Epílogo

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Três anos depois

Poderia  haver data mais romântica para um casamento do que o equinócio de  primavera? Tudo bem que o romantismo não foi o principal motivo para a  escolha daquela dia. O fato é que foi bem difícil encontrar uma data  que não colidisse nem atrapalhasse demais as suas agendas. Mas até que  foi uma feliz coincidência que o sábado escolhido fosse, justamente, o  primeiro dia da estação das flores. O difícil, ou melhor dizendo,  impossível, foi encontrar um salão de festas que já não estivesse  reservado para a data. Por sorte, nenhum dos dois queria algo grandioso.  Apenas faziam questão da presença das pessoas mais próximas e queridas  ao seu lado naquele momento especial.

Um  belíssimo iate, gentilmente cedido por um cliente do escritório, foi o  cenário escolhido para a ocasião. E depois da festa, quando os  convidados fossem embora, os recém casados poderiam seguir na  embarcação, em sua viajem de lua de mel pela costa brasileira.

A embarcação, que era bem mais grandiosa do que qualquer um deles poderia esperar, estava lindamente decorada com vários arranjos com rosas brancas. O quarteto de cordas tocando para os convidados, que, num primeiro momento, pareceu um exagero, acabou se mostrando a escolha perfeita para a ocasião. Uma aura de magia e romantismo preenchia todo o lugar.

—  Posso saber o porquê desse nervosismo todo? — perguntou Samantha, que  se aproximou depois de algum tempo observando o amigo que olhava  insistentemente em direção à marina. Enfiando a mão no bolso do paletó,  Dante retirou de  lá uma pequena caixa e abriu, mostrando à amiga  um par de alianças de ouro branco, com pequenos detalhes em dourado. — Do  que você tem medo? — perguntou enquanto o via colocar o objeto de volta  no bolso.

— Que ele não venha hoje... que diga não... que ele encontre alguém melhor do que eu...

—  Meu Deus! Quando foi que você ficou tão dramático? — perguntou a  mulata, não resistindo a rir da aflição do amigo. — Se, nos seis meses que  ele passou na Califórnia, ele não te trocou por nenhum americano lindo e  musculoso, não acho que vá fazer isso logo agora, depois de ter voltado  para o Brasil. Tá na cara que ele voltou por você, seu trouxa. Aquele  garoto te ama e vocês formam um casal muito estranho. — disse em um meio  sorriso. — Estranho, mas bonito — corrigiu segurando o riso, enquanto o  amigo a encarava com uma sobrancelha arqueada.

— E você? Tem certeza de que 'tá mesmo bem com tudo isso? — perguntou com um gesticular da mão, se referindo ao que acontecia naquele momento.

— Querido, quem você acha que convenceu o Arturzinho a ceder o precioso iate dele? Você acha mesmo que eu me daria a esse trabalho se não estivesse confortável com isso?

— Arturzinho? — disse com um olhar acusador para a amiga. — Samantha, o homem é casado e um dos nossos clientes mais importantes.

— Ai, me poupe desse seu novo "eu" todo cheio de pudores — respondeu em tom de tédio. — E pra sua informação, a Helena também não é nenhuma santinha não. Aquela lá é das minhas — disse com um olhar sugestivo, achando graça da expressão de incredulidade de Dante. — Que foi? Não soube que o poliamor é última moda em Paris, nessa estação?

— Eu não sei porque ainda me surpreendo com você — disse num menear de cabeça, enquanto ria, ainda tentando absorver toda aquela informação implícita nas palavras da amiga.

— Eu também não sei. Até parece que não me conhece há tanto tempo. Agora deixa eu ir cumprimentar os noivos. Afinal, na ausência do Arturzinho, eu sou praticamente a anfitriã aqui, não é mesmo? — com um piscar de olho na direção do amigo, a mulata se afastou de Dante, indo ao encontro do casal que, dentro de alguns minutos, estaria "subindo ao altar".

O caçador e o Príncipe do geloOnde histórias criam vida. Descubra agora