Esaú e Jacó, de Machado de Assis
Esaú e Jacó é a penúltima obra de Machado de Assis, uma obra-prima de realismo lírico, com as tintas descritivas da própria vida da cidade, temperadas pela ousadia da construção do foco narrativo.
Enquanto as outras obras do autor têm um maquinário evidente, essa, por sua vez, exige uma apuração mais detalhada que, se bem executada, revela um Machado no auge do domínio de sua escrita. Autor atento aos acontecimentos e ao ser humano, demonstra em Esaú e Jacó sua qualidade de historiador ao ressaltar, a partir de dois irmãos, a disputa política entre monarquistas e republicanos: Paulo era republicano e Pedro, monarquista. Em sua obra, a história é narrada, privilegiando-se tanto os aspectos macros quanto aqueles que dizem respeito à cotidianidade da cultura.
O livro conta a história de dois irmãos gêmeos, Pedro e Paulo, que brigam desde o ventre materno. Unidos pelo amor à mãe e rivais pelo coração da jovem Flora, Pedro (de temperamento mais cauteloso, estudante de Direito) e Paulo (mais arrojado, estudante de Medicina) se põem em campos opostos inclusive na política. A simetria absoluta dos gêmeos e a contraposição única de seus temperamentos e opiniões são os elementos que constroem a narrativa.
O título é extraído da Bíblia, remetendo-nos ao Gênesis, à história de Rebeca, que privilegia o filho Jacó, em detrimento do outro filho, Esaú, fazendo-os inimigos irreconciliáveis. A inimizade dos gêmeos Pedro e Paulo, do romance de Machado, não tem causa explícita, daí a denominação que Machado inicialmente imaginou para o romance Ab ovo (desde o ovo).
Enredo
É o romance da ambigüidade, narrado em terceira pessoa, pelo Conselheiro Aires. Pedro e Paulo seriam "os dois lados da verdade".
À medida que vão crescendo, os irmãos começam a definir seus temperamentos diversos: são rivais em tudo. Paulo é impulsivo, arrebatado, Pedro é dissimulado e conservador, o que vem a ser motivo de brigas entre os dois. Já adultos, a causa principal de suas divergências passa a ser de ordem política: Paulo é republicano e Pedro, monarquista. Estamos em plena época da Proclamação da República, quando decorre a ação do romance.
Até em seus amores, os gêmeos são competitivos. Flora, a moça de quem ambos gostam, se entretém com um e outro, sem se decidir por nenhum dos dois: é retraída, modesta, e seu temperamento avesso a festas e alegrias levou o Conselheiro Aires a dizer que ela era "inexplicável". O conselheiro é mais um grande personagem da galeria machadiana, que reaparecerá como memorialista no próximo e último romance do autor: velho diplomata aposentado, de hábitos discretos e gosto requintado, amante de citações eruditas, muitas vezes parece exprimir o pensamento do próprio romancista.
As divergências entre os irmãos persistem, muito embora, com a morte de Flora, tenham jurado junto a seu túmulo uma reconciliação perpétua. Continuam a se desentender, agora em plena tribuna, depois que ambos se elegeram deputados, e só se reconciliam ao fim do livro, com novo juramento de amizade eterna, este feito junto ao leito da mãe agonizante.
No texto a seguir, transcrito do capítulo XVIII de Esaú e Jacó, um retrato de como vieram crescendo os dois gêmeos.
Obedeciam aos pais sem grande esforço, posto fossem teimosos. Nem mentiam mais que outros meninos da cidade. Ao cabo, a mentira é alguma vez meia virtude. Assim é que, quando eles disseram não ter visto furtar um relógio da mãe, presente do pai, quando eram noivos, mentiram conscientemente, porque a criada que o tirou foi apanhada por eles em plena ação de furto. Mas era tão amiga deles! -e com tais lágrimas lhes pediu que não dissessem a ninguém, que os gêmeos negaram absolutamente ter visto nada. Contavam sete anos. Aos nove, quando já a moça ia longe, é que descobriram, não sei a que propósito, o caso escondido. A mãe quis saber por que é que eles calaram outrora; não souberam explicar-se, mas é claro que o silêncio de 1878 foi obra da afeição e da piedade, e daí a meia virtude, porque é alguma cousa pagar amor com amor Quanto àrevela ção de 1880 só se pode explicar pela distância do tempo. Já não estava presente a boa Miquelina; talvez já estivesse morta. Demais, veio tão naturalmente a referência...
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Literatura Para O Enem
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