É meu primeiro dia como agente de segurança penitenciária (ASP). Apesar de trabalhar no vídeo monitoramento, tenho uniforme, distintivo e uma teaser. Sempre imaginei as prisões como aquilo que eu assistia nas séries de TV. O problema é que existe um abismo enorme entre aquilo que aparece nos enlatados americanos e a realidade das prisões brasileiras. Os presos também não se parecem em nada com os atores americanos. Verdade seja dita, eles se comportam muito bem: me trataram com todo respeito. Enquanto eu me dirigia para o Aquário, pude perceber que alguns demoravam um tempo maior olhando minha bunda. Vou dar um desconto: acho que boa parte deles não vê uma mulher já faz tempo. Eu sei que sou uma mulher gostosa, a despeito do uniforme que não me valoriza nem um pouco. Minha rotina alternada de academia/pilates/crossfit modelou meu corpo. Meu namorado também é adepto de uma rotina insana de exercícios. Ele é obcecado por um corpo perfeito. Até na hora do sexo, às vezes, ele se preocupa mais com seu reflexo no espelho do motel do que com sua performance. Pois é. Eu, linda de bonita, gostosa pra caralho e mal-comida. Então, quando um preso olha minha bunda, eu nem ligo - segue o baile.
Na verdade, eu nem esperava conseguir a vaga. Uma das etapas do processo seletivo é uma entrevista com o diretor da prisão. Lá fui eu com pré-conceitos novamente. Esperava encontrar um "tiozinho": 40/50 anos, barriga de cerveja, careca e desagradável. Só acertei a careca.
O diretor - Fabrício, como ele insistiu para eu chamá-lo - estava em ótima forma. Quando ele me disse "pode sentar, Paula", quase gozei ali mesmo. Eu já li em vários lugares que os homens são visuais e as mulheres são auditivas. Agora que entendi o que essa merda significa. Fabrício é alto - 1,82m no mínimo - forte e tem um rosto másculo. Com todos estes atributos, foi sua voz - grave e ardente - que me desmontou.Ele foi polido durante toda entrevista. Fez as perguntas de praxe e, a cada resposta, fazia uma anotação. Às vezes, ele sorria enquanto escrevia. Informei o nome e o telefone dos meus familiares, mas me atrapalhei um pouco para responder sobre minha situação conjugal. "Solteira", respondo por fim. "Tem namorado?" Ele pergunta. "Não", respondo na maior cara de pau. Não posso afirmar que ele percebeu a minha mentira, mas ele insinua um sorriso sacana. Ou foi a minha imaginação. Nossa, o cara é muito gostoso." Mãos grandes e dedos compridos, além daquele rosto cinzelado, que exalava masculinidade.
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CHAVE DE CADEIA - O AMOR ATRÁS DAS GRADES
Mystery / ThrillerApós ser aprovada no vestibular, Paula enfrenta um dilema: como conseguir um emprego para pagar as mensalidades e os materiais sem sacrificar as horas de estudo? Seus problemas parecem ter chegado ao fim quando ela consegue uma vaga como operadora d...