São seis horas e trinta minutos da manhã e o despertador começou a tocar. Estiquei o braço e procurei o telemóvel pela mesa de cabeceira para poder desligar aquele barulho irritante. Levantei-me da cama e e dirigi-me até à casa de banho, abri a água e deixei-a escorrer enquanto tirava aquele pijama sujo até a água ficar suficientemente quente. Depois do banho tomado fui até ao quarto e vesti o meu macacão amarelo, deixando uma alça descaída, com um crop top branco por baixo. Deixei o meu cabelo ondular naturalmente e pus um pouco de maquilhagem. Fui até à cozinha comer uma peça de fruta e tirei a maçã mais vermelha do cesto, reparei que os meus pais deixaram dinheiro em cima da mesa e agarrei-o, guardando-o depois de baixo de um pote de bolachas. Eu tinha o meu dinheiro. Os meus pais saíram ainda mais cedo do que eu para ir trabalhar, o que eu acho um pouco exagerado mas também não quero arranjar confusão ao contrariá-los. Eles são ambos muito dedicados ao emprego e à área profissional, eu aprecio muito isso mas às vezes acho que podiam tirar um pouco do que fazem e dar-me atenção a mim; gostava de ter uma mãe um pouco mais presente, que todos os dias antes de me deitar viesse falar comigo sobre rapazes e a vida, e um pai que me levasse a passear e que dissesse que sou a menina dele. Gostava de sentir que este tipo de coisas estão mais presentes em mim, mas acho que não. Voltei novamente para o meu quarto e fechei a mala de viagem, estava na hora de ir embora. Faziam-se exatamente 7h30 quando o som de uma buzina ecoou por entre as paredes de minha casa: era o autocarro que me ia levar para o tal Campo de Férias. Depois de colocar a minha mala junto de todas as outras num compartimento do autocarro sentei-me num dos poucos lugares livres junto a uma janela. Fizemos mais umas paragens depois de mim e numa das últimas entrou uma rapariga de cabelo meio colorido com umas calças largas um pouco rasgadas de uma ganga clara com uma camisola floral com um colar sobreposto. Era linda. Reparei que ela vinha na minha direção e dissimulei o facto de estar a olhar paranoicamente para ela.
"Olá." - ela sorriu calorosamente - "Posso? Não há mais lugares disponíveis."
Assenti com a cabeça e tirei a minha mala para ela se poder sentar.
"Sou a Gemma." - informou-me assim que se sentou e colocou o cinto.
"Catherine." - sorri.
"Então e Catherine, que idade tens?"
"Dezassete. E tu?"
"Vinte e dois." - a minha cara ficou repleta de espanto.
Ela tinha vinte e dois anos?! O que é que ela estava a fazer aqui sentada num autocarro pronta para ir para um Campo de Férias? E, para além disso, ela parece muito mais nova aparentemente.
"Desculpa a pergunta, mas não és demasiado...hm..." - disse tentando procurar a palavra ideal para não a ofender.
"Velha?" - ela riu-se.
O riso dela formava grandes covinhas, era adorável.
"Se não sou velha demais para ir para um campo de férias?" - continuou.
"Hm...sim?" - respondi um pouco receosa.
"Eu vou para ser monitora dos mais pequenos, não para frequentar as atividades e essas coisas." - ela disse entre risos.
Agora tudo fazia mais sentido. O resto da viagem foi feita num completo silêncio, eu coloquei os fones nos ouvidos e acabei por adormecer. Chegámos lá muito rapidamente.
"Adeus Catherine. Vemo-nos por aí." - Gemma disse acenando-me.
Acenei-lhe também e assenti em concordância.
Depois de me ter despedido de Gemma segui todas as placas que diziam receção e entrei numa pequena espécie de cabana revestida de folhas de palmeira. Aquilo parecia um Campo de Férias num destino paradísiaco.