SOBRE PÊLOS...

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Metade do dia já se passava. Lang e Feri corriam juntos, brincando entre árvores apesar da fina camada de neve que ainda se fazia sobre as folhas. O resto da alcateia descansava perto dali. Eles faziam isso com frequência, por mais inusitado que parecesse, quando não estavam caçando ou buscando formas de sobreviver.

Era impressionante como aquele alfa baixava sua guarda voluntariamente para aquela criatura desprovida de garras e pêlos...

Feri as vezes se recostava nas costas de Lang, sobre seu pêlo macio, sentindo segurança e aconchego que de fato apenas se sente com um familiar... Um hábito, para aquecer o frio, enquanto corriam.

Não demorou para que os filhotes da alcateia tentassem se juntar à eles. Sendo logo deixados para trás. Juntamente com os outros lobos adultos do mesmo grupo.

De repente Lang parava de correr abruptamente, e começava a olhar em volta. Sua audição era capaz de captar até mesmo o ruído das folhas caindo das árvores... Mas naquele momento não era apenas isto o que ele percebia...

-O que houve, Lang? Algum inimigo?

Lang começava a rosnar para uma das árvores, então Feri ergueu-se e olhava um tanto confusa enquanto via sair de trás da mesma uma certa loba cinzenta solitária... A mesma da noite passada...

Agora a loba cinzenta se aproximava deles e novamente a moça sentia as pernas tremerem levemente diante dela... Mas que diabos seria aquilo afinal? Feri sentia algo de estranho diante daquela fêmea! Será que seu irmão-lobo sentia algo parecido...?

Então mais uma vez ela rosnou de volta para Lang, mas desta vez não recuou... O cheirou e ele logo lhe retribuiu da mesma forma... Ambos ficaram assim alguns instantes... Em instantes o lobo alfa curvou-se para ela como da última vez...

Então a loba solitária se aproximou da moça... Feri olhava com desconfiança... Por que diabos Lang demonstrava submissão à ela...? E porque as pernas dela, a temida loba-humana, mesma não paravam de tremer...?

Contudo, se seu irmão lupino a respeitava tanto Feri também lhe deveria respeito... Logo caiu de joelhos...

A loba então cheirou sua face e logo passou a cheirar-lhe o pescoço, e logo o corpo inteiro... Poderia matá-la ali mesmo se quisesse, mas não parecia hostil...

...Enquanto uma certa paralisia a tomava, sem que ela fosse capaz de impedir A moça selvagem sentia vontade de tocar a loba, mas não conseguia erguer as mãos até seus pelôs... Contudo o que sentia não era medo, parecia ser outra coisa.

Sentia um calafrio enquanto o focinho dela passeava por sua pele... O coração acelerando... De onde ela viera?! ...E novamente o nariz da loba passeava por seu pescoço, e Feri temeu que ela lhe mordesse a jugular...

A moça não conseguia reagir e estranhava muito a si mesma por isto, e estranhou mais ainda quando fechou os olhos e continuou apenas sentindo o cheiro da loba por alguns minutos, sem saber se ela lhe mataria ou não... Por que estava se permitindo àquilo?

...E qual não foi a surpresa para a humana lupina quando repentinamente não mais sentia o odor daquela fêmea, e ao abrir os olhos ela havia desaparecido sem deixar rastro... Estando apenas Lang ainda ao seu lado...

-Você também a viu e a cheirou, não foi, Lang...?

Perguntava ele a seu irmão lobo, que sentava e recostava a cabeça em seu braço, pois Feri ainda se encontrava de joelhos. Queria ter certeza de que aquela loba cinzenta era de fato real. Em seguida ambos correram de volta e se juntaram à alcateia quilômetros depois...

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SOMBRA DE LOBAOnde histórias criam vida. Descubra agora