Bônus II

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Uma vez, em uma aula de Sociologia, eu assisti a um discurso absurdamente longo. Ele tinha mais ou menos dezoito minutos de duração e falava sobre — isso mesmo — estereótipos. A pessoa que deu voz a esse discurso foi Chimamanda Adichie, uma das mais importantes escritoras africanas desta geração e também a mulher que me ensinou mais uma coisa sobre o tópico que eu acreditava já dominar: o principal problema dos estereótipos não está na possibilidade de eles serem falsos, mas no fato de que são incompletos. Faz sentido? Tudo bem. Eu vou explicar melhor: uma determinada nação é sempre vista de um modo geral pelos que a assistem de fora; pergunte a um estrangeiro o que ele acha dos russos e ele lhe dirá que são um povo que ingere álcool diariamente e raramente sorri à toa — e mais alguma coisa sobre nunca tentar invadí-los no inverno. Esse é o estereótipo sobre os russos e, querendo ou não, não se trata de uma inverdade, mas de uma meia verdade. Nem todos são assim e os que são não se resumem a isso.

O que também me remeteu a algo que meu — aaaaa — namorado dissera uma vez: “Você não pode pegar algo que possui características de um grupo maior e dizer que todos eles são iguais.”

Eu só não tenho certeza se Chimamanda e Jeongguk ficariam orgulhosos ou decepcionados com meus posicionamentos para com os ensinamentos deles.

— Mas se o Aquaman vive na água, por que o cabelo dele está sempre hidratado? — eu questionei contra o telefone.

— Ele é o Aquaman, cara. Deve ser imune à necessidade de hidratar o cabelo, exclusiva a nós, meros mortais. — Hale replicou, certificando-se de que a atenção do professor estava longe da gente.

— O que isso tem a ver com as características gerais dos equinodermos, senhoritas? — Gabe indagou, entediado. Olhei-o por cima dos ombros, encontrando sua figura sentada na última carteira da última fileira da sala. Ele segurava o telefone contra a orelha direita sem a mínima pretensão de escondê-lo.

— Gabe, cara, põem a touca. O professor vai ver. — eu o repreendi pela linha, observando-o rir de lado em resposta.

— Ele não tá nem aí. Olha pro velho, ele tá mais é ocupado em falar com o gênio Lee. — analisou a garota em pé ao lado da mesa do professor, umedecendo os lábios após fazê-lo. — E que pitel é essa japa, hein? Não é só o cérebro que é cheio de curvas, não.

— Gabriel, pelo amor de Deus — revirei os olhos, voltando a sentar-me da maneira correta. — Eu vou te expulsar da call. — ameacei, sorrindo acintosamente.

— Olha, eu voto sim por isso. — Hale comentou. Busquei-o com o olhar, encontrando-o do outro lado da sala, escondendo o celular dentro da manga da blusa e segurando-o na altura do ouvido. Esperto. Seu braço responsável por sustentar a arma do nosso crime escolar estava apoiado contra a mesa e o outro, solto em seu colo.

— Nem parece que vocês me amam. — o Salazares dramatizou.

— Porque a gente não ama. — Hale rebateu, rindo.

O professor de biologia havia feito uma mudança drástica no mapeamento seguido em sua aula. Hale, meu antigo parceiro, fora movido para o outro lado da sala e seu lugar acabou por ser tomado por alguma garota que já havia repetido por faltas. Pelo menos sobrava espaço para eu colocar a mochila na mesa dupla. De qualquer forma, nossa solução para conversar em sala foi o uso do maravilhoso e multifuncional Skype — que só incluía Gabriel porque ele era bom na matéria em questão.

— Mentirosos. — o mais baixo cantarolou. — Mas, de verdade, como alguém gabarita aquela prova? Tinha conteúdo que a gente nem estudou ainda.

— Asiáticos, cara. Eles são tipo o cabelo do Aquaman, só que com a vida. — Hale respondeu.

— Eles só têm uma cultura que valoriza mais o ensino. Não são super-humanos. — suspirei, entediada.

Estereótipo {Jungkook} Onde histórias criam vida. Descubra agora