Unilateral

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"É mais do que poderia dizer; momentos que jamais serão esquecidos e um futuro incerto. Relatos de uma viajante que tenta ir no caminho certo, porém, sempre puxada pela correnteza errada. Minha mente qual antes costumava ser um turbilhão, hoje encontra-se em um abismo, onde não sei como entrei. Sou lançada à procura de respostas, no entanto não há ninguém que se compadeça em me ajudar, então eu sigo sozinha, trilho solitariamente, esperando alguém me ajudar."

Desventuras de uma viajante.

William lembrou-se de um pequeno trecho do livro escrito por Elsa. O advogado tornou-se um feroz devorador de ficção contemporânea e principalmente quando se tratava dela. Desde quando uma mulher tinha essa capacidade de prendê-lo e instigá-lo?

Cherry, Ellen, Bianca e por fim Elsa. Tudo apenas em uma embalagem.

Estacionou seu carro e verificou o gato que dormia tranquilamente no banco de trás. Ligou o ar para o bichano.

— Quanta mordomia.

Entrou correndo em direção ao elevador, ignorando outros pacientes. Nathan estava no quarto, onde uma hora antes presenciou a cena da mulher esperneando e gritando, ela não queria ser sedada.

A Bianca havia tentado suicídio com uma agulha da medicação. Foi segurada por três enfermeiros, que a amarraram na cama. Estava fora de controle e era um perigo eminente para Elsa.

Suicídio e autoagressão entre pessoas detentoras desse transtorno não era algo raro. Temia pela segurança de Elsa, mesmo com todos adventos causado por esse transtorno, ela não tentaria suicídio.

Ele sabia, sua ambição era ficar livre desse transtorno e tentar uma vida normal como qualquer outra pessoa. Essa era a única ambição de Elsa.

Nathan o aguardava ao lado da cama. Sua glicose estava alta, sentia o ressecamento de sua boca e sua visão turva. Precisaria tomar insulina urgente. Diante dos fatos dos últimos dias, mal prestou atenção à sua própria saúde, um grave descuido. Odiava ter diabetes, já que era um amante de doces. O diagnóstico sobre a doença dois anos atrás, o devastou.

— Por favor William, fique a observando. — o gosto amargo de sua saliva era sentido. — Vou à enfermaria. — William apenas assentiu.

O Harper se aproximou da borda da cama onde a mulher estava dormindo tão tranquilamente. Elsa não era uma mulher feia, sorriu ao lembrar de uma passagem do livro que a própria escrevia. Ele estava aos poucos compreendo aquela mulher de faces.

A franja loira repousada sobre a testa, dando uma semelhança com uma boneca e uma das frágeis. Passou a mão pela franja dela.

Qual delas iria acordar?

Essa resposta valeria um milhão de dólares, já que era tão imprevisível.

Sentou-se na poltrona ao lado, viu o buquê de rosas endereçado à ela. Pegou o cartão, curioso do jeito que era.

Era de Clarice.

Suas preferidas, minha flor de orquídea rosas.

Vamos sair dessa minha querida.

Perdoe pela minha ausência como sempre.

Sua mãe, Clarice.

A personagem do livro gostava de orquídeas rosas. Ela colocava até os mínimos detalhes de si naquele livro.

Olhou no relógio de pulso, ainda era cedo. Numa hora dessas, em circunstâncias normais, ele estaria saindo do trabalho e indo para casa, ou para algum pub. Passou a mão no rosto pesaroso, nem ele conseguia acreditar o que estaria fazendo em um hospital naquela hora, e com ela.

Blur (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora