CAPÍTULO 2

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  Me ajeito no banco, pego as minhas coisas e ando em direção ao carro o mais rápido que posso tentando não parecer uma lunática. Abro a porta do meu carro vermelho sangue um pouco enferrujado e me sento no banco de couro falso apoiando o rosto abaixado nas mãos. Cogitei a ideia de ir ao hospital, talvez eu estivesse com a pressão baixa ou algo do tipo mas eles provavelmente ligariam para os meus pais e isso era uma coisa que eu realemente não queria. Queria ficar longe de tudo isso.
  Levantei o rosto e prendi o meu cabelo para trás, percebi que tinha alguma coisa presa no para-brisa do carro. Abaixei o vidro a minha esquerda e me estiquei para fora o suficiente para poder alcança- lo fazendo com que alguns ossos estralassem. Era um pedaço de papel amarelado e pequeno como um bilhete, então comecei a ler.

' Te conheço desde os seus primeiros dias de vida e finalmente você também poderá nos conhecer, e principalmente conhecer a você mesma. para a floresta quando a lua der o seu sinal.

Você saberá o que fazer.'

Amassei o bilhete em forma de bola e ri alto, jogando-o em algum canto do carro tentando me fazer acreditar que talvez alguma criança desocupada poderia ter feito aquilo, mas no fundo, minha consciência gritava e o associava ao que eu ouvi claramente a poucos minutos.
Corra, te encontrarei na floresta!
Eu repetia comigo mesma tentando achar algum sentido. Eu sentia que deveria ir, ignorar o medo e preencher a incógnita com respostas. Dei partida no carro e dirigi até o Nune's que não ficava muito longe, eu precisava de um tempo para pensar e principalmente de chá quente que deixava tudo mais claro em tempos difíceis.
Nune's é um lugar acolhedor e bem organizado, com a sua entrada laranja e anil me fazendo lembrar dos velhos tempos. Empurro a porta pouco engraxada que faz um rangido quando eu entro. Tudo está como sempre, me sento em uma mesa um pouco longe do balcão onde há menos concentração de pessoas, não quero escutar a conversa dos outros clientes, só preciso de paz.
Uma garçonete se aproxima a passos lentos e diz com um enorme sorriso forçado no rosto:
- Bem vinda ao Nune's!- retribuo o sorriso - Posso anotar o seu pedido?
-  Um chá de canela, por favor!
- Seu pedido logo será servido - disse com a voz esgarniçada, anotando no bloquinho e voltando para o balcão.
Meu celular está no bolso traseiro da calça jeans surrada, eu o pego, me conecto ao Wi-Fi da lanchonete e entro no Google pesquisando por sintomas de esquizofrenia. Dizia a página que era necessário um diagnóstico médico e que caracterizava se por pensamentos ou experiências que parecem não ter contato com a realidade, fala ou comportamento desorganizado e participação reduzida nas atividades cotidianas. Cada palavra que eu lia me dava aflição e mais aflição, eu não queria aquilo.
Percebi que alguém se sentava na cadeira ao lado na mesma mesa que eu, o que me fez desconfiar. Era o garoto do parque que agora está me encarando como se eu fosse um suspeito de homicídio.
- Olá? - tentei dar início a alguma coisa.
- O Alfa me mandou aqui, disse que você estaria cheia de perguntas - Ele se ajeita na mesa, parece ter toda a certeza do mundo no olhar mas por um segundo isso volta como medo ou talvez indiferença.
- Alfa? - Ele se ajeita novamente e fecha os olhos lentamente, como se ele tivesse acionado algum botão mágico que me fez voltar a ter aquelas sensações novamente, cada segundo ficava mais forte e se foi novamente quando ele abriu os olhos.
- Isso se chama instinto, usamos para identificar quando alguém é um dos nossos, para pedir ajuda e entre outras coisas. Quando ele é aprimorado é possível a comunicação com outros de nós.
Fico em silêncio e só quero ouvir mais.
- Alfa é o nosso líder, ele te mandou um bilhete, disse que já era a hora, que você deveria se juntar a nós - Ele estica o braço direito e arregaça a manga deixando o antebraço a mostra e com ele a cicatriz do que parecia uma mordida de um cachorro grande, logo a esconde novamente. Eu imagino a dor e sangue na hora da mordida.
- Nós? - Algo em mim diz que isso é real e acredito em cada palavra mesmo tendo motivos para não acreditar.
- A sua matilha - Ele fala firme.
- Lobos? Como uma gangue? - Quando eu termino a frase ele já se levantou e está próximo a porta e acenou em despedida.
  'Vá a floresta quando a lua se levantar, eu disse demais! Você terá mais respostas com o Alfa, até lá te manterei no caminho certo'.
Ele entrou na minha cabeça de novo exatamente como antes, me deixando a certeza de que eu deveria esperar e fazer exatamente o que disse. Eu iria naquela floresta.
A garçonete apareceu em seguida segurando o chá sobre a bandeja e colocando o na mesa:
- Açúcar? - Ela perguntou.
- Não, obrigada!
- Todos aguardamos muito por isso - Ela saiu dando uma piscadela.

 




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⏰ Última atualização: Oct 22, 2018 ⏰

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