Capítulo 3

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"Just like in the movies
It starts to rain and we
We're the broken beauties
Blindfolded minds collide and we fall"- Strangers, Sigrid

Hunt Noris

Eu passei minha vida lutando pelos meus sonhos, medicina sempre esteve no topo da lista. Quando eu terminei o ensino médio, eu saí de casa para o dormitório da universidade. Eu não via a hora de sair daquela casa, minha relação com a minha família nunca foi das melhores, e se algum dia foi eu não me lembro. Por isso comecei a trabalhar para não ter que ser sustentado pelos meus pais.

Eu dediquei meus anos estudando medicina, tive alguns relacionamentos, mas nada sério, eu não estava preparado para dar atenção a outra coisa que não fosse a medicina. Quando terminei a faculdade, comecei a trabalhar numa clínica muito boa, mas eu e mais um amigo da faculdade, Brendom, decidimos criar nossa própria clínica. Ainda não completamos 5 anos de existência da clínica, mas ela já é uma das melhores da cidade, me sinto como um pai orgulhoso quando falo dessa clínica, esse lugar virou meu lar e meu abrigo.

Eu já vive milhares de situações neste lugar, tanto boas quanto ruins, desde a felicidade de salvar uma vida à tristeza de ter que dizer a família que não fizemos tudo que estava ao nosso alcance mas perdemos uma vida. Eu podia deixar o trabalho de médico para ficar apenas administrando a clínica, mas eu não gastei todos esses anos pra isso, eu amo o que eu faço e vou continuar com isso até o fim da minha vida.

Foi aqui que eu conheci aquela menina dos olhos cor de mel, Valerie.

Desde que chegou, aquela criança despertou algo diferente em mim, mesmo que sendo abandonada e sem ter como pagar, eu não pude tirar ela daqui. Ela estava numa fase critica do câncer, eu não podia simplesmente virar as costas para ela. Mesmo com tudo o que passou ela sempre mantém aquele sorriso que derrete o meu coração, por isso eu prometi pra mim que vou adotar ela, eu já venho pensado nisso a algum tempo e hoje eu irei anunciar isso a ela.

- Luz do meu dia.... - cantarolo entrando em seu quarto, mas travo quando vejo uma mulher sentada ao seu lado na cama, a cara dela não é estranha para mim mas não me lembro de onde a vi. Fico surpresa por ter alguém aqui, porque ninguém visita ela além de mim e alguns médicos e enfermeiros.

Meu sangue gela só de pensar que ela pode ser alguém da família dela, que abandonou a pobre menina num estado crítico. Logo meu sorriso se desmancha.

- Quem é você? - pergunto mas não dou tempo dela responder - Podemos conversar lá fora?

Ela assente se assustando um pouco com meu jeito rude, e se vira para se despedir de Valerie.

- Tchau Val- ela dá um abraço na nela.

- Você virá aqui de novo? - Valerie pergunta daquele jeito doce dela que ninguém consegue resistir.

- Claro minha linda, assim que eu puder estarei aqui - ela saí do quarto e eu segui ela, prometendo a Valerie que não demoraria.

- Olha  eu não sei quem você é mas eu não quero ver você aqui. A Valerie é uma menina muito frágil e ela já foi abandonada uma vez e não precisa passar por isso de novo. - eu digo um pouco alterado.

- Eu não sei porque você está agindo feito um louco comigo, mas primeiro você deve ser médico e sabe muito bem que não pode ficar gritando no corredor-talvez eu tenha elevado um pouco a voz mas que o necessário, fico um pouco envergonhado por isso - Segundo, eu virei visitar a Val de novo, porque ela gostou muito de me ter por perto. E você não é ninguém para me proibir.

- Ela não precisa de você, você abandonou a garota aqui e agora volta como se não tivesse acontecido nada. E eu posso proibir você sim, eu sou um dos médicos desse lugar além de ser o dono.

Ela parece ficar confusa com o que acabei de despejar.

- Eu não abandonei ela, eu conheci ela hoje - fico surpreso com a sua revelação- Eu vim aqui simplesmente para dar um pouco de alegria para essas crianças com a minha dança e conheci a Valerie. Mesmo que o senhor não permita, eu vou continuar vendo ela porque eu prometi isso a ela.

Um pouco mais calmo me dou conta de que fui muito grosseiro com ela e que ela não era quem eu pensei. E me lembro de que Emma me avisou que tinha uma mulher entretendo as crianças, eu queria ir ver mas não tive tempo, estou atolado de trabalho hoje.

- Me desculpa, talvez eu exagerei um pouco - ela ergue suas sombras questionando o que eu falei - Ok, talvez mais que um pouco. Mas eu pensei que você fosse da família que abandonou ela e não pude me conter, essa garota significa muito para mim e não quero que ela sofra mais.

- É bom saber que tem alguém se preocupando com ela, ela merece receber amor e carinho como qualquer criança - concordo querendo comentar, mas ela continua falando - Maaas, isso não te dá o direito de ser mal educado com as pessoas.

- Me desculpa outra vez por isso, e já que a Valerie gostou de você, você pode vir visitá-la.

- Eu viria mesmo sem a sua permição, então não preciso dela-diz ríspida, ela conseguiu me irritar um pouco.

- E se eu proibisse a sua entrada aqui, o que você faria?- desafio ela encarando seus olhos escuros, que chegam a hipnotizar.

- Eu tenho meus métodos!- ela esbanja um sorriso brincalhão, que é muito bonito por sinal - A gente se vê por aí.

Ela saí rebolando, com seus cachos voando. Atrevida!

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