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Senhor Demagogias, um shinigami não listado no Ranking Mundial de Shinigamis. Um deus da morte sem registro, desconhecido até para os maiores especialistas e também uma incógnita para a Mythpool. Era como alguém sem certidão de nascimento, RG, ou qualquer outro tipo de documento com foto. Sinceramente, um indigente. Um bastardo do mundo dos mortos.

Esse mesmo bastardo foi a chave para o "melhor final possível" dos eventos que ocorreram nas férias de inverno, no mesmo ano que acabei perdendo a visão de um olho. Quatro meses e três semanas depois, para ser mais preciso.

Quatro meses de paz e sossego... e talvez um pouco de culpa. Mas uma culpa passiva e sossegada.

A questão é que o Senhor Demagogias não foi nem um "jogador titular" no decorrer desses eventos. Ele foi como o cara que entra no final da prorrogação, já pensando na disputa de pênaltis. Ou até mesmo como um goleiro especialista em pegar pênaltis. Por ele ser um deus da morte, posso dizer que ele foi o Deus Ex Machina do que o destino nos incumbiu.

Bem, se iniciou com uma frase comum e cotidiana para meus ouvidos...

— Eu, Hideki Takashi, aceito com prazer esse serviço!

Tomado pela emoção de uma colegial saudável estar lhe pedindo para fazer algo, meu mestre respondeu batendo a folha de preços em sua mesa, e a deslizando para frente, para que a garota pudesse avaliar.

Os olhos dela correram pelas linhas com destreza.

— Como você é mais nova, pode pagar os valores pela metade — disse meu mestre, enquanto verificava a expressão da jovem em sua leitura.

— É? — Ela ergueu o olhar. — Sério isso?

— Sim, sim, sim. Claro, também terá de deixar seu número de celular conosco, para o caso de precisar de contato rápido, entende?

— Ah — ela sorriu. — Você é muito gentil, senhor Takashi.

— Ora, nem tanto, nem tanto. — Ele penteou o canto do cabelo ao dizer isso.

Não que eu desconfiasse de meu mestre, mas, por que algo me dizia que ter o número do celular da cliente não era realmente necessário? Hmm. Realmente é um mistério da ACAP, a Agência de Combate Anti-Psicopompos.

— Agora — continuou meu mestre —, fale mais sobre esse shinigami.

A garota assentiu.

— Ele apareceu no meu apartamento à procura de uma joia. Ele é forte e mal-encarado, igual aquele cara do Exterminador do Futuro...

— É... — eu a interrompi. — Por acaso esse shinigami era roxo e tinha uma manopla dourada em uma das mãos?

— Manopla...? — A garota apontou seu olhar perdido para mim. — Bem, não, não. Ele era branco, muito branco. Mas seus antebraços e canelas eram negros como carvão. E ele estava nu, só que... — ela abriu e fechou dois dedos, imitando uma tesoura.

Uma tesoura? O que aquilo queria dizer...? Ah... entendi.

— Deve ser difícil para ele — comentei.

— Imagino que sim — disse ela.

— Que seja — falou meu mestre. — É um shinigami, e meu aluno, Daigo, dará um fim nele. Claro, considerando que você escolheu o pacote que lhe dá maior segurança, onde você fica aqui comigo, tranquila e protegida, durante toda noite.

— Realmente, é um pacote muito... espera, o quê?! — Enfim, me dei conta. Como meu mestre pôde ser tão sujo a ponto de me mandar sozinho em uma missão. Não fosse sua generosidade em abrigar a garota, eu teria ficado mais bravo.

Yuna Nate: NeroOnde histórias criam vida. Descubra agora