Parte I

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Nova York, 1969.

Quando May Starnford fez o SAT para tentar entrar na Universidade de Columbia, terminou a prova em menos de uma hora e ela quase gabaritou. Tinha sido mil vezes mais fácil do que a caminhada daquela tarde, em direção a cafeteria Ferrenty's, em Manhattan. Seu estômago não parava de se revirar e ela tinha certeza de que vomitaria caso tentasse comer qualquer coisa.

Olhou em direção a janela mais uma vez, esperando ver sua amiga. Ela poderia chamar Audrey de amiga? Elas eram amigas no fim das contas, mas aquele rótulo parecia muito superficial para definir a relação das duas. 

— A senhorita deseja alguma coisa? — Perguntou a garçonete, impaciente. May tinha certeza de que ela estava odiando o fato da garota estar ali desde as cinco da tarde e não ter pedido nem sequer um copo de água.

— Não, estou esperando alguém... — May disse, mexendo no seu colar de prata, com pingente de um disco fino com desenho da constelação de gêmeos.

— Mas você está aqui a quarenta minutos! — May ficou vermelha. 

— Eu cheguei adiantada. — Era verdade. Tinham marcado as seis, mas May chegou cinco horas, porque não aguentava mais ficar em casa.

A garçonete suspirou e balançou seu cabelo loiro e longo.

— Tudo bem, vou esperar.

A garota voltou a olhar para a rua. A cafeteria ficava bem em frente a um cruzamento e era possível ver com perfeição as pessoas que transitavam por ali. Apesar de estar ficando tarde as luzes eram fortes o suficiente para iluminar tudo com clareza.

May respirou fundo, cruzou e descruzou as pernas, alisou a saia do seu vestido azul claro e colocou para trás um fio do seu cabelo dourado. Lembrou de todos os teoremas matemáticos que tinha estudado na faculdade até seu período atual; Baskara, Pitágoras, Abel-Ruffuni, Euler e muitos outros. Apesar de estudar física, cumpria duas cadeiras de matemática aplicada e simples a cada período. Não que May precisasse, suas notas eram excelentes, mas ela gostava de estudar.

Passava incontáveis horas do seu dia calculado cossenos e tangentes, fazendo multiplicações gigantescas pelo simples prazer de descobrir seus resultados. A euforia de resolver uma fórmula tomava seu ápice quando ela encontrava o resultado. May amava descobrir respostas a todas as perguntas e desafios que lhe eram oferecidos e matemática e física apresentavam inúmeros deles.

Sua mente começou a vagar por entre seus trabalhos acadêmicos quase prontos, ela os refazia mentalmente, tentando encontrar algum erro em suas anotações que sabia de cor. Ficou tão distraída que perdeu o momento em que Audrey Liongate entrou pela porta da cafeteira, respirou fundo e avistou a menina completamente distraída.

Audrey vestia uma calça marrom clara, sapatos pretos fechados com um salto baixo, uma blusa preta de mangas compridas e um colete colorido. Ela parecia uma versão morena da Janis Joplin, inclusive no cabelo longo, levemente ondulado e um pouco armado. Tirou o cigarro da boca, soltou uma fumaça fina e branca e andou na direção de May, ainda absorta nos seus pensamentos.

— Oi. — Audrey cumprimentou, balançando a mão que não estava com o cigarro na frente de May.

— O-oi... — May sorriu, piscando muito. Ela desviou os olhos da garota a sua frente, sentindo seu coração bater muito forte contra seu peito. — Faz muito tempo que você chegou?

— Não muito. — Audrey apagou o cigarro ao notar a cara feia da garçonete em sua direção. — E você, está aqui a muito tempo?

— Não, cheguei faz uns dez minutos. — May sorriu novamente, sem graça.

Fly me to the MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora