Capítulo único.

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Maggie havia ido embora.

E agora estava voltando.

Não era justo, não quando ela havia deixado tudo para trás com o intuito de seguir sua própria vida, sozinha. Parecia egoísta e, de fato, era. Tudo o que ela conseguia pensar era em Alex. Lembrava dos cabelos curtos e acobreados da ex-namorada, lembrava dos beijos, do toque, da calmaria que sentia ao ter a respiração alheia tão perto de si, como uma brisa suave a qual acalmava até mesmo o mais agitado dos corações. Apesar do cansaço da viagem e o fato de que qualquer pessoa normal morreria por uma cama e um bom banho, isso era o de menos para Maggie, já que tudo o que ela mais desejava era se afundar nos braços da agente, isto é, se a outra ainda lhe quisesse, e tinha certeza absoluta que queria.

E Alex, bem, Alex estava bem, ótima, apesar dos pensamentos. Meses haviam se passado e era o mínimo que ela poderia fazer por si mesma. O que sentiu ao ver a última mecha longa do cabelo moreno cruzar sua porta foi algo que ela nunca havia se preparado, ou esperado, isso porque sua indiferença ao final de qualquer ficada com seus namorados de adolescência nada chegava perto da dor que sentiu quando Maggie se mudou. Meses passaram, dias em que, por várias horas, pegava-se pensando na ex e no quão danoso foi o término. Claro que todo esse tempo foi um martírio para ambas, ninguém sai de um relacionamento sério sem o mínimo de mágoa, de remorso e dúvida pelo "e se eu pudesse ter feito melhor? Estaríamos assim?". Alex pensou nisso todos os dias. Ocupar-se com o trabalho ajudava e muito, mas continuava não sendo o bastante. Só de imaginar Maggie com outra pessoa seu peito se enchia lentamente de algo que ela não fazia a menor ideia do que era, talvez raiva, talvez insegurança, e só de pensar que foi deixada, que algo tão especial foi simplesmente descartado, uma tristeza profunda lhe inundava. Pensar na felicidade de Maggie lhe trazia alívio e o nome da outra carregava um amargo na boca, pesava-lhe à língua, pelo puro egocentrismo de achar que não foi boa o suficiente para fazê-la ser feliz ali, em National City.

Quem havia lhe ajudado com tudo isso foram três pessoas. Kara Danvers, sua irmã e uma das pessoas mais especiais da sua vida, a qual sempre contribuía com conversas noturnas, um bom abraço e uma boa rodada de pizza. Além de promover mais carboidrato para seu corpo por várias noites seguidas, Kara entendia, ela sentia e sabia a dor de ter um amor e um nome os quais foram embora, ou ao menos estava indo aos poucos, com sabor de donuts, mentiras, calabresa e um pouco de cerveja quando as coisas pioravam.

A outra pessoa que lhe ajudou, ou meia pessoa, foi a adolescente Ruby Arias, a qual Alex havia quase adotado como filha. Claro que eram problemas pessoais que uma garota da idade de Ruby pouco saberia aconselhar sem uma visão totalmente romântica e inexperiente da coisa, todavia, isso era o melhor de tudo, saber que a simples menção do amor, aos olhos brilhantes e inocentes de alguns, pode ainda ser apaixonante e doce, com gosto de sorvete, mesmo que Alex não pudesse negar que ainda tinha essa visão do tal sentimento e, bem, sabia que também existiam sorvetes azedos.

Além disso, os passeios que ela e a menor tinham com Sam Arias eram os melhores quando a ruiva encontrava-se mais cabisbaixa. Aliás, é esse um dos três nomes que mais chamava quando estava precisando de conforto, chorar um pouco ou apenas se distrair. Sam se mostrou uma ótima amiga durante todo esse tempo, e dizem que favores não se pagam, sendo assim, Alex tinha uma dívida eterna com Arias. Só por aguentar as crises de ansiedade, de autoestima e as paranóias que a agente inventava, Samantha deveria ser canonizada, ademais, ela também se mostrava a companhia perfeita, quando passavam a noite vendo filmes, jogando cartas, olhando o teto do apartamento da ruiva ou somente dançando sem nenhuma melodia ecoar por lugar nenhum. Com o tempo, ligar para ela no meio da madrugada, chamar seu nome após o primeiro toque e o primeiro "alô" passou a ter gosto de céu, assim como todas as palavras que foram proferidas quando Alex a ligou para dizer que estava apaixonada tiveram gosto de nervosismo, flores desabrochando na barriga e um pouquinho de whisky.

A partir daí, engataram em uma relação que não podia ser mais bem sucedida. Brigas ocorriam e desentendimentos também, como todo namoro, e não importava já que os laços de amizade, cumplicidade e o romântico apenas ficavam mais fortes após esses episódios. Depois de tempos, Alex, finalmente, sentia-se feliz, isso ela podia afirmar com todas as letras. Sam era sua companheira, trazia-lhe estabilidade, confiança, algo que Maggie não conseguiu lhe dar por completo nem no tempo em que namoraram.

Todavia, o que está sendo lido sequer teria sido escrito sem uma situação má resolvida, e ela se deu por parte de Maggie. Ela estava voltando à cidade por certos motivos, e um deles era a agente. Nunca havia aprendido a lidar com a ausência dela, pensar nela todos os dias lhe causava uma dor enorme. A morena se culpava, um furdunço acontecia dentro de si ao relembrar os olhos úmidos de Alex na última vez que se encontraram, no último "tchau". Ela nunca se perdoaria caso quebrasse sua amada e não pudesse consertá-la, ou pior, se alguém a consertasse por si. Queria sua mulher de volta. Sabia que ela poderia estar muito bem sem a própria presença, entretanto, tinha um sentimento gritando em seu peito o qual dizia que Alex ainda estava lhe esperando. Ela nunca esteve mais errada.

A noite que deveria ser perfeita com um filme colocado na TV, alguns doces pra comer, uma pizza e as melhores companhias, acabou por ser interrompida por um som breve e calmo que vinha pela porta, nada parecido com a agitação que a inusitada visita causaria.

– O entregador foi rápido hoje, ou deve ser só a Kara querendo usurpar um pedaço. Meu bem, eu vou lá atender, sim? RUBY! Não coma todas as jujubas boas e não deixe somente as ruins pra mim. Estou de olho.

Uma risada descontraída foi dada contra os lábios de Alex assim que ela e Sam trocaram um rápido beijo, enquanto um bufo foi ouvido da sala, patrocinado pela adolescente. Da mesma forma que foi comunicado, a mulher acobreada deu um tapa leve na bunda da namorada – é claro – antes de ir atender ao entregador, preguiçosamente, devido ao cansaço.

A forma que Maggie e Alex se olharam foi tão intensa e desconfortável que incomodou às duas. Talvez o que estivessem sentindo fosse um resquício de intensidade, das lembranças, de tudo o que nunca poderia ser esquecido por ambas. Tal coisa lhe trouxe um sentimento de impotência e até mesmo desespero, já que tinha algo de errado, Alex estava mudada e nada parecia estar no lugar, e o longo tempo que ficaram se olhando foi o suficiente pra que a determinação de Maggie se esvaísse um pouco.

– Alex? Eu volt-

Amor? Tudo bem aí? Está demorando...

Uma voz feminina desconhecida foi ouvida por Maggie no interior da casa e, mesmo sem ter certeza de quem era, Sam abraçou Alex por trás e deu um beijo em seu ombro, resgatando a intimidade e o carinho que nunca foi perdido por elas. A respiração da ruiva sequer se alterou, ela apenas continuou encarando Sawyer, e a única alteração no próprio corpo eram as mãos que agora se agarravam às de Sam, pousadas sobre o seu abdômen. Olhando Maggie, tinha certeza que a morena já sabia. Ela a havia perdido, Alex não era mais dela, alguém já a tinha no momento, Alex tinha a si própria e Sam tinha um pouquinho do seu coração, a única porção que se permitiria dar a alguém daqui pra frente.

Foi olhando o rosto esquecido de Maggie, a expressão machucada, triste e chocada, que ela sentiu outro gosto, o gosto que nunca havia sentido ao presenciar a dor alheia.

O gosto da satisfação.

Names And Tastes ➢ AgentReign/SanversWhere stories live. Discover now