Capítulo 1 - Moira

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Eu estava pronta para mais um dia como outro qualquer, infelizmente tive a ideia de pegar o metrô, afim de economizar um pouco de gasolina. Não era comum que fizesse isso, mas precisava dar a minha cara a tapa.

Era uma manhã de junho onde fazia um frio "infernal" e de repente, metade da cidade teve o mesmo pensamento que o meu, talvez porque seria mais gostoso serem espremidos como sardinhas em uma lata gigante, já que o calor humano é muito melhor que um ar quente de carro.

Para melhorar a situação, por algum motivo divino, o trem fazia pausas eternas entre as estações.

Hoje não é o seu dia.

Mesmo andando em um transporte público eu insistia em estar bem arrumada, afinal de contas, "...se não for para sair bonita de casa, eu nem saio, não é mesmo, meu amor?", foi o que eu li no livro "Manual da Mulher Vigorosa" da escritora Aghata Pazos, muito boa a leitura, recomendo.

Mas nem sempre andar bonita significa ter um percurso tranquilo, chamo muita atenção das pessoas, pode ser a velha mania que tenho de usar um óculos redondo que me deixa com cara de coruja ou o meu cabelo ruivo cor de fogo que parece brilhar mais do que tudo.

Você pode até me achar babaca por dizer isso, mas eu odeio a cor do meu cabelo, não irei mudar somente por isso, é que as vezes eu fico chateada de alguém chegar pra mim e me elogiar por uma simples cor de cabelo, as vezes acabo causando antipatia entre as mulheres por causa disso, graças aos homens que insistem em pensar que eu sou fácil.

Não é pelo fato de ser assim, mas não existe respeito, não consigo achar um homem decente que me olhe como mulher que sou ao invés de me ver como uma aposta ganha, já faz um tempo que moro sozinha e nunca tive a necessidade de compartilhar meu espaço com alguém que ainda nem saiu das fraldas, mesmo que seja mais velho.

Consegui meu titulo de psicoterapeuta à três anos atrás e não foi nada fácil, já que muitos chefes não queriam me garantir uma boa avaliação em minha residência por não dormir com eles. Esses babacas sempre olham mulheres assim, como diversão, muitas amigas se entregaram para esses crápulas e hoje estão fodidas por ai, perdoem meu linguajar. Foram tempos difíceis, mas minha mãe sempre dizia que eu posso chegar onde quiser sem ter que me submeter a homem algum. Já meu pai sempre me disse que eu ainda faria algo tão heroico que deixaria o maior dos guerreiros com as pregas frouxas, por não ter a mesma audácia.

Pois bem, cheguei muito longe sendo eu mesma, mesmo assim, acho que o tão esperado dia em que deixaria esse guerreiro com vergonha não seria hoje.

Com certeza me atrasaria para chegar ao trabalho, mas não importava, no momento eu tinha apenas uma cliente marcada para atender e a clínica sempre me empurrava algumas pessoas, o que para mim era bom, eu gosto de cumprir com o dever de ajudar alguém.

Depois de um percurso longo onde fiquei muito estressada por ser espremida e obrigada a respirar o peido de um gordo suado, o que é estranho ver uma pessoa suar em um dia frio como o de hoje, eu estava sorridente e otimista.

Minha paciente havia tido uma melhora significativa, era irmã de um rapaz que estava em coma, sofreu um acidente onde teve seu braço direito amputado por haver queimaduras que danificaram seu sistema muscular, eu ficaria mal por ver meu irmão nessa situação, mas ela não parecia estar com medo de que talvez ele poderia morrer, assim meu trabalho ficaria um pouco vago, porém interessante.

Não sabia muito, mas os dois eram escritores, escreviam histórias sobre um mundo fictício, algo beirando ao Senhor dos Anéis, nunca pude opinar sobre, pois não fazia sentido para mim, minha leitura era um pouco diferenciada, a única coisa nerd que me interessava estava ligada ao que envolve Star Wars.

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