UM ANO DE LUTAS

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Dando um suspiro de cansaço, Rebecca abriu a porta de sua casa,
fechou-a com um chute para trás e caiu exausta na poltrona. Chico, seu gato siamês, imediatamente pulou para o lado dela e começou a ronronar.
— "O que há de bom para se ronronar, velho amigo?", — ela resmungou, afagando seu pelo sedoso. — Já passam das dez da noite e eu ainda não comi nada.

Chico miou em concordância.

— Bem, ficar sentada aqui não vai resolver nada, — Rebecca disse com
um bocejo, enquanto se levantava da poltrona. Ela acendeu um abajur e dirigiu-se para ligar o som estéreo.

— Não!

O comando vindo do Espírito Santo surgiu em sua mente. Sua mão parou sobre a chave que ligava o aparelho.

— Não? — ela perguntou, — o que dizer com isso, Senhor?

— Não ligue o estéreo, — foi a pronta resposta, e então houve silêncio.

— O que é agora? — Rebecca resmungou, — será que eles nunca
desistem? Por quanto tempo isso ainda vai continuar?

Ela ligou outra luz e cautelosamente arrastou o aparelho estéreo,
examinando os fios na parte de trás do amplificador. Ali estava uma pequena bomba incendiária, parecida com um bastão de dinamite, ligada ao estéreo. Se ela o tivesse ligado, ela teria se tornado história. Delicadamente ela retirou a
tomada da parede e, com cuidado, desconectou os fios. Felizmente Elaine tinha ensinado muito bem. Elaine costumava fazer tais bombas quando estava na seita satânica e ela havia ensinado a Rebecca como desativá-las.
Com um suspiro de alívio, Rebecca cuidadosamente colocou a bomba
numa caixa para livrar-se dela mais tarde de forma segura, e então reconectou os fios do estéreo. Pondo um disco com músicas de louvor, ela dirigiu-se à cozinha para comer alguma coisa. Enquanto examinava, cansada, o que havia na geladeira, o Senhor falou-lhe novamente.            

— Verifique qual é o antídoto de Pavulon; já que você se esqueceu disso.

— Agora, Senhor? Estou faminta!

Rebecca havia trabalhado no hospital quase ininterruptamente desde as 7
horas da manhã, naquele dia. Ela estava há várias semanas com um horário sem dias de folga e com muito pouco tempo de repouso. A prolongada situação crítica de Elaine juntamente com os ataques incansáveis dos satanistas estava lhe pesando. Ela estava completamente exausta, física e emocionalmente.

— Agora! — foi a ordem do Senhor.

A intensidade dos últimos dois anos haviam sedimentado em Rebecca o
hábito de obediência instantânea a qualquer direção do Senhor. Ela fechou a porta do refrigerador e foi à estante onde estavam seus livros de medicina.
Pavulon é um remédio utilizado diariamente em cirurgias nos hospitais. Ele é ministrado diretamente nas veias do paciente, através de uma injeção intravenosa. Causa completa paralisia de todos os músculos em segundos e o
efeito dura cerca de uma hora, a não ser que a dosagem seja repetida. É usado durante cirurgias para paralisar os músculos do paciente, para evitar espasmos e assim minimizar danos aos músculos durante as cirurgias. Entretanto, na
cirurgia, o anestesista usa um dispositivo especial para fazer o paciente respirar.
Se não fizesse isso, o paciente morreria porque a paralisia muscular causada pelo Pavulon torna-lhe impossível respirar. O antídoto é a piridostigmina, uma substância também injetada nas veias, que reverte de forma quase instantânea a paralisia causada pelo Pavulon. Quando Rebecca fechou o livro de farmacologia, o Senhor falou com ela novamente, desta vez com urgência.

— Agora volte ao hospital, porque alguém está neste exato momento
começando a injetar Pavulon nas veias de Elaine.

Rebecca apanhou as chaves e correu à porta. Ela morava a cerca de dois
minutos do hospital. Ela saiu do seu carro e foi correndo pelas escadarias até o quarto de Elaine. Com efeito, quando chegou, encontrou Elaine azul pela falta de oxigênio, sem respirar. Ela acionou o código de emergência e as enfermeiras
vieram correndo trazendo o carrinho de emergência.
Acontecia que o médico responsável por Elaine, Jerry (este não é o seu
verdadeiro nome), estava no andar de baixo, na sala de emergência,
examinando um paciente. Quando Jerry ouviu o número do quarto sendo anunciado pelo sistema de comunicação interna do hospital, ele percebeu que se tratava do quarto de Elaine e veio correndo.
No momento em que Jerry chegou, Rebecca e os outros médicos da
equipe encarregada haviam colocado um tubo pela garganta de Elaine até seus pulmões e estavam usando um aparelho denominado Bolsa de Ambu para fazê-la respirar.

— O que é que está acontecendo? — foi a pergunta de Jerry.

— Eu não sei — respondeu Rebecca, — encontrei Elaine azul e sem
respirar. Ela ainda não está respirando.

— Posso ver isto, mas por quê? - Jerry correu com a mão pelo cabelo,
frustrado. — Nunca vi nada igual! E uma coisa atrás da outra, e não temos explicação para nenhum dos problemas dela!

Rebecca hesitou em responder, pensando consigo mesma o quanto do que sabia poderia dizer. Finalmente, decidiu dizer o que tinha em mente.

— Olhe, Jerry, eu sei que isto parece loucura, mas estes episódios nos
quais Elaine pára de respirar parecem exatamente como um paciente que toma Pavulon ou algo similar. Por que não tentamos usar um pouco de piridostigmina?

— Diabos! Como é que Pavulon iria parar nas veias de Elaine?

"E isso mesmo", Rebecca pensou, "você não sabe o quanto o diabo está
envolvido em tudo isto!" Calmamente ela disse:

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