A inutilidade dos estereótipos e espectativas

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Antes de voltar ao ponto em que parei, gostaria de ressaltar uma coisa: Jeongguk gostava de Justin Bieber. Justin Bieber! Quase não fez sentido em minha cabeça, até que me toquei de uma coisa: estereótipos não valem nada. Nada mesmo. Se aquele garoto, além de ser atlético e duplamente mais incrível do que eu imaginei, ainda ouvia Justin Bieber, EDEN,  Jeremih e era capaz de dançar e cantar tudo isso, todo o conhecimento que eu achava que tinha sobre as pessoas não era válido.

E, então, como se já não bastasse pisar nos meus conceitos e andar sem olhar para trás, ele me mostrou que a timidez também podia ser quebrada tão facilmente quanto uma cara.

Não que eu fosse tímida, mas de quebrar a cara eu entendia bem.

— O quê? — tirei os olhos da playlist dele e foquei-me nas orbes escuras que me encaravam, ansiosas.

— Tem? — ele não repetiu a frase toda.

— Eu não sou muito boa em manter relações. — disse a primeira coisa que veio em minha cabeça: a verdade. E me arrependi disso logo depois.

Jeongguk franziu o cenho em minha frente.

Não, não, não. O que eu fiz?

— Ah. — soltou o ar pela boca, lentamente. Suas mãos se espalmaram sobre suas coxas e seu olhar fora desviado.

Droga, mil vezes droga!

Abaixei a cabeça e arregalei os olhos, refletindo sobre o erro que tinha acabado de cometer.

— E eu não sou bom em começá-las. — ele disse e voltou a mirar-me, com aquele sorriso adorável nos lábios.

Eu pareci reaprender a respirar.

Quando ele pararia de me surpreender?

— Pessoas me assustam. Não sou bom com elas. — ele admitiu, mordendo seu lábio inferior.

Maddie, Hale, Tina e Phoebe haviam levantado e deixado a mesa com qualquer desculpa esfarrapa assim que Jeongguk se pôs em frente à ela, todavia, eu os via perfeitamente enquanto nos espionavam do pátio externo.

Ri baixinho antes de devolver minha atenção a Jeon e respondê-lo:

— Pessoas são estranhas. — olhei para o teto enquanto formava uma linha de pensamento. — Relações são estranhas. — continuei, olhando-o — Têm pessoas que você pode conhecer há anos e nunca conseguir ter um papo decente, assim como algumas conseguem arrancar risadas e histórias de infância de você em quinze minutos de conversa. — dei de ombros.

Jeongguk ficou alguns segundos em silêncio. Seus olhos me fitavam com um brilho diferente e um sorriso de lado surgia em seus lábios.

— Tem razão.

Eu estava nas nuvens e nem um pouco a fim de descer.

— Ela está apaixonada. — Hale disse como se eu não estivesse ao seu lado.

— Ela está obcecada. — Phoebe o corrigiu.

— Vocês sabem que o cérebro dela funciona assim: ou ela está cem por cento obcecada ou cem por cento nem aí. Não tem meio termo. — Maddie explicou, entediada.

— Mas isso é diferente. Não é como os outros. Ela realmente foi atrás deste. — Hale entortou o canto dos lábios.

— Ela não pode se apaixonar tão rápido. — Tina soou como se dissesse algo óbvio demais.

— Cientificamente falando, uma pessoa se apaixona em um quinto de segundo. — Maddie disse, levando uma colher de sorvete à boca logo em seguida.

— Eu me apaixono pela Phoebe todos os dias. — Tina cantarolou, recebendo um “aw” coletivo em resposta.

— Eu também te amo. — a loira respondeu. Elas só não trocaram saliva pois estavam em pólos opostos da mesa.

Eu já havia devorado o meu sorvete há vários minutos, estava apenas aguardando pelos outros enquanto brincava com a colher e sorria como uma boba.

— Eu não estou apaixonada. — murmurei, revirando os olhos. — Somos amigos.

— Você pesquisou sobre casamentos tradicionais coreanos e escutou Believe Acoustic durante toda a aula de Física. — Hale rebateu, dando um gole em seu milkshake logo em seguida.

— Ela estava falando coreano na aula de Sociologia. — Phoebe complementou.

— Eu já havia acabado a tarefa nos dois casos, em minha defesa. — comecei, erguendo o indicador direito. — E eu só queria saber mais sobre a cultura dele.

Jeongguk havia me dito que seu pai era norte americano, apesar de não ter sangue daqui. Ele se apaixonou pela mãe do garoto quando foi à Coreia do Sul fazer faculdade e, assim que eles se separaram anos depois, os dois Jeon voltaram à America com todo seu charme e olhinhos puxados.

Como os avós de Jeongguk haviam se naturalizado há um bom tempo, não foi difícil conseguir dupla cidadania para a sua versão criança e bochechuda.

— Pesquisar logo sobre casamentos é um pouco curioso. — Tina brincou.

— Eu descobri outras coisas, também. — soprei o ar por entre os lábios. — Tipo… eu sou a noona dele.

— O que é isso? — Hale indagou, franzindo o cenho.

— Uma forma de tratamento. É como ele devia me chamar, visto que eu sou mais velha.

— Isso não é, sei lá… apropriação cultural? — Phoebe questionou.

— A minha intenção não é essa. — ciciei, frustrada. — E sobre o Believe Acoustic: eu sempre gostei de Justin Bieber. Só fica ainda mais legal se ele também gosta.

Eu não odiava ir à escola. Céus, eu adorava! Sempre me disseram que o colegial é a melhor fase de nossas vidas e, bem, na maior parte do tempo, eu concordava.

É claro, existia aquele detalhinho chato de acordar cedo, mas ele podia ser relevado.

A questão é: ir ao colégio quando se gostava de alguém tornava tudo isso — ainda — melhor.

Isso não significa que eu acabei de confirmar gostar dele, só estava fazendo uma analogia. É sério! Mas não vou negar que saber que esbarria com Jeon pelos corredores me deixava mais motivada a adentrar aquele prédio enorme.

O fato de receber um bom dia de Jeongguk assim que eu acordei também foi muito motivador. Mas só. Eu juro.

Naquela manhã, eu estava praticamente saltitando pelos corredores outra vez, apesar de não ter visto Jeongguk entre os períodos.

Contudo, eu o vi no intervalo das aulas, mas isso não me deixou tão feliz quanto eu achei que ficaria.

Ele estava saindo do refeitório e eu entrando.

— Hey, Jeon! — usei um tom levemente alto, já que duzias de adolescentes nos separavam.

Ele não olhou, apenas continuou andando com um hambúrguer na mão.

Se eu pudesse controlar as coisas com minha mente, ele teria derrubado aquele maldito lanche no chão e tropeçado nele, machucando aquele rosto incrível.

Não é como se eu tivesse surtado depois disso, mas foi exatamente o que aconteceu.

— Ele nunca repara em nada. Talvez não tenha te visto, que nem no dia do susto. — Maddie disse. Assenti, querendo muito acreditar nessa teoria.

No entanto, pensar que ele ainda não notava a minha presença com a mesma facilidade na qual eu o fazia com a dele era decepcionante. Decepcionante demais para alguém que jurou não criar expectativas, aliás.

Estereótipo {Jungkook} Onde histórias criam vida. Descubra agora