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Ele não retornou no próximo dia...

Nem pelo resto da semana...

Eu ainda me lembrava do seu semblante triste, mascarado pelo sorriso que mantinha em seu rosto. Eu sentia sua falta...

Desde que briguei com meu pai não consigo mais escrever, as únicas palavras que me surgem são direcionadas aos bilhetes que escrevo em guardanapos para Henry. Sei que nunca vou lhes entregar, mas é a única forma de conversar com alguém.

Estou sozinho...

Meu pai se embebedou, contou aos amigos a "vergonha" que sou, que contaram aos filhos, que se afastaram de mim. No fim, eles nunca foram meus amigos, as pessoas me olham estranho, como se eu fosse um alien, é isso que acontece quando se é "diferente" em uma cidade pequena e recheada de ignorantes.

Na verdade, não importa onde esteja, sempre haverá ignorantes que se julgam religiosos e santos, hipócritas sem nenhum empatia, que te julgam pelo que é. Estamos em um novo século, mas pelo que parece, rótulos idiotas ainda são o suficiente para se conhecer o caráter de alguém.

Vou até a cozinha, pego pratos que Frank deixou sobre a bancada, estou sozinho. Os pego com cuidado, andando depressa quando ouço o sino da porta tilintar.

- Seja bem vindo! - digo entediado, colocando os pratos no lugar.

- Nossa Nicholas, achei que ficaria mais feliz em me ver - a voz soa afetada, com uma pitada de diversão, eu logo a reconheço.

- Henry - finalmente paro para o olhar, sorrio.

Ele segura algo, ou melhor, alguém em seu colo. Ele segura o pequeno embrulho nos braços, como se fosse a coisa mais preciosa do mundo.

- Eu disse que voltaria, só não foi tão rápido assim - ele ri.

- Aí Meu Deus - não contenho minha leve surtada quando o pequeno ser em seu colo soluça, AAAAAA, TÃO FOFO!

- Que foi? - ele ri, se aproximando.

- Quem é? - eu sorrio, o encarando.

- Esse é o Nick- ele chega ainda mais perto, consigo ver o rostinho gorducho por entre o cobertor de ursinhos.

- Nick?! - estico o braço para lhe tocar a mãozinha.

- Sim, só Nick - ele encara o bebê, quase babando.

- Ele é tão fofo - apoio os cotovelos no balcão.

- Sim, meu filhão é muito fofo - ele diz tão feliz.

Meu sorriso vacila, um filho... Então ele deve ter uma namorada, volto a sorrir antes que ele perceba.

- E onde está a mãe dele? - mordo o lábio, seu sorriso some.

- Ela morreu - diz triste, olhando pra baixo.

- Ah, desculpa, eu sinto muito - me ajeito, culpado.

- Tudo bem, você não sabia - ele volta a sorrir.

- Está cuidando dele sozinho? - Nick se remexe.

- Sim, minha mãe mora em outra cidade e ela foi expulsa de casa quando descobriu a gravidez os pais dela não quiseram saber do neto- ele toca a mão do filho, que segura seu dedo.

- Espero que dê tudo certo - sorrio pra ele, a mesma mecha de seu cabelo insiste em lhe cair sobre a testa.

- Eu também - Ele me encara, por tempo demais, depois pisca repetidas vezes - Bom, eu só queria que você o conhecesse, acho que já vou - diz assim que a porta se abre.

- Ok, então até amanhã - pego o bloco de notas.

- Até - depois se vira, espero ele sair e me apresso em atender os clientes.

"Querido Henry,
Foi bom lhe ver hoje, eu queria poder lhe dizer mais do que um simples 'sinto muito', mas foi o máximo que consegui...
Espero lhe ver novamente, ao Nick também... :) "

Querido Henry - Concluído Onde histórias criam vida. Descubra agora