Capítulo 2 - Amo-te Shouto

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Desde que nasci tive diversas memórias na minha cabeça, memórias um pouco confusas de diversos acontecimentos, em algumas delas eu era humano, noutras animais, cheguei até a ter memórias de uma planta, mas era demasiado novo para as compreender.

Havia apenas uma coisas em comum em todas essas lembranças que insistiam em aparecer na minha mente, um ser chamado Todoroki Shouto, ele era facilmente identificado, não só pela coloração diferente dos seus cabelos, quando ele era humano, e não só pela pelagem branca e vermelha que ele tinha quando era um animal, mas pelo sentimento que eu sentia sempre que o via, um sentimento quente e confortável, era algo inexplicável que ultrapassava qualquer explicação lógica, era algo que vinha de dentro, algo que vinha do coração.

Depois de crescer mais um pouco compreendi o que essas memórias significavam e de onde vinham, eram de vidas passadas, das minhas reencarnações anteriores, e logo compreendi que o Todoroki Shouto que aparecia em todas elas, ou quando não aparecia era quem eu mais queria ver, era o ser mais importante para mim, era a minha outra metade, a minha alma gémea.

No início foi um pouco difícil saber que experiências tinha vivido nesta vida e que experiências tinham sido de vidas anteriores, mas com o tempo consegui distingui-las e identificar o que tinha acontecido e quando.

Agora nesta vida, numa época em que a grande maioria das pessoas possuíam peculiaridades, eu tive azar e nasci sem nenhuma, nesta vida os heróis fascinaram-me e mesmo sem peculiaridade sonhava em tornar-me um, poder salvar pessoas, ajudá-las e guiá-las quando elas não soubessem o que fazer, eu tinha muita experiência para partilhar, pelo que tornar-me um herói tornou-se no meu segundo maior sonho.

O primeiro era encontrar o Shouto novamente, depois de tantas experiências ao longo de dois mil anos eu já esperava encontrá-lo nas mais diversas formas, estava pronto para o que fosse, desde que pudesse ficar ao seu lado.

Apesar de sempre que o encontrava sentisse aquela sensação estranha e sem explicação, eu apaixonava-me por ele como se fosse sempre a primeira vez, os seus olhos brilhantes e expressivos, os seus sorrisos sinceros e gentis, o seu toque quente e carinhoso, as suas palavras bondosas e doces, as suas atitudes, o seu comportamento, o seu modo de agir e pensar, tudo nele me fascinava, como se ele fosse um íman que me atraia, e eu, completamente entregue a esta sensação deixava-me ir e acabava por me apaixonar e amá-lo novamente.

Passaram 15 anos, e nada de o encontrar, eu olhava com atenção para tudo, para as pessoas, para os animais, para as plantas, sempre com a esperança de olhar e poder encontrar-lo, seria até fácil identificá-lo, ele é inconfundível, simplesmente único com todas as suas características tão especiais.

Foi então que encontrei outra pessoa que reconhecia do passado, já me tinha encontrado com ela algumas vezes, mas diferente de mim e do Shouto, essa pessoa não possuía lembranças de nada pelo que já tinha passado, Toshinori Yagi, nesta vida conhecido como herói número um e símbolo da paz, All Might.

Ele encontrou-me e salvou-me, fiquei muito feliz e aliviado, pensei que não iria ver o Shouto nesta vida, e esse era, sem dúvida, o meu maior medo. Depois disso o All Might tornou-me seu sucessor, agora tinha em minhas mãos um poder que tinha passado de geração em geração, sentia como se aquele poder fosse parecido comigo e com o Shouto, ele seguia em frente, passava de vida em vida e isso tornava-o mais forte.

Graças a esses acontecimentos consegui entrar numa prestigiada academia de heróis, para além de estar cada vez mais perto de um dos meus sonhos, pensava que se fosse famoso e falado, o Shouto talvez me conseguisses encontrar, talvez isso fosse facilitar as coisas para nós podermos estar juntos.

Pois eu acreditava que o Shouto, assim como eu, queria que estivéssemos juntos, que se lembrava de mim, e que me queria reencontrar. Talvez se alguém ouvisse a nossa história provavelmente não acreditasse, ou se o fizesse talvez nos questionasse, porque razão continuávamos a querer encontrar-nos um ao outro? As outras vidas não tinham sido suficientes? As respostas eram simples, porém complexas, provavelmente só pessoas com sentimentos parecidos aos nossos compreendessem, nós precisávamos de estar juntos, nós queríamos estar juntos, pois éramos a felicidade um do outro.

Assim que entrei na sala da turma 1-A algumas pessoas do exame vieram falar comigo, assim como All Might, eu já as conhecia, mas não poderia dizer-lhes isso, pelo menos não agora, que para eles ainda sou um completo estranho.

Mas foi aí, ao passar os olhos por todas as pessoas presentes na sala, que aquela sensação maravilhosa, inexplicável e nostálgica me atingiu novamente, o Shouto estava aqui, à minha frente uma vez mais, o meu coração acelerou de maneira descontrolada, todos os nossos momentos juntos de todas as nossas vidas passadas apareceram na minha mente como um filme, não contive as lágrimas, éramos humanos, e tínhamos-nos reencontrado numa altura em que poderíamos estar juntos.

No início fiquei com medo que ele não se lembrasse de mim, estava com uma expressão séria que pensei na possibilidade de não ter as suas memórias, mas sorri de qualquer das formas, pois estava feliz por poder vê-lo, não lhe ia dizer nada, iria aproximar-me dele como um desconhecido e tentar conquistá-lo, talvez um dia também se lembrasse, mas foi aí que que o Shouto mudou os meus pensamentos uma vez mais.

Ele sorriu para mim e abriu os braços, eu não precisava de mais nada, eu percebi ele se lembrava, corri na sua direção e abracei-o, um abraço de humano para humano, que lhe desejei dar pelos dois mil anos em que reencarnamos, e quando fui correspondido uma felicidade imensa e sem explicação preencheu-me o coração, pensei que não poderia melhorar, mas ele declarou o que sentia por mim, com a sua voz doce que eu tanto amava, eu abracei-o mais forte, com medo de que se largasse o pudesse perder.

Eu não sabia a razão de reencarnarmos e de termos as memórias das nossas vidas passadas, termos as nossas existências ligadas durante tanto tempo com os nossos destinos interligados, seria uma maldição ou uma bênção? Seria algo que nos fazia sofrer por teremos de enfrentar a morte da pessoa amada tantas vezes ou algo que nos trazia a verdadeira felicidade por nos podermos reencontrar? Seria apenas uma pura e doce coincidência ou um cruel e maldoso jogo do destino?

Mesmo que seja algo mau, difícil ou doloroso, não importa quantas vezes morra ou o visse morrer, eu vou sempre querer vê-lo novamente e ter a oportunidade de apaixonar-me por ele uma e outra vez mais, porque eu...

– Amo-te Shouto.

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