Casamento

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Worthing, West Sussex, 1896


—Gwen, está na hora.

Era manhã, não mais que onze horas, e o sol brilhava no distrito de Worthing, o que era raro naquela época do ano. O outono era conhecido pelo tempo nublado, mas logo ao raiar do dia, a mãe dissera que o clima incomum era uma graça concedida à família. Ela estava certa, é claro.

Afinal, que mulher gostaria de garoa no dia de seu casamento?

O vestido branco bordado era mais apertado que os demais. Embora sua saia fosse mais longa e volumosa, era como se ele tivesse um espartilho extra, a julgar pela forma que mantinha sua cintura fina e as costelas para dentro. Lhe deixava com uma ótima aparência, isso era inegável, mas também com um aperto enorme no peito, que estaria ali fosse o vestido apertado ou não.

Vê-la em trajes de noiva era o maior alívio da família em meses. Pais de três filhos homens já casados, todos altos e belos, Sr. e Sra. Brown não esperavam que sua mais nova cresceria mais que eles. Foi já no fim da infância que a pequena Gwendoline, como era chamada pelos criados da casa, se tornou mais alta que seus três irmãos na mesma idade. Assim começara o drama da família Brown. Antes mesmo de completar vinte anos, Gwendoline já media quase dois metros, deixando seus pais desesperados, pois nenhum homem na cidade aceitaria uma mulher assim como esposa.

O que vamos fazer, Walter? – a mãe se perguntava – Gwendoline é mais alta que todos os homens de Worthing, eles não vão querê-la...

Acalme-se, Laura. – dizia o pai – Talvez com um bom dote, sabe como são essas coisas.

Eles costumavam falar do assunto quando acreditavam que Gwendoline não estava por perto, mas ela às vezes os escutava conversarem e dizerem aquelas coisas que enchiam seus olhos de lágrimas, que ela soltava sozinha em seu quarto na hora de dormir. Principalmente porque os meses se passavam e os pais não lhe apresentavam ninguém, o que lhe indicava que o dote que a família podia oferecer não era o suficiente para que alguém lhe aceitasse. Seus pais estavam certos, Gwendoline pensava. Logo, ela estaria muito velha para se casar, e acabaria dando a sua família a desonra de uma mulher solteira para carregar. Isso lhe fazia chorar mais.

Porém, seu destino estava prestes a mudar.

Foi perto de seu vigésimo-terceiro aniversário, em Fevereiro daquele mesmo ano, que uma nova família se mudou para Worthing, ou assim os Brown pensavam, pois foram descobrir mais tarde que se tratava de um único morador: um banqueiro, de pouco mais de trinta anos, que vinha de Londres à procura de uma residência mais tranquila, junto com uma grande fortuna.

A notícia logo se espalhou pela cidade. Porém, o novato viajava muito, e pouco frequentava a igreja e os parques de Worthing, então Gwendoline só o viu pela primeira vez na festa de casamento de uma jovem de família amiga da sua.

A comemoração aconteceu em uma tarde do fim do mês. Gwendoline ignorou algumas dores que sentia desde a manhã para cumprimentar os noivos junto a sua mãe, e depois passou um tempo com moças solteiras da cidade, embora aquilo lhe fosse um tanto desagradável, pois todas aquelas mesmas moças caçoavam de sua aparência desde a adolescência. Não era como se fossem suas amigas. Isso era algo de que ela sentia falta. Porém, a conversa com as meninas acabou depois de um tempo, e ela se sentou junto a sua família em sua respectiva mesa. O banqueiro se sentava na mesa ao lado, e foi assim que ela o viu.

Ele tinha cabelos de um castanho quase negro, uma barba espeça da mesma cor, e era alto. Muito alto. Talvez até mais que ela. Gwendoline ignorou suas dores por um momento para olhá-lo discretamente: seus olhos eram esverdeados, e sérios, embora ele parecesse descontraído conversando com outros homens. Pelo menos até o momento em que notou Gwendoline na mesa ao lado.

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⏰ Last updated: Oct 11, 2018 ⏰

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GwendolineWhere stories live. Discover now