No nível do mar

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Capítulo 3.

O ribombar de um trovão fez dezenas de alunos pularem, e Taehyung entre eles.

Com o chat de Hoseok aberto e os dedos pairando sobre o teclado, o estudante deixou o ar escapar dos pulmões em um suspiro verdadeiramente frustrado.

"Tae, aí está chovendo???? Aqui começou a chover (como eu te disse que começaria) e tá muito forte." [recebido às 21h40]

"Como você vai voltar para casa???" [recebido às 21h40]

"Tem dinheiro para o táxi, né????" [recebido às 21h41]

Taehyung nunca se odiou tanto como naquele dia, por deixar de ouvir o conselho do seu hyung e da mulher do tempo. Todos os jornais confirmaram a possibilidade de chuva com fortes trovoadas, e o universitário prontamente ignorou. "Vai ser só uma chuvinha, aposto que consigo pegar o ônibus de volta para casa."

Dois pequenos spoilers sobre sua situação atual:

1. Taehyung não conseguiu pegar o ônibus.

2. Taehyung não tinha dinheiro para o táxi.

"Eu acho que não vai passar tão cedo..." Uma caloura comentou com a amiga ao lado. "Acho melhor a gente ligar pra sua mãe nos buscar."

Taehyung também queria ligar para a mãe e quem sabe chorar na ligação, mas tinha certeza que a Sra. Kim gritaria no telefone sobre ele continuar sendo o mesmo garoto teimoso que dois anos atrás deixou Daegu para estudar em uma faculdade melhor, e em seguida ficaria verdadeiramente preocupada com o filho mais velho - que preferia manter a falsa fachada de que estava tudo sob controle, já que a mulher tinha outros problemas para se preocupar com.

Respirando fundo uma última vez, abriu a conversa com o Jung novamente, e enviou antes que se arrependesse:

"Chego em meia hora."

Se a enxurrada não me carregar antes, completou mentalmente antes de bloquear o celular. Era um modelo razoavelmente novo, que o loiro dividira em dolorosas prestações e precisou adicionar mais dois dias de trabalho na sorveteria para ter como pagá-las. Ele nunca imaginou que encontrar sua alma gêmea lhe traria tantos problemas, mas aqui ele estava com vários wons mais pobre, turnos de trabalho extras, menos tempo para estudar, prestes a encarar o início de uma tempestade a pé e o pior de tudo: sem expectativa alguma das coisas melhorarem.

Não que a culpa fosse de Jungkook, longe disso. A culpa era do destino, por não colocá-los para esbarrar em um starbucks, um derrubando café no outro e imediatamente se apaixonando, ou virando amigos. Uma camiseta suja definitivamente era melhor do que um celular estragado, porque você sempre teria outras para vestir.

O celular? Você precisaria pagar para ter outro, pegar mais turnos no trabalho, dedicar-se menos a faculdade e consequentemente perder um papel importante na peça do maldito Shakespeare para riquinho esnobe que não era um bom Laertes.

Taehyung sim era um bom Laertes. Ele empalaria Hamlet com uma espada envenenada com extrema destreza, tanta destreza que, quando abandonasse o palco ao fim do espetáculo, Hoseok provavelmente dirigiria seus olhos arregalados e impressionados para o mais novo, resmungando algo como "me lembre de ficar longe quando você estiver irritado, já que aparentemente você sabe empunhar uma espada."