Uma cidade com uma casa assombrada por um assassino sanguinário há vinte anos. Uma menina que foi desafiada entrar na casa. Uma estranha amizade. Uma descoberta perigosa. Um destino fatal.
OLLIE
Quando criança eu sempre ouvi histórias sobre como a casa de Dante era perigosa e que não deveria nunca entrar nela. Mas apesar das teias de aranha e da poeira irritar meus olhos, nada parece ser "terrivelmente assolador" como Kit disse que seria. Se ele não parar de ler livros do Poe provavelmente vai temer a própria sombra. É difícil acreditar que alguém possa ter entrado aqui e ter ficado amedrontado, os erros ortográficos nas frases escritas com tinta vermelha na parede são o que há de mais aterrorizante, nada de calafrios ou risadas macabras. Só uma velha casa abandonada. E vou ter que ficar aqui por uma hora. Que emocionante.
Em todos os seus 19 anos de vida, Ollie nunca havia entendido o porquê do alvoroço sobre a casa de Dante. Sim, ele havia assassinado o casal Smith no porão de sua casa nos anos sessenta e depois se suicidado, mas ela não achava possível que, se fantasmas existissem, Dante ficaria confinado a uma casa escura e sem graça na cidade mais enfadonha do Texas por longos TRINTA anos.
Ao ser desafiada por Grace, Pete e sua turma a nadar pelada no lago congelado ou ficar uma hora dentro da casa assombrada ela preferiu não morrer de hipotermia. A idéia de passar um tempo longe dos auto proclamados "descolados" também foi muito convidativa.
Nem sabia o que estava pensando quando foi à festa de Grace, aquela gente não era o que ela chamava de companhia agradável. Tudo o que fez a noite toda foi comer os salgadinhos murchos e quando a chamaram para jogar verdade ou desafio pensou que pelo menos riria de algum desafio bobo, mas acabara num lugar sem nenhuma perspectiva de diversão.
Faz meia hora que estou plantada aqui e exceto por alguns ratos nenhuma presença me fez sentir calafrios ou arrepios, poderia simplesmente sair e falar que essa casa era mais sem graça que a festa em que estávamos. Fui olhar pela fresta da janela e vi que os babacas com quem me envolvi estavam bebendo e cantando alguma música do Nirvana, realmente prefiro ficar mais trinta minutos dentro da casa do Dante do que lá fora. Consegui explorar a casa inteira em menos de dez minutos e não poderia ter ficado mais desapontada. Sem símbolos satânicos, nenhum machado e nada denunciava que o dono da casa havia brutalmente assassinado dois jovens.
Mas é claro que após três décadas alguns dos objetos pessoais devem ter sido roubados, quem sabe entre eles não havia um livro com instruções sobre como realizar um ritual de assassinato macabro. Parece injusto, no entanto, que só porque Dante preferia não se envolver com o resto da cidade ele teve que virar um assassino. O que seria de mim se de repente todos achassem que minha falta de habilidade social fosse sinal de psicose? Ele poderia ao menos ter pensado em todos os deslocados que viriam após ele, nossas reputações foram maculadas por causa de suas ações. Que babaca.
DANTE
Passar tanto tempo preso numa casa não é nada bom para minha, já pouca, sanidade. Há dias que nem me lembro do meu nome e minha visão é um borrão. Mas mais frequente do que gostaria são as memórias daquele dia, a visão de todo aquele sangue e os membros decepados como se fossem meros gravetos me perseguem e sinto como se fosse viver aquele dia para sempre.
E em raras ocasiões os dias não tão ruins. Dias que sei quem sou e o que aconteceu, mas que não sou atormentado pelas lembranças. Dias em que é quase bom estar aqui, em que sinto falta da minha antiga vida. Até que algum idiota entra na minha casa e agradeço por estar como estou e poder me isolar no porão, onde ninguém é louco o suficiente para ir. Ser um fantasma tem suas vantagens.
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Histórias de terror escritas por quem odeia terror
Short StoryQuatro contos de terror. Começos inofensivos e finais devastadores.