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“ Somos desfeitos pela verdade. A vida é um sonho. É o despertar que nos mata.”
Virginia Woolf.

Colina Hawking's, 3 de Outubro.

Sou guiada pelo som alto da música, desço as escadas do porão. Assim quando abro a porta, a fumaça de maconha invade minhas narinas.

— Olha só quem chegou! — Grita Paul Lynch visivelmente bêbado. — Aqui Charlie! — Ele joga uma cerveja de latinha pra mim, eu aparo com a mão.

Vou até meu namorado, Becky McLaren está sentada no colo dele apenas de sutiã e um micro shorts, seu longo cabelo loiro está grudado no suor das costas, ela balança a cabeça lentamente ao som da música. Está drogada, provavelmente cheirou algo mais forte do que normal.

— Sai daqui, vadia. — Tiro ela de cima do Nico, ela cambaleia pelo porão, Seth Hawking a segura pelo ombro. Ele fala alguma coisa no ouvido dela, e a guia para fora do porão, antes de sair ele olha para trás e pisca para Nico.

— Ei, para onde eles vão? —  Pergunto retórica.

— Você sabe pra onde eles vão e o que vão fazer. — Responde Nico beijando meu pescoço.

— Ela nem sabe que está fazendo, está bêbada.

— Idai? Qual o problema? Você nem gosta dela mesmo. — Rebate ele.

Reflito sobre isso, é verdade, Nico tem razão, eu não gosto da Becky, estou preocupada com o Seth, ele é instável. Dou um gole na minha cerveja e olho ao redor do porão.

Paul Lynch já está adormecido abraçado com a garrafa de rum, Nathan está aos beijos com uma garota cujo o nome eu não sei. Mais a frente Brandon Roitman está com a cabeça inclinada na mesa de centro cheirando cocaína. Me desvencilho de Nico e vou até lá.

— Deixa uma carreira pra mim... — Digo. Ele levanta a cabeça e coça o nariz com a palma da mão.

— Puta merda! Muito boa... — Diz Brandon, ele me passa uma nota de cinquenta dólares enrolada, eu a uso pra inalar o pó enquanto Nico afasta o cabelo do meu rosto, cheiro outra carreira. Passo a nota pra Nico cheirar a última.

Eu sento no chão e encosto a cabeça em uma poltrona, Nico senta ao meu lado.

— Quem é o fornecedor? — Nico pergunta para Brandon.

— Um cara da Flórida ele mudou pra Santa Monica a poucos dias. — Responde ele. Brandon tira a camisa e joga em um canto qualquer, ele vai até Paul e tira a garrafa de bebida dos braços dele, Paul continua a dormir.

— Quero o número desse cara. — Diz Nico.

— Sim, sim, sim... — Diz Brandon repetidas vezes enquanto procura algo no bolso do jeans. — Mas que inferno! Onde está a porra do celular? Segura aqui, princesa. — Ele me entrega a garrafa de rum, bebo pelo gargalo, o álcool queima minha garganta.

— Seth? Seth! — Grita. — Viu a porra do meu celular?

— O Seth está lá em cima. — Digo meio grogue. Brandon cambaleia até a porta do porão.

Minhas palpitações aceleram, minha visão fica mais turva, e tudo parece ficar mais lento. O efeito da droga que inalei é mágico. Sinto a adrenalina em cada poro do meu corpo, a sensação é maravilhosa. Extasiante. Dou outro gole na bebida e passo a gafarra para Nico.

Sinto frio, mas eu estou suando. Deixo meu braço cair ao lado do meu corpo, todos os meus membros pesam, é como se eles não fizessem parte de mim. Levanto a cabeça o máximo que consigo, não tenho controle sobre nada. Vejo quando Nathan tira a blusa da garota sem nome e morde o bico do seio dela, aquilo parece ter doído. Eu me sinto enjoada, sinto o suor escorrer pelo meu pescoço fazendo o cabelo grudar na pele. Preciso vomitar. Minha cabeça tomba pro lado, sinto uma mão entre minha pernas. Não, não, não, eu não estou bem, apenas me ajude a melhorar. A mão segue seu percurso até minha calcinha. Será que o Nico não percebeu que eu estou passando mal? Minhas pálpebras pesam, é impossível manter os olhos abertos.

Isto é tudo o que eu lembro sobre aquela noite. E, preferiria jamais lembrar de nada disso.

— Como era a sua relação com Rebecca McLaren? — Sou tirada dos meus devaneios pela voz da detetive Kline. Ela é morena, tem enormes olhos verdes e sardas no nariz. Me pergunto qual a sua idade, ela parece muito jovem para ser detetive. Tem um ar sério e intimidador, mas ela não consegue me intimidar. Algo na sua voz firme e autoritária me faz sentir que ela, na verdade, é insegura.

— Era? Como assim a Becky está morta? — Pergunto me fazendo de boba.

— Não foi isso que eu quis dizer... Na... Na verdade, ela está apenas desaparecida. — Como eu disse: insegura.

— Bem... — Eu encaro minhas mãos sobre a mesa e reflito uma resposta que me faça parecer menos suspeita possível. — Conheço a Becky desde criança, mas não éramos próximas, tínhamos apenas amigos em comum.

— Esses amigos em comum seriam o Nicolas D'Lucca, Paul Yang Lynch, Seth Hawking, Nathan Suz Giles e o Brandon Roitman? — Ela é esperta.

— Sim, é isso mesmo. — A detetive se inclina na minha direção e me olha nos olhos.

— O que na aconteceu na noite de 3 de outubro, Charlotte?

— Como disse anteriormente: Ela bebeu demais e saiu sozinha, disse que ia pegar uma carona.

— Engraçado... — Disse ela, pensativa. — Isso foi exatamente o que vocês seis disseram; a mesma versão dos fatos. Tudo igual, até parece ensaiado.

— Você está nos acusando de alguma coisa, detetive? Porque acho que preciso da presença do meu advogado. — Eu me encostei no acento da cadeira e coloquei as pernas em cima da mesa.

— Não estou acusando niguém, meu trabalho é descobrir onde está Rebecca, mas você acha que precisa de um advogado?

— Tanto faz. — Digo e dou de ombros. — Já posso ir? — Eu não espero a resposta dela, me levanto e caminho até a porta.

— Mais uma coisa, Charlotte. — A detetive também se levanta. — Se você quiser me contar alguma coisa, qualquer coisa que seja, não hesite em me ligar. — Ela tira um cartão do bolso da jaqueta e me entrega.

— Mas eu não vou precisar. — Digo.

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