cada vez mais lento. Ele a princípio havia pensado ter sobrevivido, agora tinha certeza – a bruxa o havia encantado também.

Oito dias depois os aldeões chegaram até a margem do rio, nenhum corpo foi encontrado, apenas os pertences do orc, flutuando sobre uma poça de água derretida.

A Guerra ArcanaWhere stories live. Discover now