- Harry -
Burro. És burro Harry. Se ela te achava minimamente simpático agora nem a cem milhas te quer ver à frente. Estúpido. Estúpido. Estúpido!
Doía-me a cabeça, não sei se é do efeito do álcool no meu sangue a fervilhar por causa da minha estupidez ou se é da discussão demasiado desnecessária que tive com a Catherine.
"Harry!" A voz fina de Hanna fez-se ouvir pelo bar.
Não sei porquê mas a voz de Hanna já não me soa como antigamente, agora parece agoniante e sufocadora. Eu já não gosto dela, não por amor. Ela é querida, simpática e generosa. É uma boa rapariga. Mas eu não a amo.
"Vamos embora?" Perguntei baixo, pelo menos num tom mais baixo do que o dela.
"Já?! Amor, cheguei agora mesmo da casa de banho. Mais um bocadinho."
"Estou cansado."
Ela forçou uma cara triste.
"Mas podes ficar aqui. Eu vou andando para o Campo." Acrescentei.
Na verdade, vais para o Campo ver da Catherine. Tu gostas dela, estúpido Harry. Gostas dela. Admite.
Ninguém sabe como o meu subconsciente me irrita.
"Não te importas?"
Abanei a cabeça como se dissesse que não. Despedi-me de Hanna e fui em direção ao meu carro. O álcool ardia no meu sangue e fazia com que eu carregasse com mais força no acelarador. Rapidamente cheguei ao meu destino.
"Catherine! Catherine!" Gritei desesperadamente enquanto batia com o meu punho na sua porta "Cat!"
- Catherine -
Acordei com Hanna a bater loucamente na porta do quarto. Quantas vezes já lhe disse para não se esquecer da porcaria da chave?!
Andei demasiado ensonada até à porta e abri-a. Esfreguei os olhos com a palma exterior das minhas mãos. Senti uns braços quentes e musculados abraçarem-me. Esta não é a Hanna. Não existe nenhuma Hanna carente ou musculada. E muito menos uma com tinta sobre os braços. Esta não é a Hanna. É o Harry.
"Catherine , deixa-me explicar!" Ele disse antes que eu abrisse a minha boca para falar "Nada daquilo que eu te disse era verdade. Quer dizer, era, mas não foi propositado. Juro que não. Aquilo são merdas que eu digo sem pensar e que depois me arrependo!"
"Harry..." Disse quase num sussurro por estar ainda meio ensonada e a digerir tudo aquilo que ele dissera.
Senti ele aproximar-me repentinamente de si e encostar os nossos lábios. O que é que se está a passar aqui? O que é isto? É certo que não sei. Mas é uma sensação fantástica, demasiado fantástica. Ter os lábios dele colados aos meus e as nossas línguas a moverem-se numa incrível sintonia faz-me vibrar. Faz-me sentir diferente...faz-me sentir especial? Sim, especial.
Mas Catherine, o que estás a fazer?!
O meu subconsciente interrompeu o momento.
"Harry!" Afastei os nossos lábios mas ele voltou a colá-los. "Harry para! Por favor."
Traidora.
Traidora.
Traidora.
Só isto me passava pela cabeça.
Eu traí uma amiga minha. Eu traí a Hanna. Ele namorava com ela, eu não podia fazer isto.
Pude reparar que Harry me olhava intensamente em pedido de alguma resposta ou qualquer outra coisa que lhe dissesse que o que ele fez foi correto. Mas será que foi?