Capítulo 1 - Amo-te Izuku

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Foi há dois mil anos que os nossos olhos se encontraram pela primeira vez, nesse momento uma sensação, que nunca antes tinha sentido, percorreu-me o corpo, foi diferente de qualquer outra, inexplicável, única e inesquecível, mas estávamos demasiado nervosos e sem noção do verdadeiro significado disso e por essa razão, no inicio, não confessámos nada disto um ao outro.

Desde desse momento começamos a aproximar-nos mais, conhecer-nos melhor, e acabámos por ficar amigos, e inevitavelmente apaixonámos-nos um pelo outro. Quando a primeira declaração de amor foi feita acabamos por confessar que sentimos algo diferente quando nos conhecemos, e foi algo gratificante saber que ambos nos tínhamos sentido da mesma forma, mesmo sem sabermos a razão para tal.

Nessa vida aproveitámos ao máximo, partilhámos todos os segredos um com o outro, momento feliz e tristes, a cada momento juntos tínhamos mais a certeza que o nosso lugar era ao lado um do outro, mesmo que fosse difícil, já que como filho do rei não poderia ter um relacionamento com um soldado, para além do facto de sermos ambos homens, ninguém nos iria aceitar, pensei que naquela batalha seria a última vez que teria a oportunidade de te ver, mas confesso que fiquei feliz por morrermos juntos, pois eu não suportaria viver sem ti.

Mas estava enganado quando pensei que não fossemos estar juntos novamente, pois eu estava vivo, de uma maneira diferente, mas vivo. O corpo e o nome eram os mesmos, mas estava numa época diferente, já se tinham passado alguns anos desde da batalha na qual morremos, e eu ainda criança lembrava-me de tudo o que tínhamos vivido, percebi o que me tinha acontecido, eu tinha reencarnado, mas diferente do que muitos pensavam eu ainda tinha as memórias da minha vida passada, não sabia a razão mas naquele momento só havia uma pergunta na minha cabeça, que era o mais importante para mim, onde estavas tu?

Ganhei esperança inconscientemente, esperança de te encontrar e poder estar contigo novamente, esperança de te poder continuar a amar e de podermos partilhar a nossa vida um com o outro.

Mas as coisas não foram tão fáceis como eu queria, pois quando te encontrei, já em adulto, não eras humano, tinhas reencarnado assim como eu, mas no corpo de um coelho, reconheci-te assim que te vi, não é como se houvessem muitos coelhos com pelagem verde e olhos da mesma cor, senti novamente aquela sensação quando te vi pela primeira vez e então percebi, as nossas almas estão conectadas, interligadas entre si e por tal, estávamos destinados a encontrarmos-nos.

Perguntava-me se te lembravas da tua vida passada, assim como eu, e se te lembravas de mim, mas nunca pude saber, já que não tínhamos meio de nos comunicarmos, apenas demonstravas afeto como um animal normal, mas apenas isso já me deixava feliz.

Consegui ficar contigo, mesmo que muitos te quisessem matar por seres diferente, mas eu protegi-te, não iria deixar que morresses novamente pelas mãos de pessoas de mente fechada. No entanto, o tempo parecia não ser nosso aliado, pois o tempo de vida de um coelho é diferente de o de uma pessoa, pelo que tive de te ver morrer nos meus braços, chorei pela tua morte, mas agradeci por teres conseguido viver uma vida pacífica, e por te poder ter tido ao meu lado novamente.

Nessa vida acabei por morrer anos depois da nossa segunda despedida, tinha sido infetado por uma doença sem cura, e quando fechei os olhos novamente perguntei-me se teria a sorte de te ver novamente.

E parecia que o destino estava do meu lado, pois quando voltei a ter noção do ambiente à minha volta, lá estava eu, vivo novamente e com as minhas memórias, como se tivesse apenas acordado de um sono profundo.

Mas desta vez, eu não era humano, eu era um gato, um gato de rua com uma pelagem branca e vermelha, perguntei-me se nesta vida não teria o prazer de te ver, de estar contigo, pois estava a sentir a minha vida acabar, não tinha o que comer ou beber, não tinha onde me aquecer do frio, e tinha sido atacado por outros animais, estava prestes a desistir na verdade, mas foi ai que umas mãos quentes me tocaram e ergueram, olhei para o meu salvador, e só tive vontade de chorar, eras tu, desta vez como humano, e tu reconheceste-me, pois abraçaste-me junto ao teu peito enquanto chamavas o meu nome, fiquei tão feliz, pude estar contigo novamente.

Tu levaste-me para tua casa, já eras um adulto responsável pelo que moravas sozinho, deste-me comida e água, deste-me banho e cuidas-te das minhas feridas, e enquanto me fazias carinho entre as orelhas perguntavas se me lembrava de ti, eu queria responder, dizer que me lembrava de tudo, mas apenas um miar saiu, e tu sorriste para mim, dizendo que quando foste um coelho te lembravas e desejavas encontrar-me sempre que as tuas memórias regressavam.

A nossa vida foi boa, tu cuidavas de mim e eu fazia-te companhia, falavas comigo como se eu fosse uma pessoa e eu tentava ajudar-te no que podia, como nos dias em que o despertador não te acordava e eu tinha de te lamber a face para abrires os olhos e sorrires para mim.

Mas um dia eu estava muito cansado, não te consegui acordar, pois não tinha forças para me conseguir mover, percebi a sensação que se começava a tornar até habitual, estava a morrer novamente, ouvi a tua voz chamar-me e água cair-me na cabeça, abri os olhos com as minhas últimas forças e vi que choravas, fechei os olhos e desejei encontrar-te novamente, mesmo que não fossemos os dois humanos, só por poder estar contigo eu já era feliz e tinha as minhas vidas completas.

Não sei como morreste nessa vida, mas na seguinte quando tinha as minhas memórias já te tinha encontrado, desta vez estávamos os dois no mesmo local, mesmo que em alas diferentes, a nossa casa era um jardim zoológico, eu era um coala com uma pelagem estranha novamente, branca de um lado e vermelha do outro, e tu eras uma ovelha com a lã verde, éramos uma das duplas mais conhecidas daquele local, pois sempre que conseguia ia ter contigo e ficava o dia todo ao teu lado.

Novamente o tempo terminou para nós, e tu tiveste de partir, deixando-me para trás, sozinho neste lugar, que sem ti, já não tinha a mesma cor, o mesmo sentido, fiquei simplesmente a pensar na altura em que o meu momento chegasse e eu partisse novamente.

Quando dava por mim imaginava como seria a nossa próxima vida, teríamos finalmente a oportunidade de nos encontrarmos como humanos e podermos viver felizes? Será que nos iríamos voltar a encontrar como animais? Poderíamos até mesmo reencarnar e os nossos caminhos nem se cruzarem, para mim, essa era a pior opção, pois mesmo como animais, eu lembrava-me de ti, e poder ficar ao ter lado fazia-me feliz, era como uma nova oportunidade para estar contigo e criar novos momentos, estar com o ser que amo, o mais importante para mim, vezes e vezes sem conta.

E com essas reencarnações tinham-se passado os dois mil anos, conheci-te como tantas criaturas, vivi contigo em situações tão diferentes, e tu conseguias sempre surpreender-me, fosses o que fosses só me conseguias fazer sorrir.

Infelizmente só houve uma vez mais que nos encontramos como pessoas, numa guerra, em lados opostos, o meu coração para cada vez que me lembro do teu sorriso ao me veres e depois seres atingido por um dos meus companheiros, eu corri na tua direção, e fui morto por um dos teus, desta vez, nem tive a oportunidade de falar contigo, de estar contigo ou de te tocar, não pude demonstrar o meu amor por ti, foi sem dúvida a pior reencarnação.

Agora estava no meu quarto a acabar de me arranjar, nesta vida as pessoas tinham peculiaridades, eu herdei o gelo da minha mãe e o fogo do meu pai, estava pronto para o meu primeiro dia na academia de heróis U.A, mas apesar de estar feliz por ir realizar um dos meus sonhos desta vida e poder ajudar pessoas, só conseguia pensar em ti, onde estarias tu? Como estarias tu? O que serias tu? Será que te iria encontrar?

Mas todas essas dúvidas desapareceram quando entraste pela porta da turma 1-A, eu queria chorar, estávamos finalmente reunidos como humanos, e sem ser numa situação à beira da morte, eu estava muito feliz, mas agora que o momento tinha chegado eu não sabia como reagir, mas quando tu olhaste para mim, tudo fez sentido.

Os teus olhos encheram-se de lágrimas e sorriste, no início parecia que não te querias aproximar, talvez por eu não ter mostrado nenhuma reação pensaste que não me lembrava, mas quando sorriste eu só consegui sorrir de volta e abrir os braços, tu logo entendeste que eu me lembrava, eu lembrava-me de tudo, sobre ti e sobre todas as nossas vidas passadas, então vieste abraçar-me, um abraço pelo qual há muito aguardava, eu logo correspondi e disse as palavras que sempre que possível te dizia, nesta vida e em todas as seguintes iria continuar a dizer, as palavras para a minha outra metade.

– Amo-te Izuku.

My Other HalfOnde histórias criam vida. Descubra agora