Além do Horizonte

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Após ler o bilhete, senti uma forte dor de cabeça e minha visão enturveceu. O cenário parecia ter mudado. Eu ainda estava deitada, mas numa cama de hospital. Um senhor estranho apareceu no corredor e levantei para perguntar o que estava acontecendo. Senti uma tontura estranha e, em seguida, fui puxada de volta pra maca.

—Doutor, espera! Onde estou? O que está acontecendo? Por favor, me responde!— Supliquei, desesperada. Sentia que estava sendo amarrada, mas só conseguia identificar as vestes brancas. Me debatia, mas de nada adiantava, os braços fortes sempre me venciam.

Senti uma picada no braço e perdi mais ainda as forças. Não consegui me mexer e as pálpebras pesavam tanto...

(...)

Voltei ao campo que estava antes, ainda com o bilhete em mãos. Pensei em dar meia volta e esquecer essa maluquice, mas o portal já havia se fechado. Sendo alucinação ou não, agora estou presa. Tudo que me restava era "encontrar o Lunático ao final do horizonte", mas horizontes acabam? Não estou certa disso. Observei o entorno em busca de respostas: encontrei apenas um gramado interminável à minha esquerda; atrás de mim, uma trilha que levava ao que aparentemente era uma cidade, discretamente visível ao fundo; à direita, um penhasco, e à frente, uma floresta densa. Além dessas coisas, não havia mais nenhuma pista do que o bilhete poderia se tratar.

Raciocinando um pouco melhor, notei que não podia enxergar nada além do penhasco. Mesmo olhando atentamente, o céu detrás dele parecia não ter fim. Segui, esperançosa de que era o caminho certo. Não estava segura de que era melhor ideia, mesmo assim, não sei em que porcaria de lugar estou e nem sei quem é Galático, mas, por enquanto, ele é minha única esperança de voltar para casa.

Dei os primeiros passos em direção ao desfiladeiro. Ele se distanciava à medida que eu andava e não entendia como poderia ser possível. Tentei apressar o passo, até mesmo correr, mas nada adiantava, o penhasco era simplesmente inalcançável. Era como se não estivesse saindo do lugar. Como poderia chegar lá se nem consigo dar um passo? Enraivecida, protestei, arremessando uma das pedras do caminho.

Surpreendentemente, a pedra deu meia volta e estava vindo em minha direção. Felizmente, uma mão surgiu na frente do meu rosto e impediu o impacto.

Era um homem esguio, de cabelos e olhos castanhos. Aparentávamos ter a mesma idade.

—Precisa de ajuda?— Ele sugeriu. Me pergunto de onde surgiu.

—Acho que sim.

—Estou ao seu dispor. Pode falar.

—Você sabe como chegar lá? —Apontei na direção do penhasco.

—Sim, é só seguir em frente.

—Mas estou seguindo em frente há um tempão e não adiantou.— Protestei

—É porque está seguindo em frente errado.

Como assim errado? Não tem como errar nisso. É só andar em linha reta. Estou cansada de tudo aqui não fazer o menor sentido.

Respirei fundo para manter a calma e questionei:

—Tudo bem então, como é o certo?

—Vou te mostrar. —Saiu andando em direção à floresta. —Você vem ou não?

—Já que insiste... —Dei de ombros e o acompanhei.

Incrivelmente, o rapaz estava certo. Era como se o chão virasse conforme andávamos, até chegar à beira do penhasco.

—Fantástico! Como você fez isso?

—Às vezes, só é preciso saber que o mundo gira, não importa pra que lado. Entende?

—Hum... não. —Afirmei, pensativa.

—Me chamo Yuri, prazer em conhecer.— Estendeu a mão para cumprimentar.

—Prazer, Maria.

A vista é linda daqui. O penhasco é tão profundo que não consigo
enxergar o chão, e o céu parece não ter fim, em tons rosa e alaranjados, formando o espetáculo natural do crepúsculo. Sentei numa das rochas para apreciar a vista e Yuri me acompanhou, sentado na grama ao lado.

—Então, Maria, por que estamos aqui? —Perguntou.

—Um bilhete me mandou ir ao final do horizonte encontrar um tal de Galático.

Ela não pôde conter a gargalhada diante a tal absurdo.

—Hahahaha, você é louca! —Caçoou.

O chão daqui faz curva sozinho e eu que sou a louca. Esse lugar é louco!

—Que seja. Parece que ele não vem, afinal. —Exalei, desanimada.

—Nós podemos ficar até amanhecer, se quiser. É perigoso andar por aqui à noite. —Sugeriu.

Não acho seguro dormir ao lado de um desconhecido, mas não tinha outra opção.

—Tudo bem.— Concordei.

Ele pegou dois pedaços de lona na mochila e forrou o chão. A Lua já iluminava o céu estrelado, performando um espetáculo de luzes. Passamos um bom tempo admirando o céu e conversando sobre variados assuntos. Descobri que Yuri é uma pessoa muito prestativa, ama doces e sua cor favorita é azul. Além disso, gosta de atividades ao ar livre e toca violão. Uma pessoa bem interessante, diferente dessa porcaria que vos fala. Não deve ter sido nada legal ouvir sobre a vida de um vegetal que só come, dorme, chora e trabalha.

—Ei, Maria. —Chamou. —Você já pensou que a nossa vida pode ser só uma parte da mente de alguém?

Talvez estivesse certo. Me pergunto se isso não faz parte da minha mente.

—Não, nunca. Que viagem! —Menti.

—Pois é, que viagem... —Bocejou. —Boa noite, Maria.

—Boa noite, Yuri.

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⏰ Última atualização: Jan 18, 2019 ⏰

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