Não era a primeira e ele sabia que também não seria a última vez que receberia uma mensagem daquele tipo. Mas Hansol também sabia que não se importaria se fosse a centésima vez em uma semana, ele sempre faria tudo que pudesse para estar lá.
As últimas semanas haviam sido pesadas para seu namorado e, nesse dia, seus pais não estavam em casa e ele estava sozinho.
Como a maioria dos pais, os de Seungkwan levaram um bom tempo para aceitarem o filho. Foram anos de negação e, quando Seungkwan finalmente teve a coragem de contar à eles, culpa e decepção. Não foi fácil. No começo, todos na escola o maltratavam e ninguém fazia nada para ajudar. Os rumores de que era lésbica rondavam a cidade já há anos. Mas isso? Isso era demais. Houve um tempo em que Seungkwan teve de fingir estar namorando seu melhor amigo para que cessassem os olhares e cochichos. Mas é claro que isso não foi tão eficiente. E, nem Jun, nem Seungkwan, aguentavam mais aquela farça. Foi quando decidiram, juntos, contar aos Boo. Seungkwan é tremendamente grato ao amigo, e tenta se lembrar disso sempre – principalmente quando Jun começa uma de suas roasting sessions. Hansol se lembra de seu primeiro encontro, ainda como amigos, e todas as piadas e olhadas de duplo sentido do garoto. Os quatro – junto com Joshua, namorado de Jun – se tornaram grandes amigos e todos continuaram a cuidar um do outro sempre.
Os amigos se proporam a cuidar de Seungkwan, mas Hansol sabia que teria que ser apenas ele dessa vez.
A porta da casa já estava destrancada e Seungkwan estava agachado no chão ao lado do sofá – ele dizia que a sensação do chão tão perto de si o fazia sentir melhor – com o rosto entre as mãos. Sem dizer nada, Hansol correu até seu namorado e o embalou entre os braços, encaixando as pernas em suas laterais.
Em momentos como esse, Hansol perdia as palavras, falava apenas quando sentia ter permissão. Gostava do silêncio e conforto do calor entre seus corpos. Seungkwan também adorava isso. Adorava como o namorado estava sempre presente para ouvir tudo que tinha a dizer sem qualquer julgamento – apesar de se esquecer disso, às vezes. Lembra-se de como ele sorria com total honestidade quando o amigo, ou ele mesmo, faziam piadas irônicas narcisistas sobre si. Para Hansol, não eram piadas, eram verdades. Seungkwan era uma das melhoes pessoas que havia conhecido. E Seungkwan pensava o mesmo sobre o parceiro. Se ele esforçasse um pouco a memória, conseguiria se lembrar do momento exato em que se apaixonou por aquele sorriso.
– Kwanie, você quer falar agora? – as pimeiras palavras foram ditas quando sentiu o coração do outro se acalmar contra seu peito.
– Você não precisava ter vindo não era pra você vir eu não quis que parecesse isso – disse rapidamente, todas as palavras soando como única, ganhando um olhar nervoso do namorado.
– Eu só... É o mesmo de sempre. Eu não consigo. Não precisa.
– Seungkwan, olha pra mim. – o menor ergueu os olhos inchados e vermelhos com relutância, sabia o que iria encontrar e isso o fazia se sentir ainda pior por duvidar do carinho do outro – Não importa quantas vezes seja, não importa se eu vou escutar a mesma história do seu patinho de borracha que estourou na sua boca enquanto brincava com ele na bacia quando era criança dez mil vezes – mesmo em tão mal humor, Seungkwan não conseguia se forçar a segurar o riso das piadas do maior – , em todas as dez mil vezes ou mais, você sabe que tem toda minha atenção.
Pegou as mãos quentes do outro e as segurou entre as suas, acariciando a pele macia com seus dedos.
Seungkwan odiava saber que era verdade.
– Por que eu não consigo ser uma menina, Hansol? Tudo seria tão mais fácil, não seria? Pense, você não precisaria ter saído do armário para sua família tão cedo. As pessoas não iriam nos encarar na rua. Seria mais fácil me amar. Eu tô só dificultando tudo. – ele abaixou a cabeça e soltou uma risada debochada – Droga, como se não bastasse ser panssexual, eu tinha que ser trans também e, como se não bastasse mais isso, eu tinha mesmo que ser não-binário. Eu não podia escolher um ou outro? De preferência, o que diz meu corpo. Por que eu sou assim? Por que eu não posso ser normal?
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Pretty || verkwan
FanfictionHansol não se importava com quantas vezes fosse receber esse tipo de mensagem do namorado, ele sempre faria tudo que pudesse para estar lá. verkwan || trans!seungkwan (nb) || fluffy || UA || também postada no spirit @acesmurf