Birthday

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O pequeno garoto apagou as nove velinhas em seu bolo improvisado que a mãe havia feito com tanto sacrifício e fez um pedido, derramando pequenas lágrimas ao abrir os olhos novamente.

_Eu pedi pro papai voltar!_ Jungkook exclamou e a mãe do garoto controlou que suas próprias lágrimas escapassem de seus olhos bonitos agora úmidos.

_Oh meu anjo..._ A mulher abraçou o filho com cuidado e confortou-o, sabia que o marido jamais voltaria, Jungkook também sabia, mas era muito mais fácil aceitar que talvez um dia ainda veria o rosto iluminado com o sorriso de seu pai, que não via a tempo demais pra poder contar.

Jeon foi à guerra assim como os pais de muitos dos amigos do filho, muitos que também não retornaram.

Ao ir dormir naquela noite Jungkook teve a surpresa de conseguir ver a grande multidão, em maioria homens, adultos com grandes mochilas nas costas se direcionando para caminhões verde-musgo.

_Quem são aquelas pessoas mamãe?_ O pequeno garoto encarava a janela ansioso por uma resposta.

_São homens e mulheres de bom coração que estão lutando por nós meu amor._ A mulher retirou o filho da janela e tudo o que passava em sua cabeça era como faria para criar Jungkook sozinha em um mundo tão ruim, amava tanto ao seu pequeno garotinho. _Como seu pai.

Naquela noite Jungkook sonhou com estrelas e super heróis que usavam rifles e capacetes.

                                _X_

No ano seguinte quando assoprou a velinha novamente de seu décimo aniversário, Jungkook não tinha mais um belo bolo, sua mãe teve condições apenas de fazer um pequeno bolinho com uma pequena vela em cima, ele jamais reclamaria.

A mulher agora com traços doentes e cansados sorriu para o filho, Jungkook apenas havia desejado que sua mãe se curasse de uma vez, o garoto já não estudava mais, as escolas agora estavam fechando-se, todos estavam ficando doentes.

_Não posso contar o desejo ou não se realiza mamãe._ O garoto abraçou rapidamente a mulher pois sabia que a mesma não gostava mais desse contato por medo de que o filho pegasse seja lá o que tivesse._ Mas se eu tivesse um gênio da lâmpada eu desejaria que você vivesse pra sempre.

A mãe apenas sorriu-lhe com as pequenas rugas que a mesma dizia gostar tanto nos cantos dos olhos, rugas que Jungkook aprendeu a amar também, afinal a mulher sempre lhe dizia que suas rugas eram frutos de uma vida cheia de sorrisos, Jungkook queria rugas também.

No dia que sucedeu aquele Jungkook não pôde entender muitas coisas, apenas sabia que algo estava errado quando voltou do pequeno mercado com a única sacola de compra que sua mãe conseguira pagar, não deixaram que entrasse em sua própria casa, algo estava errado e ele sabia que estava.

Naquele mesmo dia Jungkook descobriu como era se sentir só no mundo, um dia após seu aniversário.

O garoto não pôde assistir a um funeral, não pôde dar adeus de forma decente, tudo o que conseguiu foi a vista de um enorme lacre amarelo carregado para fora de sua casa. Naquele dia também teve sua primeira chance de sentir ódio.

Jungkook então começou a seguir sua vida fugindo de lares adotivos e furtando pelas ruas, mas no fim, sempre acabava voltando para o lugar onde já havia chamado de lar.

                           
                                _X_

Em seu décimo segundo aniversário já não haviam velas, não havia um bolo, muito menos um sorriso de conforto com pequenas rugas preciosas, no dia anterior, Jungkook havia presenciado a algo que o governo chamou de controle de população, ele não sabia bem o que estava acontecendo, mas sabia que não era bom pois via todos correndo, gritando com o medo.

The EndOnde histórias criam vida. Descubra agora