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" Sei que há um prazer violento que se chama gozar. Adivinhei-o noutros tempos, num momento de embriaguez...é quando a alma se conhece a si própria. "

Valéry, Paul.

O fluxo estrelado da noite dançava a luz da lua contra o vidro, refletindo no fresco clima de quem o respirasse, pontuado pelo congelar carregado pela vento. A fissura melancólica dos fios de neve tecido no brotar da superfície plana das janelas tinham irregulares formatos, fissurando o pequeno acúmulo de gelo as laterais. Pelo vento, era possível sentir os flocos pequenos tocando a pele, carregados pela massa de ar fria carregando os resquícios do inverno ascendente. Do lado de fora, havia o vazio simplório da noite vazia e fria, os pequenos animais emitindo barulhos característicos, o fraco emitir das luzes pelas casas de persianas fechadas. A atmosfera era sujeita a mudanças bruscas, contradizendo o radiante sol aos céus e o calor durante a noite há dias atrás.

Mudanças bruscas causavam choque a aqueles que às testemunhavam.

Mas, naquela situação, ela era separada pela camada do vidro. Onde havia a frívola sensação, mudava para a quente camada insuportável do calor.

Havia uma essência poderosa envolvida no cômodo, palpável e insuperável no cortar dos suspiros ecoando pelas paredes. Sujo, erótico e imoral, quase artístico pelo envolver inseparável dos corpos extasiados e eufóricos no colchão. Ambas as peles eram brancas, marcadas pela sequência de beijos das bocas dos devidos donos, do arranhar selvagem na tentativa de aliviar o prazer infame que consumia ambas as veias, junto ao álcool após horas de música, vinho e tesão sexual que os levava até ali. As adoráveis bochechas fartas de um deles estavam vermelhas, molhadas pelas lágrimas da sensação infame daquele lugar em específico sendo atingido com tanta força. Seu corpo parecia derreter, tremer, os olhos arredondados se fechavam, a pequena boca vermelha soltava uma onda interminável de suspiros e gemidos agoniados na profunda sensação do prazer interminável. O mundo era intocável e inalcançável ao seu redor, borrado na visão turva dos olhos, quente como o suor que vertia do corpo trêmulo e sedento.

Soluçava, tremia, gritava, voltava a cavalgar; O vermelho das nádegas ardidas pelos tapas nada delicados das mãos sempre carinhosas à pele, a força do estalar à cada sentada, e soluçava o pedido de mais preso a boca, ocupado em gemer quando o outro já o fazia sem pausa alguma, sem precisar pedir. Mal sentia as pernas, bambas o suficiente para sequer sustentá-lo em busca de mais. A conhecida sensação acolhida ao pé do estômago se formava, e explodiria tão intensa que poderia desfalecer no móvel sem dar olhar as cortantes íris selvagens que o admiravam.

A dualidade guardada no fundo delas, a dualidade natural do dono de quem as herdava. A fala suave dava lugar a voz susssurada, rouquenha e infame aos sensíveis ouvidos já impressionados com a beleza sem par. O profissional toque das mãos maltratavam à derme com força, elevando a áurea dominadora e possessiva diferente da calma transpirada. O coração dele fora abalado pelo seu, e a cada dia seu coração virava fogo líquido pelo brilho dos seus olhos.

Os braços lhe envolveram forte na cintura, saltando as veias da pele pálida e suada como a própria, o inclinado para trás em um rápido movimento contra o colchão, sentido-o molhado tecido dos lençóis bagunçados às suas costas. Se ergueu sobre seu corpo, ainda tão perfeito que podia chorar por seu esplendor erótico em um momento tão agonizante. Acolhido em meio as pernas alheias, levantou a perna esquerda a enlaçando na cintura delgada, a mão alheia o guiando no ato brusco, apertando a coxa ao impulsionar os quadris para frente em uma estocada firme, impulsionando o pobre corpo trêmulo para frente. Sua cabeça se perdeu no mar de sensações beliscosas das veias até o último fio de cabelo.

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