Epílogo

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09/10/2015  21:16p.m

Passos ecoavam na sombria noite ao se chocarem contra a água das possas recém criadas pela chuva. O toque de recolher já havia soado, anunciando que todos os moradores deveriam se trancar em suas respectivas casas.

Todos assistiam televisão, ou dormiam. Em algumas casas mais ousadas, era possível ouvir risadas de amigos e familiares em suas brincadeiras constantes.  Não havia ninguém nas ruas aquela hora da noite.

Ninguém exceto Davlyn, ao contrário de muitos que dormiam, a jovem menina corria desesperada pelas ruas escuras da A Colônia. No meio daquele silêncio exacerbado o único som ouvido eram seus soluços melancólicos. Em seus braços havia um embalo, e ela o protegeria com sua vida se fosse necessário.

Ao longe era possível ouvir o som de sirenes, os carros andavam em alta velocidade, os polícias de mãos livres que estavam dentro deles apontavam suas lanternas para as partes mais escuras das ruas, becos e vielas. Todos estavam a procura da menina loira, aliás não só dela, pois a moça realmente não os importava em nada. O que eles realmente queriam era o que a jovem carregava e protegia com tanto amor e carinho.

Os cidadãos que ouviam os sons das sirenes se assustavam, "O que está acontecendo !" era o que se passa em suas mentes. Alguns até pensavam que poderiam estar sofrendo outro ataque do O Outro Lado. Mas ninguém desconfiava do real motivo, nem mesmo Harry que estava em sua casa, trancado em seu escritório. Pensando em formas seguras para tirar Davlyn de seu cativeiro em segurança.

Mas o que o moreno não sabia era que sua amada já havia escapado, e nem que ela estava a caminho de sua casa. A campainha toca fazendo um som agudo e extremamente irritante ecoar pela moderna casa. Ele apenas desce as escadas e se aproxima da porta, "Quem estaria tocando a campainha de alguém depois do toque de recolher ?!". Se pergunta o moreno.

Ele se aproxima meio desconfiado mas logo abre a porta, e ao abri-la seu coração acelera ganhando um ritmo insano e sua respiração falha.

-O que faz aqui ?!-. Pergunta a loira chorosa que estava parada em sua varanda.

-Preciso de ajuda !-. Diz seria.

Harry olha para baixo e logo entende do que a mulher está falando, ele assente e abre espaço para a mesma entrar.

-Não, eu não posso entrar. Me veriam entrando em sua casa e avisariam para a polícia !-. Diz assustada.

-Então o que quer fazer ?, esta muito frio aqui fora !-. Diz Harry ao abraçar seu corpo com seus definidos braços.

-Apenas preciso que fique com isso, não vou viver por muito tempo, então não posso guardar !-. Diz ao estender o embrulho para o mesmo.

Harry estava com medo, ele não poderia cuidar daquilo. Ele sabia que traria problemas para ele, mesmo tendo apenas 18 anos Harry era um rapaz inteligente ele sabia que se fosse pego com aquilo em sua casa, ele seria preso, julgado e condenado a morte por traição a sua A Colônia.

Mas seu amor por Davlyn dizia que ele não devia dar ouvidos aquilo, e sim seguir eu coração. Pobre rapaz, se meteria em uma encrenca enorme por um amor não correspondido.

-Tudo bem, mas não prometo que irei ficar por muito tempo !-. Diz pegando o embrulho.

Devlyn sorriu, ela sabia que poderia contar com seu amigo, ela sabia que ele não a abandonaria como os outros haviam feito. E por um instante seu coração se acalmou, a paz rotineira tornou a inundar seu ser. Roubando o sucesso lugar do desespero explícito.

-Tenho que ir Harry, não prometo voltar !-. Diz com um sorriso triste, o rapaz sabia ao que a menina se referia.- Não deixe a polícia saber que lhe entreguei esse pacote, a vida de muitos depende disso !-. Diz já dando seu primeiro passo ao abismo que o restante da sua noite se tornaria.

-Tudo bem, se cuida. E mande noticias !-. Foi a única coisa que o moreno conseguiu dizer.

-Pode deixar Harry !-. Diz já descendo a pequena escadaria da varanda.- Ah já ia me esquecendo !-. Diz retornando para perto do maior.

Devlyn simplesmente une seus lábios aos de Harry. Sem perder muito tempo o moreno segura firme na cintura da loira, prendendo a mesma em um tipo de abraço. Não foi um beijo comum, foi um beijo triste, melancólico e depressivo. Um beijo com gosto de lágrimas e corações partidos. Aquele beijo significava o fim de uma jornada, o fim de algo bem maior do que A Colônia. Aquele beijo significava o fim de uma vida juntos.

Após separar seus lábios dos de Harry, Davlyn simplesmente se afastou, dando as costas ao mesmo e retornando a caminhar pela noite escura e fria. Ao dar as costas para o moreno o coração da pobre menina saiu de seu peito, ficando na casa, uma metade com cada ser que lá estava.

Depois de estar bem distante da casa de Harry, Davlyn se permitiu chorar, mostrar sua fraqueza e a dor que sentia. E ao fechar os olhos ela se permitiu dizer em um sussurro melancólico.

-Eu te amo Harry !-. Diz com um sorriso doido.

-Eu te amo Davlyn !-. Sussurra o moreno ao ver a loira sumir na escuridão.

Ele entra para dentro de sua casa trancando bem a porta. Ele sabia que nunca mais veria a menina, sabia que sofreria por isso. Mas não iria deixar a dor o dominar, não deixaria a tristeza se apossar de sua alma. Ao ver a menina sumir no meio da escuridão Harry se sentiu impotente, sentiu que havia a deixado morrer. Mas isso não era verdade, na vida fazemos escolhas, e tudo o que acontece é apenas consequências delas, das nossas próprias escolhas.

Não muito longe da casa de Harry, a umas três quadras mais precisamente, a polícia encontra Davlyn. Iniciando uma caçada mortal. O coração da menina estava acelerado, parecendo um tambor de religião africana.

Ela correu, ninguém pode dizer que ela não correu. Mas todos sabemos que uma bala é mais rápida que qualquer humano. O disparo certeiro acertou em cheio em seu peito. Sem dó ou piedade, ela mal teve tempo de gritar, chorar ou até mesmo sentir dor. Em apenas dois segundos o magro e frágil corpo da menina loira se chocou contra o frio chão, fazendo o som do baque ecoar pela noite.

Em seu corpo o a perfuração feita pela bala, a sua volta uma enorme poça de sangue, em sua mão um crucifixo de prata ensanguentado, em sua bochecha uma lágrima solitária e em seu peito um coração partido.

Mas a morte não importava para Davlyn, o que importava para ela estava em boas mãos. O que importava para ela naquele momento estava nos braços de Harry.

Seu dois amores: Harry seu amor proibido, e seu maior tesouro. Seu amor incondicional, o amor que a foi tirado a força.

Melanie.








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⏰ Última atualização: Oct 14, 2018 ⏰

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MELANIE- Criada Pelo Universo. (01 livro da série Filhos de Unyso) Onde histórias criam vida. Descubra agora