Prólogo

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    Como sempre, fazia um frio de congelar as palavras de socorro de um homem. Sempre fazia frio na Muralha, e Lemo já havia se acostumado. Pensara que o Lorde Comandante acendesse uma grande fogueira no centro de Castelo Negro, com as árvores que estavam chegando perto demais da Muralha. Esqueça, camponês bobo, você nunca mais vai sentir o sol lhe aquecendo o pescoço e nem sua pele se bronzeando a luz do sol da Campina. Mas, nada custava sonhar.
    O Lorde Comandante havia mandado 70 homens para caçar gado para manter as refeições da Patrulha. Lemo não entendia por que iriam precisar de tanta comida, já que os tempos haviam se acalmado. Mas o que mais lhe estranhava era que apenas 21 homens haviam retornado, e os outros haviam desaparecido. Entre eles estava Halao Mo, o melhor arqueiro de Castelo Negro. Nada tenho a temer, eles voltarão. Eles voltarão.
    - Lemo, traga quatro barris de vinho  para o banquete, temos trabalho a fazer!
    - Por que Carnívoro não pode fazer isso? Ele é o homem mais forte daqui - Lemo estava cansado de carregar sacos de arroz a manhã toda.
    - Lemo, você não presta pra nada. Ben Carnívoro foi pra caça e não voltou.
    - Ah, não me julgue. Sabe que isso é trabalho pesado.
    Com as costas parecendo ter sido esfoladas, Lemo foi até a despensa e pegou dois barris de vinho envelhecido em madeira, proveniente das Terras Ocidentais, o melhor que poderiam conseguir.
    Após carregar todos os barris, Lemo decidiu rezar no represeiro próximo a Muralha, pedindo aos deuses que tivesse paz e que os perdidos voltassem. Ouviu o ranger alto das correntes levantando o portão, e então veio uma lufada de neve e ar gelado em seu corpo, que o desequilibrou e quase o derrubou. Então andou, e andou, e andou, mas parecia um mar de neve infinito. Então viu rastros de pegadas, pelo que pareciam eram mais de quarenta pessoas andando em conjunto. Não, não podem ser mortos. Eles foram derrotados. Começou a seguir as pegadas, imaginando o que teria no final. Pode ser que sejam nossos amigos perdidos. Então andou com mais pressa, tentando encontrar o fim das pegadas, e sentiu o tornozelo se contraindo. Oh, deuses. Pareciam dedos de ferro que estavam esmagando seu tornozelo, então olhou para baixo e viu o morto, ou parte dele. Tentou correr, inutilmente, se debatendo, então ouviu o estralo. Um raio de dor atravessou seu corpo. O morto quebrara seu tornozelo. A última coisa que viu foi um rosto conhecido... o rosto do Lorde Comandante. Sua boca se escancarou e sua saliva congelou em seus lábios. Ao lado dele, uma mulher, ou parecia uma mulher, de olhos azuis e de aspecto esquelético. Então os dedos do Lorde Comandante se estenderam até ele, e sua visão começou a escurecer, e a única coisa que conseguiu ver foram os patrulheiros perdidos, com um brilho azul no antigo lugar dos olhos. Então, suas preces foram atendidas. Eles voltaram, mas não do jeito que ele pensava.

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⏰ Última atualização: Oct 05, 2018 ⏰

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Além da Muralha: O Conto do Corvo de Gelo - Max R. WoodOnde histórias criam vida. Descubra agora