Tenha calma, meu anjo

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 Querida, acalme-se!
Não reconhece sua própria face?
Pensei que estaria mais tranquila dessa vez
Anda muito aflita para sua idade
Carrega muito peso sem necessidade
Não é à toa esse ombro com tanta rigidez


Me desculpe! Não gosta nem que a encoste?
Você é sensível a toques?
Parece um animalzinho indefeso
Pobre garotinha!
Tanto tempo sem companhia
Sinto daqui de onde vem esse desprezo


Tenha calma, meu anjo
Desse jeito, sou eu que me constranjo
Me sinto intrusa em sua casa
Eu queria fazer só uma visita
Conversar, bater papo, pensar sobre a vida
Falar menos de coisas tão rasas


Você sabe do que estou falando
Foram tantos, tantos, tantos anos
De diálogos sem pretensão alguma
Sei o quanto está farta
O quanto não vê mais graça
nessas conversas repetidas que não chegam "em suma"


Não percebe que sou sua melhor amiga?
Somos tão parecidas
Somos quase que o mesmo ser
E é isso que faz ser engraçado
você se sentir insegura ao meu lado
sendo que a qualquer um se entrega totalmente sem perceber


Eu sou a única que estará sempre aqui
Até você nunca mais existir
E mesmo assim rejeita meus conselhos
Criança, escute a razão
que não mede esforços para te colocar no chão
e fazer de tudo para te proteger de terceiros


Enquanto fechar os olhos para a sua realidade
Vai continuar omitindo suas verdades
E não vai se sentir satisfeita com suas faltas
Precisa largar de vez suas camadas
Quebrar todas elas, até que não sobre mais nada
Nada além de você e suas falhas


Quando aceitar minha visita novamente
Estarei pronta para ser sua confidente
E te ajudar nesse longo trajeto
Não minto dizendo que será fácil
Mas durante esse tempo se torará hábil
em saber viver de modo incompleto


Agora, devo ir
Devo deixar você decidir
se quer mesmo minha amizade
Espero que pense bastante
e me chame o quanto antes
Juro que já sinto saudades...  


23 de março de 2018

EncontrosWhere stories live. Discover now