CAPÍTULO 02

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Dylan McNally

A semana passou tão rápido que nem percebi. A correria no hospital contribuiu para que isso acontecesse. Todos os dias a sala de emergência fica lotada com pacientes indo e vindo, constantemente casos graves chegam, com necessidade de cirurgia, ou quadros clínicos críticos surgem. É isso que acontece em cada plantão.

Devido à correria, cada momento disponível que tive foi usado para descansar, para dormir. No entanto, hoje, antes de seguir para casa, irei passar no orfanato para ver a Hayden. Tem dias que não a vejo e estou morrendo de saudades da minha garotinha.

Soube da existência do orfanato Sonho de Luz quando uma das crianças foi socorrida às pressas na emergência do Mercy. Fiquei preocupado com a paciente, uma menininha loira de apenas dois anos, pequena e indefesa, que crescia sem pais em um lar adotivo onde constantemente centenas de crianças transitam ao logo dos anos. Isso apertou meu coração.

Consegui descolar o endereço do orfanato com uma das enfermeiras e, após o plantão da manhã terminar, vi-me seguindo o endereço escrito no papel, que ficava a alguns quarteirões do hospital. Ao sair da minha picape, deparei-me com uma casa antiga, que mais parecia uma propriedade histórica do que um lar.

Atravessei a rua, apertei a campainha e aguardei que me atendessem.

— Posso ajudá-lo? — indagou uma senhora, encarando-me.

Ergui o canto da boca em um meio sorriso na tentativa de parecer amigável. Ela não devia se lembrar de mim, mas eu recordava que tinha sido ela a senhora que entrara com a menina na ambulância.

— Sou médico residente no hospital Mercy, fui o responsável pelo atendimento de uma das menininhas que mora neste orfanato. Na verdade, gostaria de saber se é possível eu vê-la novamente. Quero me certificar de que esteja bem.

Troquei o peso do corpo de um pé para o outro, inquieto.

A senhora sorriu.

— Estou começando a me lembrar de você. Desculpe a minha cabeça, ela anda lenta ultimamente devido à idade. Venha, entre, por favor — chamou, dando espaço para eu passar.

Acenei e a segui pela área aberta que tinha antes de chegar à casa. Deparei-me com algumas crianças e adolescentes pelo caminho. Elas olhavam para mim e seus rostos não continham expressões de alegria, como toda criança deveria ter, não tinham o brilho de esperança em seus olhos. Pensei: Pobres crianças. Imagino como deve ser difícil para elas crescerem em lares adotivos e orfanatos como este. Ser abandonado pelos pais é doloroso, e o trauma que as marca é para sempre. É lastimável.

Cresci com o carinho e amor dos meus pais e irmãos. Minha família é unida, não consigo imaginar a minha vida sem ela. Não me vejo sozinho como aquelas crianças, sem um exemplo a seguir, sem conhecer carinho e amor.

Atravessei um corredor até que a senhora, cujo nome eu ainda não sabia, parou em frente a uma porta com o desenho de uma boneca cor-de-rosa. O pequeno quarto abrangia três beliches, e, em uma delas, na cama debaixo, reconheci a pequena Hayden. Jamais me esqueceria do seu rosto angelical e cabelos loiros como os de um anjinho.

Essa menina mexeu comigo de uma forma que não consigo explicar, só sei que, quando pus meus olhos nela pela primeira vez, algo se desencadeou dentro do meu peito, um sentimento de proteção quase paternal. Não consegui evitar pensar nela.

Caminhei em direção a ela e me abaixei, ficando da sua altura. Ela arregalou os olhinhos azuis ao notar minha presença.

— Olá, Hayden — pronunciei baixinho. — Sou o doutor Dylan, lembra de mim? — Ela balançou a cabeça para cima e para baixo. Sorri. — Vim ver como você está. Tem sentido alguma dor?

Em Meu Coração - Série Os McNally Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora