INTRODUÇÃO

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MINHAS AVENTURAS NA ARENA DA VIDA

    Passei a vida inteira tentando contornar e vencer a vulnerabilidade. Tenho aversão a incertezas e a exposições emocionais. Na época do colégio, quando a maioria de nós passa a lutar com a vulnerabilidade, comecei a desenvolver e afiar o meu arsenal de defesa contra essa emoção incômoda.
    Por muito tempo tentei de tudo – desde ser a “garota perfeitinha” até me tornar a poeta exótica, a ativista indignada, a profissional ambiciosa, a baladeira descontrolada. À primeira vista, esses papéis podem parecer estágios de desenvolvimento razoáveis, senão previsíveis, mas eles eram mais do que isso para mim. Todas essas etapas constituíam diferentes armaduras que me impediam de me tornar excessivamente comprometida e vulnerável. Cada tática era construída sobre a mesma premissa: manter todo mundo a uma distância segura e sempre ter uma saída estratégica.
    Apesar do meu medo da vulnerabilidade, sei que herdei um coração amoroso e um caráter solidário. Então, perto de completar 30 anos, deixei um cargo de gerência na gigante das telecomunicações AT&T, arranjei um emprego de garçonete e voltei à faculdade para me formar como assistente social.
    Assim como muitas pessoas que se interessam pelo serviço social, eu gostava da ideia de “consertar” gente e sistemas. Foi só quando já havia terminado o bacharelado e cursava o mestrado que percebi que o serviço social não tinha a ver com “consertar”. Em vez disso, trata-se de
contextualizar e apoiar. Sua missão é mergulhar no desconforto da ambiguidade e da incerteza e criar
um espaço de solidariedade para que as pessoas encontrem o próprio caminho.
    Enquanto eu lutava para descobrir como uma carreira no campo da assistência social poderia realmente dar certo para mim, fui fulminada pela afirmação de um de meus orientadores: “Se você não consegue medir, não existe.” Ele explicava que, diferentemente de outras matérias do curso, pesquisa tem tudo a ver com previsão e controle. Fiquei impressionada. “Você quer dizer que, em vez de apoiar e acolher, eu deveria dedicar minha carreira à previsão e ao controle?” Naquele instante eu descobri a minha vocação. Hoje posso dizer que sou uma pesquisadora de dados qualitativos, ou seja: uma contadora de histórias.
    A maior certeza que eu trouxe da minha formação em serviço social é esta: estamos aqui para criar vínculos com as pessoas. Fomos concebidos para nos conectar uns com os outros. Esse contato é o que dá propósito e sentido à nossa vida, e, sem ele, sofremos. Por isso decidi desenvolver uma pesquisa que explicasse a anatomia do vínculo humano, das relações e das conexões entre as pessoas.
    Quando os participantes da minha pesquisa eram solicitados a compartilhar seus relacionamentos
e suas experiências de vínculo mais importantes, sempre me falavam de decepções, traições e humilhações – do medo de não serem dignos de uma conexão verdadeira. Parece que nós, seres humanos, temos uma tendência para definir as coisas pelo que elas não são, sobretudo quando se trata de experiências emocionais. Esse fato realmente chamou a minha atenção.
    Portanto, um pouco por acaso, eu passei a pesquisar os sentimentos de vergonha e empatia, e levei seis anos desenvolvendo uma teoria que explica o que é a vergonha, como funciona e o que fazer para combater a crença de que não somos bons o bastante e de que não somos dignos de amor e de relacionamentos. Em 2006, descobri que, além de compreender esse sentimento, comecei a querer investigar o outro lado da moeda: o que têm em comum as pessoas que lidam bem com a vergonha e acreditam no próprio valor – que eu chamo de “pessoas plenas”?
    No meu livro A Arte Da Imperfeição, defino os 10 sinais de uma vida abundante, que indicam o que uma pessoa plena se esforça para cultivar e do que ela luta para se libertar.

Uma pessoa plena:

1. Cultiva a autenticidade; se liberta do que os outros pensam.
2. Cultiva a autocompaixão; se liberta do perfeccionismo.
3. Cultiva um espírito flexível; se liberta da monotonia e da impotência.
4. Cultiva gratidão e alegria; se liberta do sentimento de escassez e do medo do desconhecido.
5. Cultiva intuição e fé; se liberta da necessidade de certezas.
6. Cultiva a criatividade; se liberta da comparação.
7. Cultiva o lazer e o descanso; se liberta da exaustão como símbolo de status e da produtividade como fator de autoestima.
8. Cultiva a calma e a tranquilidade; se liberta da ansiedade como estilo de vida.
9. Cultiva tarefas relevantes; se liberta de dúvidas e suposições.
10. Cultiva risadas, música e dança; se liberta da indiferença e de “estar sempre no controle”.

A Coragem de Ser Imperfeito - Brené Brown Onde histórias criam vida. Descubra agora