First eye contact

5 2 0
                                    

Evie

Minha serena e monótona vida estava prosseguindo, mesmo que aos poucos, não vejo a hora de sair dessa escola, não que eu a odeie nem nada, é só que, não se encaixa em mim essa prisão onde eu preciso utilizar uniforme, seguir uma lista de burocracias e não expressar minha criatividade na moda, não que eu tenha muita mas, como irei descobrir se nem mesmo posso testá-la no meu local de convivio maior?

Ao som do sinal para o intervalo do lanche, enquanto vários alunos se encontravam em motéis ou sei lá o que, eu sempre, não diferente do dia de hoje, caminhava até a pracinha, próxima a escola.

O sol se fazia extremamente presente, mesmo às 9:05 da manhã, o sol do rio de janeiro era incomparávelmente quente e muito presente na vida de cariocas.

Estou aqui a tantos anos que nem me surpreendo mais com a falta de neve, antes me xingava até o limite por ter escolhido o Brasil para intercâmbio.

Não sou daqui, sou de Seoul, Coréia do sul, tenho a pele levemente bronzeada pelo sol escaldante do Brasil, meus olhos puxados, nariz fino e covinhas.

Meu sorriso, diziam que ele era peculiar, até pra mim, diziam que ele se encaixava perfeitamente em um quadrado/retângulo.

Sentei-me em um banco e comecei a desenhar a paisagem que já era natural aos meus olhos.

Comecei a observar as famílias que se divertiam ali, mesmo em uma quarta-feira de manhã os cariocas não perdiam tempo, sempre que adquiriam uma brecha, seja do trabalho, escola, faculdade, sempre aproveitavam com um belo avermelhado em suas bochechas.

Na Coréia, que eu me lembre, eu e minha omma íamos aos finais de semana, passar um tempo com minha avó, sinto saudades de minha familia mas,nada que uma viagem não possa amenizar.

Passei a comer um sorvete que havia comprado de um vendedor ambulante, aqui, temos muitos desses, vagando pelos cantos da cidade, em busca de algum dinheiro para sustento.

Aos poucos fui finalizando os detalhes da praça, esfumando algumas áreas com o lápis, retocando alguns brinquedos, apenas dando os toques finais de minha obra.

Desde de criança, meu appa, me levava até seu estúdio, onde o mesmo desenvolvia os personagens de sua própria história, ele me contava que quando ele acabasse, ele iria querer que eu revisasse seus esboços e o ajudasse a passar os desenhos para o computador do mais velho. É uma grande pena o tempo não ter deixado meu pai finalizar seu trabalho artesanal.

Lembro que chorei muito ao saber que meu pai havia sido agredido, em um beco desconhecido em seoul.

Quando criança, me pegava pensando coisas como:

"Será que a cidade não está segura?"

Ou

"Por que justo com meu artista favorito? Meu herói?"

Todas as noites ouvia minha mãe lamentar pela perda do marido, o mais incrível de minha mãe é que, ela não deixava de esbanjar um lindo sorriso convidativo no amanhecer dos dias, mesmo que no dia anterior ela tivesse chorado um rio.

Depois de tantas histórias sobre os pais que ignoravam seus filhos, ou lhes batiam, ou abusavam, comecei a valorizar ainda mais minha família.

Avisto Emanuel, perto da grade da escola, com o telefone em mãos.

Sinceramente, desde que cheguei ao Brasil, aprendi da pior forma que portar seu telefone, seja nas ruas, ou até mesmo em estabelecer fechados, não era uma boa ideia.

Ao chegar a seu lado, logo questiono:

-Manuel, o que está fazendo aqui?

-Nada evie, só derretendo mesmo! Como você consegue andar de casaco? Uma hora dessas, com um sol de rachar desses?

O olharOnde histórias criam vida. Descubra agora