Quarta feira, 27 de novembro de 2017, calor, céu azul, acordei. Mais um dia lindo para observar do alto da minha cobertura na Avenida Ibirapuera, com uma vista particularmente encantadora.
Resolvi sair da cama por volta do meio dia, abri o celular e já haviam 13 mensagens da Thalia, a relações públicas da casa na qual eu era sócio. A lista dela era a mais cheia, e ela tinha uma fama de atrair 90% do público mais rico da casa, e 99% do público mais bonito. Li por cima as mensagens que ela havia me mandado, uma delas era sobre ela estar correndo no parque, e pensei no real motivo dela me mandar aquilo, sendo que eu nunca me propus a responder ou ir junto. Quando respondi, fui bem direto ao ponto:
- QUARTA FEIRA THATAAAA! Nosso melhor dia! Vamos nos esforçar pra vender os camarotes hein?! Quero mais um SOULD OUT!
Como uma bela viciada na tela do iPhone, ela me respondeu em menos de um minuto:
- O camarote mais caro, já vendi. O que eu mais estou preocupada mesmo é com "quebradeira", que possa atrapalhar o evento de amanhã...
No dia seguinte teremos um evento fechado, confraternização do melhor escritório de advocacia do estado de São Paulo. Oitocentos funcionários, entre eles, seis dos maiores advogados do país, segundo a Forbes. A exigência ia ser grande, afinal, eles contrataram por fora uma atração tão cara, que quando nós contratamos normalmente, dobramos o valor das entradas da casa, e não liberamos V.I.P. nem para as mulheres.
- Pensei em mandar suspender o bar dos camarotes as 04h45, e encerrar o camarote estourando 05h15, assim as 06h00 a casa está vazia, o que você acha?
Ela digitou e apagou algumas vezes, e mandou uma boa ideia:
- Como é quarta, a gente pode pedir para o Thiago que vai cantar hoje, falar que vai encerrar mais cedo para a galera não aparecer com cara de morta no trabalho amanhã, e merecer as participações nos lucros.
Concordei com um "Ok" e umas figurinhas entusiasmadas. Eu sabia que o resto ela faria sozinha. Me peguei rindo da solução dela algumas vezes enquanto comia uma tapioca, afinal, eu era sócio da rede mais cara de entretenimento do país, e tínhamos casa fixa em São Paulo, Goiânia e Brasília. Como eu era o único sócio de São Paulo, a unidade da capital ficava na minha total responsabilidade, pelo menos a faculdade de administração servia para alguma coisa.
Aquela quarta rotineira passou rápido, treinei e dormi a maior parte do dia. Fiz esquenta pré-trabalho no clube de pôquer, e levei alguns amigos comigo dizendo que o sertanejo estaria bom (por mais que não seja um som agradável aos meus ouvidos). Bebi mais do que eu deveria, visto que a quinta feira seria um dia cheio, mas confesso que me diverti muito.
Adorava ver os meus amigos se divertindo em meio à tantas mulheres bonitas que frequentavam a minha boate. Porém, sempre ficava chateado por não encontrar homem nenhum com interesse em mim. Mas mesmo que meu trabalho parecesse tranquilo e totalmente divertido, consumia meu tempo de uma forma que não podia me dar ao luxo de conhecer alguém. Para ser sincero, isso estava totalmente fora dos planos.
Pensei em entrar em um dos meus aplicativos de paquera, e conseguir uma companhia para almoçar e ir embora de madrugada, mas com um evento rolando na minha casa noturna, para um cliente de tamanha proporção, eu pensei e resolvi acompanhar tudo de perto.
Ao chegar na casa, vi o pessoal do meu Staff enrolado com um toten, que nunca havia visto coisa parecida na vida. Deixei meu carro com o manobrista e desci pra ver do que se tratava.
- Mauro, Bruno, Jogê, o que está acontecendo?
- Cara, isso aqui é um aparelho que reconhece um carimbo na mão do povo. Eles vão ter a mão carimbada lá no escritório, e essa luz negra vai enxergar o carimbo que permanece na pele por 24 horas.
Olhei para a máquina, e não via nada de errado com ela. Fiquei realmente confuso e tentando entender o porquê de tamanha dificuldade. Olhei mais um pouco, e criei coragem de perguntar:
- Tá! Mas e aí?
Jogê me encarou com uma expressão cansada, e perguntou baixinho:
- Já deu uma olhada na previsão do tempo hoje, Fred?
Peguei o celular e entendi perfeitamente o que estava acontecendo! Ia cair o mundo exatamente no horário do início da festa. Pensei um pouco, liguei para alguns contatos que eu tinha, e com sorte, resolvi a situação.
- Dispensem este toten! Eu pedi mini lanternas de luz negra para a galera da iluminação. Eles trazem em no máximo 15 minutos, e vão levar esse embora. Assim a gente deixa um no bolso de cada recepcionista e fica tudo certo.
Olhei pra cara dos rapazes que pareciam mais aliviados, e perguntei:
- Mais algo que eu possa fazer pelos senhores?
E Jogê, que sempre foi o mais brincalhão, olhou para mim sorridente e disse:
- Chefe, tem hora que só não lhe "tasco" um beijo na boca, porque você ia gostar!
Ri com eles e concordei, dizendo que jamais perderia a oportunidade de fisgar um homem como ele, que ficou sem graça e disse que se sentia lisonjeado. Entrei na casa que estava mais iluminada que o normal, e com o pessoal do buffet arrumando os últimos detalhes de uma suntuosa mesa de doces.
Quando vi que tudo corria bem, resolvi ir para o meu escritório, que ficava no subsolo, ao lado do banheiro do único camarote com toalete privativo. Conferindo alguns recibos, escuto baterem na porta. Antes que eu pudesse mandar entrar, Thalia preencheu a atmosfera da minha sala com um perfume doce e maravilhoso, que ela só usava em ocasiões especiais.
Quando olhei para seu corpo, totalmente escultural, me surpreendi pelo bom gosto. Ela usava um vestido verde com uma fenda, os cabelos pretos modelados e uma maquiagem com os olhos bem marcados e uma boca vermelha. Elogiei e não pude deixar de perguntar onde ela iria, e fiquei surpreso com a resposta:
- Eu consegui essa festa pra você porque conheço um dos maiores sócios do escritório. Vou recepciona-lo exclusivamente.
Qualquer coisa que eu dissesse, não ia tirar a concentração daquela verdadeira predadora, de se aproximar do homem que ela queria. E homem nenhum em juízo perfeito negaria uma mulher daquela. Ela saiu feliz da minha sala, e sabe Deus com qual intenção. No fundo, ela era muito parecida comigo, e eu a amava exatamente por ela ser daquele jeito.
Quando a festa começou, peguei meu fone de ouvido, apaguei a luz do escritório, e escolhi um seriado para assistir. Não queria sair dali tão cedo, odeio ver o estrago que Open Bar de empresa causa.
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Tempestade de mudanças.
RomanceA vida de Frederico era o sonho de qualquer Playboy. Era rico, bonito, dono do próprio nariz, livre leve e solto. Se divertia trabalhando, aos 28 anos já tinha encontrado a maneira certa de fazer dinheiro. Em uma noite quente no final de novembro...