capítulo único

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Há algo peculiar sobre os pássaros mortos despojados no quintal da casa; O jeito como suas asas foram cortadas fora, como suas penas foram artisticamente arrancadas e como, por vezes, há algo intrisicamente poético nos curtos miolos dos seus cérebros sangrentos.

Todas as vezes que Emeline visita seu professor de literatura e ortografia é aquela constatação que lhe vem a mente, como uma pequena traça que come todos os seus miolos ao ponderar sobre as pequenas e melodicamente mortas criaturas no quintal da antiga casa vitoriana.

Agosto, 1952, Cracóvia.

Naquela manhã as coisas não seguiram um roteiro diferente. Era quarta-feira e o relógio zumbia incansavelmente acima do armário da casa enquanto o barulho de tique-taque ecoava por todo lugar.

Emeline terminou o café com uma velocidade de acordo, tomando goles e mais goles de suco e puxando a bolsa de couro até as costas, enquanto arrumava os cachos de chocolate frente a um espelho com bordas douradas.

Sua mãe a proibia o uso de batom ou qualquer adorno ao redor de sua pele, então, cuidadosamente, a garota depositou dois beliscões em cada uma de suas bochechas, dando uma mordida sútil no lábio. Ignorando a dor recém-instalada no local, encarou-se outra vez, sorriu e deixou o lugar após se despedir da mãe e das três irmãs mais novas, com beijos em bochechas e um acenos animados.

Era saltitate o modo como a quarta-feira havia se tornado um dos seus melhores dias da semana, a fazendo querer parecer uma garota bonita por trás da pele pálida e do corpo raquítico. Algo como uma mulher que um homem deveria amar e que não brincava mais com bonecas. O professor Clark sentiria orgulho do como ela havia mudado. Do modo com que havia deixado todo o estigma infantil que a perseguia para debaixo do túmulo, sem qualquer pesar infantil. Porque agora Emeline tinha lábios vermelhos e bochechas coradas que seriam delicadamente acariciadas por suas mãos compridas.

Seu pés eram inconfudivelmente rápidos ao redor nos pedais da bicicleta e giravam atravessando a ponte curta acima do rio. Seus cabelos castanhos saltavam livremente da trança mal-feita e a pele tinha um rubor devido as marcas de seus dedos e o vento cortando delicamente as maças do rosto. Tentou ignorar os guinchados estridentes dos corvos, ou das cigarras se exaurindo pelo tempo frio. Há algo mais contente do que o simples ato de observar o modo alheio com que o mundo se move.

Ela precisava conter-se, deixar seus pés irem com calma, ainda assim. Porque não queria que o Professor Clark a achasse suja e imatura. Infantil.

Diminuiu o ritmo nos pedais e por alguns instantes deixou seus olhos escuros passearem por toda paisegem da cidade séptica. Mulheres com saias longas e batons vermelhos, com sapatos saltados dentro de casas bonitas. Homens de terno e sapatos de couro com chapéus elegantes saindo de suas casas e deixando as mulheres bonitas que acenavam.

Eles pareciam com ele. - Ponderou Emeline, no instante em que algo capturou sua visão, arrancando-a dos devaneios eloquentes. Parou-se, pousando um dos pés no chão e deixando o direito ainda fincado em um dos pedais enquanto via uma imagem estranhamente familiar pousada a poucos passos a sua frente.

Uma folha de papel branca pregava-se a parede com a foto de uma garota com pouco menos que a sua idade. Seus cabelos eram longos e encaracolados, e, embora tudo estivesse no mesmo tom séptico e preto e branco, pode jurar ver seus mesmos olhos castanhos na imagem, com uma mancha escura cobrindo a lateral esquerda de seu rosto e uma fita branca pousada suavemente emseus cachos. Pouco abaixo, encontrava-se as palavras:
"Laura Slowski, DESAPARECIDA. 12 anos".

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