• Único •

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Os meninos subiram aquele morro de areia, e se sentaram no mesmo, enquanto, Jair, vidrado no Horizonte, sorria bobo lembrando do resto daquele dia.

- Vamos fazer isso mais vezes, não vamos? - Nando encostou a cabeça no peito do mais velho, enquanto o mesmo acariciava seus cabelos devagar.

- Vamos fazer isso sempre que pudermos, Nando. - E um sorriso bobo se entre-abriu em seus lábios. - Poderíamos falar com meus pais, e...

- Espera! - O mais novo se levantou brutalmente do peito do outro, e o fitou nos olhos. - Antes de qualquer coisa... Você precisa me prometer algo. - Haddad sempre levava consigo duas correntes velhas no bolso, que por alguma razão, ele mesmo se prometera entregar a seu amor, quando felizmente, ele o encontrasse.

- O que eu tenho que prometer? - Jair o fitou, e sorriu ao ver o menino tirar de seu bolso duas correntinhas, colocando uma em seu próprio pescoço, e se dirigindo para colocar a outra no pescoço do mais velho.

- Vamos ficar sempre juntos, okay? - Nando sempre foi muito sonhador em questão ao amor, ele só não esperava que Jair fosse do mesmo jeito.

- Nós vamos ficar sempre juntos. Eu prometo. - E então o menino segurou firmemente as mãos do pequeno, e colou suas testas juntas. - Fernando Haddad, enquanto eu existir, eu nunca, e digo nunca mesmo, deixarei de te amar. - Após um sorriso fraco, e sincero, sair dos lábios do outro, Jair se arriscou a dar um beijo lento no outro, que incrivelmente, retribuiu.

Tudo estava tão perfeito. Tudo estava tão bonito.

Aqueles dois e encaixavam perfeitamente. Aqueles dois eram verso e poesia. Música, e sintonia.

Eram um casal perfeito.

- Espera... Meu oponente é Jair Messias Bolsonaro? - E incrédulo, Fernando bateu palmas, rindo de desespero.

- O que tem de mais nisso? - Manuela perguntou, enquanto o outro andava de um lado pro outro apreensivo.

- Não há nada demais nisso. Não há nada demais... - É porque talvez ver cara a cara seu primeiro, e ainda, amor de infância, o assustava, tanto quanto perder aquelas eleições para ele.

- Você quer um chá? - Manu riu devagar enquanto via o outro quase dar cambalhotas pela sala.

- Eu... Estou bem. - E não, ele não estava bem, apenas por não estar preparado.

Aquelas férias poderiam ter sido incríveis. Mais incríveis do que já estavam. Mas...

- Fernando, com quem você estava hoje na praia? - Seu pai entrou pela porta, talvez meio, digo muito, irritado. - Eu já falei para você não ficar se engraçando com os meninos por aí.

- Mas papai...

- Nada de "mas" - E era sempre assim. Haddad nunca tinha a chance de explicar. Nunca podia falar nada. Mas e se agora ele falasse a verdade?

- Papai, eu estou apaixonado por Jair Bolsonaro. - Talvez fosse melhor ele nunca ter dito aquilo.

E agora que Fernando sabia quem ele iria se dar cara a cara no debate, ele estava, talvez, em um tremendo choque.

- Jair, você não vai? - Um suspiro da boca de um dos seus filhos foi o suficiente para todos os outros entenderem que não, o pai não pretendia ir naquele debate.

- Por que, papai? - A menina mais nova o olhou, mas não obteve respostas.

A única coisa que ambos notaram, foi o pai, segurando uma correntinha nas mãos enquanto fitava a janela.

- Eu já venho para casa. Só preciso fazer uma coisinha. - E antes daquela noite acabar, Bolsonaro correu até a vendinha de flores, e comprou o buquê favorito de Nando.

Poderia ter sido mais perfeito ainda. Jair jurou que o dia de Nando seria mais perfeito ainda. Mas ele não contava que as coisas tinham desandando tanto assim.

E ao tocar a campainha, não foi Nando que atendeu a porta como sempre. Foi o pai do mais velho.

- Jair, que bom te ver aqui. - Falsidade, era tudo que Bolsonaro conseguia sentir.

O pai de Nando nunca gostou muito da ideia de os ver junto, e tomar passos grandes poderiam ser coisas arriscadas a se fazer.

- Vim trazer isso à Nando... - Ele esticou o buquê, e sorriu fraco. - Será que eu poderia entrar?

- Desculpe, mas Fernando não quer te ver agora. - Com o olhar desapontado, Jair entregou o buquê ao pai do menino.

- Poderia pelo menos entregar a ele? - E o homem assentiu. Mas mal sabia Bolsonaro que, assim que o mesmo saísse de seu campo de visão, aquelas flores nunca seriam entregues.

- Papai, você tem visita... - A pequena menina saltitou devagar até a sala, para que deixasse seu pai em particular.

Ao se virar para o homem atrás de si, Jair Bolsonaro se depara com Fernando Haddad, que sorri amigavelmente.

- Sabe, eu já não te vejo há tanto tempo... - E segurando a correntinha, Nando, que agora atendia por Fernando, mostrou a correntinha, e sorriu fraco ao ver o reflexo de Jair segurando a sua pelo espelho.

- Você nunca negou minhas visitas, não é verdade? - No fundo os dois sabiam a verdade.

- Não. Eu nem sabia delas, pra falar bem a verdade. - Um suspiro calmo. - Jair, você ainda me ama? - E ele não respondeu. A correntinha em suas mãos foi o suficiente para responder aquela ridícula, e besta, pergunta.

- Lembra do que eu te prometi?

Efeito Política • Bolsoddad •Onde histórias criam vida. Descubra agora