Os sinos badalavam pela 3º vez; Um barulho grave e distante que parecia sempre estar acompanhando-as.
Haviam duas missas todos os dias, a primeira apenas para serviçais
e a outra ocorria quando o sol brilhava pela última vez.
Desde suas primeiras memórias, Aileen tinha apresso pela Tocha Maior, que guiava há todos que pediam um pouco de clareza em sua vida. Ela lera uma vez, a história de um lugar muito distante, onde havia um povo em que dependia tanto do Sol como ela, e após milhares de anos ele começou a derreter solos e proibir que as pessoas pudessem usufruir-lo, logo eles foram ficando sem comida, água e animais, até que extinguiram. Mas a última página do livro deixava claro que tudo isso não era culpa do Sol já que foram as pessoas que não souberam cuidar de sua magia direito.
Essa era uma das muitas histórias que lera em sua vida, em segredo ela acreditava em cada uma delas, por mais fantásticas que fossem; quando lia um livro entrava em um novo universo e durante a leitura ela se via dentro dele; assim quando acabava, não se desprendia totalmente mas levava consigo a mensagem por trás. E como Aileen era boa nisso.
"Não acha que estamos atrasadas?" Lauren pergunta impacientemente enquanto sua outra irmã, Leanne, insiste em achar mais defeitos em seu vestido de algodão ou cabelo ainda molhado.
"Aileen, eu..." Ela junta as mãos agitadas e se vira para a irmã, prestes a chorar.
"O quê foi minha querida?"
Agora, duas das suas irmãs estavam junto dela se aprontando para a missa; Lassie preferiu ficar com sua mãe e quanto ao rei, Aileen esperava vê-lo quando entrasse pela grande porta de ferro da Igreja.
A criança não precisou dizer nada, somente moveu seus olhinhos castanhos na direção do espelho; Após oito anos e meio de convivência, Aileen conhecia cada característica das três, e diferente da maioria conseguia deduzir a culpa de quando algo errado acontecia ou suas vozes mesmo que ela não podia ver seus amáveis rostinhos reproduzindo seu nome quando precisavam de ajuda. Com elas descobria coisas novas todos os dias, a jovialidade sempre à sua volta fazia ela se esquecer que tinha que crescer.
"Rylee" Ela chama a criada pouco tempo mais velha que a própria.
"Sim, Alteza" A mulher se apressa em atender o chamado.
Aileen faz sinal para ela se aproximar e então faz algo que uma princesa jamais deve fazer: sussurrar.
"Eu preciso que vá até o Jardim das Fases e ache três gravetos, eles são curtos e têm cores típicas de outono. Estão próximos à uma árvore. Traga-os por favor, o mais rápido que puder"
A criada concorda com o pedido e sai do quarto sem fazer barulho.
Após três badaladas do Sino, a ela volta às pressas, fingindo não ter corrido todo o caminho para não atrasar as princesas.
"Muito obrigada" Aileen agradece curvando a cabeça enquanto recebe os gravetos.
A criada faz uma pequena referência como resposta.
As pequenas viram-se para as duas ao ouvirem sons e tentam descobrir com os olhinhos o que está acontecendo.
"Leanne," a pequena olha imediatamente para a irmã mais velha "lembra-se quando Lassie perguntou por que vocês eram princesas?"
"Na verdade, ela perguntou como você tinha certeza" Lauren corrigi e Leanne concorda com a cabeça.
" 'Tem razão Lauren, me perdoe meninas. Todavia..' a princesa ficou desconcertada com a correção de sua irmã menor. Ela se parecia com o pai até mesmo no modo de falar. 'Eu tenho algo que prometo que tirará todas as suas incertezas para sempre'
"O quê?" As duas perguntam curiosas em uníssono.
Aileen mostra o conteúdo na palma de sua mão esquerda.
"Os gravetos?" Leanne indaga com desdém.
"O que isso têm de importante?" Continua Lauren.
"Como irá mudar nossa vida?" Replica Leanne de novo.
A garota sentada à beira da cama banhada a ouro respira fundo e olha de relance para sua criada Rylee, que responde com um simples fechar de olhos e uma inspiração silenciosa. Havia horas em que ela gostaria de amarrar as três em pé à uma árvore e tampar suas boquinhas com algodão.
"É errado" sua mente a alertou.
Mas Aileen estava cansada, exausta, para travar uma batalha contra sua mente naquele momento.
" 'Eu pensei que..' Não, você consegue ser melhor. Use seu poder de convencimento! 'Meninas, saibam que não precisam ter medo...' Aileen faz sinal para a empregada deixá-las sozinhas e espera a própria fechar a porta para continuar 'Terão sempre o apoio de sua irmã, mãe e pai, e claro, de todo o nosso povo; e se por algum motivo não estivermos aqui, prometam-me que cuidaram umas das outras, como o Norte, que junta todos os outros três lados do planeta. Que governa e prioriza o bem de todos. E esses gravetos representam vocês três, os outros três lados do planeta, protegendo suas irmãs e seu povo, com uma união diferente de tudo o que as pessoas já viram, mas sem duvidas, muito especial.' Terminou sorrindo e percebendo que a irmãs a olhavam inspiradas.
"Obrigada Aileen" Leanne diz com um sorriso largo no rosto.
"Ah, eu já sabia que nos amava" Lauren brinca convencida, virando seu olhinhos marrons como uma castanha para o lado. "Aileen, será que podemos usar os gravetos na missa?"
Ambas imploram "sim" com o olhar e mãozinhas juntas.
"Eu não vejo problema!" Responde as pequenas.
O sino bate pela 7ª vez e a porta é aberta bruscamente por Rylee que avisa que elas devem ir imediatamente para o templo.
***
Religião.
Ela não se lembrava da primeira vez em que ouvira a palavra, mas que desde cedo aprendera seu valor. Em muitos estudos e missas participadas.
Nas poucas viagens que fizera em dezessete anos e meio de vida, sabia que apesar de uma regra nem todos praticavam sua religião. Havia assistido duas ou três condenações por heresia, todas feitas no centro para toda a população ver, temer e nunca se quer pensar em praticar tal coisa.
Aileen não gostava disso mas infelizmente era obrigada a assistir, e ela sentia que para os adultos vê-la presente junto ao rei diante de uma cena como aquelas, a tornava a favor de qualquer tipo de condenação. Não que a princesa tivesse horror a sangue como sua prima, princesa do Leste, mas-imaginou o conselho junto ao seu pai debochando dela- preferia um combate homem a homem e até mesmo com mulheres, do que qualquer forma de humilhação.
Independe de tudo, ali estava a princesa, em frente à grande porta circular de ferro que seria preciso doze soldados de pé para tocar ao seu topo; que apesar de construída há muito tempo se abria como nova.
Sua respiração acelera ao ver que todos já estavam sentados e o rei e a rainha a esperavam no final, ao lado da sacristia. A loira sincronizou sua respiração com a quantidade de vezes que piscava ao ver que todos olhavam para as três, Aileen se lembrou que havia deixado as pequenas virem com o cabelo solto e molhado:
"Provavelmente devem estar olhando-as"- Ela pensa, acalmando-se.
Com passos leves e delicados as irmãs entram na igreja feita na época em que o Sul servia diretamente ao Norte.
Aileen observa atentamente seu solo, um carpete tingido por sangue de pequenos animais, quase tão forte quanto o cabelo de suas irmãs menores, que cobria há tanto tempo o piso que ela nem mesmo sabia do que era feito. Seus sapatos eram simples e quase não podiam ser notados diante de um vestido longo branco com pedrinhas amarelas, vermelhas e azuis. A princesa e todos que a veriam saberiam que aquelas eram as Pequenas Pedras, somente encontradas nas montanhas no limite entre Leste e Sul.
Leanne aperta gentilmente a mão da princesa demonstrando secretamente, insegurança. Ela não encara sua meia-irmã, o contato visual seria crucial na decisão de terminar de atravessar o centro da igreja, na qual membros da realeza, conselheiros, damas de honra e poucos empregados estavam presentes.
Se ela pudesse se acalmar o suficiente para contar quantas pessoas estavam presentes no local, surpreenderia-se com o fato. Na realidade, sua própria cabeça a deixava maluca ao imaginar milhões quando existiam apenas cento e cinquenta.
As três continuaram a travessia. E Aileen que tanto odiava a ideia de casamento imaginou-se sozinha, sem suas irmãs ou todos os conhecidos e desconhecidos que estavam junto dela, seu vestido branco rendado farfalhava ao andar pelo tapete, agora coberto por pétalas rosas e azuis; Sentia-se linda, como nunca antes. A coroa não pesava, nem nos ombros nem no coração, era uma sensação que nunca havia sentido antes. E esta somente aumentou quando viu quem supostamente a esperava do outro lado do altar: seu próprio reflexo.
"Casar-me comigo mesma? Eu devo ter enlouquecido!"-Pensou tentando compreender o que sua imaginação queria-lhe passar."Isso não passa de um sonho, e quando contar até 3, voltarei ao devido presente." Conformou-se enfim.
E ao terminar sua contagem até 3 e abrir seus olhos estava de volta à missa. Porém dessa vez, todos os presentes olhavam-na indagando se havia algum problema e o porquê de sua pausa repentina no grande carpete vermelho.
Agora, entretanto, qualquer insegurança sobre cruzar ou não o local não pareciam mais importunar sua cabeça pois aquele sentimento estranho expandiu sobre ela. Então, segurou os braços de suas irmãs mais novas e caminhou até o fim, dispersando os olhares e fofocas.
"Altezas" O Papa cumprimenta as crianças. E elas respondem com uma reverência.
Se as pobres garotas soubessem a lei, questionariam o porquê de não receberem uma reverência do sacerdote, sendo as próximas na linha de sucessão. Porém elas não tinham conhecimento sobre-e nunca teriam- por conta de velhos pensamentos, passados de geração por geração.
***
"Você está bem, querida?" rainha Bristol, pergunta gentilmente à Aileen.
Ela estava bem mas muito apreensiva. Seus pensamentos a matavam. Desejaria tanto saber se o rei estava bem, como fora a viagem-mesmo Bristol contado diversas vezes os passeios e comidas que haviam lá-.
Às vezes tudo o que gostaria era de alguém do seu sangue-exceto suas meia-irmãs-, alguém que tivesse uma vida menos monótona que a sua, que cultivasse sonhos e desejos e não fosse proibidos de satisfazer-los por causa de um título; e ela não pensava em coisas pejorativas, gostaria de poder estudar mais, passar o dia na biblioteca descobrindo novos universos, e menos tempo falando sobre casamento, participando de conselhos ou frequentando bailes que resultavam sempre em constrangimento na princesa.
Sua mãe fora do Sul e deixara uma família a espera quando viera trabalhar no reino há quase duas décadas. Aileen adoraria conhece-los mas não podia sair das redondezas da Casa Civil, muito menos visitar o Sul...
Algo interrompeu seus pensamentos quando a rainha havia ido embora, sem ao menos ouvir sua resposta ou desejar 'boa noite'. "Fora bom. Pelo menos não precisarei mentir ou contar toda a verdade: que sou dominada pelos meus pensamentos" Ela retrucou em sua mente.
A jovem fechou os olhos e repousou a mão sobre a parede do largo corredor, conseguia ouvir sons de risadas infantis e sentir a felicidade e ingenuidade que aquelas memórias possuíam. Gostaria de que o tempo não passasse; como sentia falta do genuíno significado da palavra família.
"Princesa!?"
A garota sai do transe e toma um susto ao ser chamada. Era a troca da Guarda do poente para a patrulha do anoitecer. Provavelmente seria algum homem fazendo sua vigia.
"Me desculpe por tê-la assustado.." a voz se mantém baixa e rouca, ainda aparentemente próximo ao seu ouvido.
Ela sente o próprio corpo tomar-se de uma sensação estranha, independente disso vira-se para o guarda e novamente toma outro susto, dessa vez calada, era o mesmo menino que fazia a patrulha da rainha quando ela avistou as princesas no jardim.
"...Alteza" Aileen observou quando ele a chamou, seus lábios vermelhos pronunciavam tão bem seu título que o tornara melhor. Ela sorriu involuntariamente com seus pensamentos e o guarda fez o mesmo como resposta.
"Não quis soar intrometido, entretanto nunca havia visto a Alteza Real antes." Ele deu passo à frente, como se fosse introduzir-se porém aquilo era impossível, todos sabiam que não deveriam manter grande contato com as princesas.
"Creio que agora devo me apresentar à senhorita," faz uma referência "Guarda Interno e Externo da Casa Civil, Willian"
Era...
"Impossível?"-Aileen retomou o que havia pensado.
No fundo havia gostado de sua audácia, mas preferiu continuar neutra em sua expressão.
"Muito.. prazer!" Sorri com os olhos. "Aileen, Princesa do Norte. É uma honra conhecer-lo sir". A última palavra pairou sobre o ar, ela nunca havia dito isso antes, e de certa forma a fizera lembrar dos homens que a cortejavam.
"Não mereço tamanha honraria". Diz olhando para o chão com uma toque sutil de ironia.
"Qualquer um que preste serviços ao meu.." pai, ela iria dizer, mas não era seguro usar a nomenclatura familiar com um jovem guarda. "Ao nosso reino, tem meu respeito"
"O que mais eu iria querer do que a admiração de minha futura rainha?" Ele inclinou-se em sua direção ao dizer as últimas palavras. A princesa sabia que ele estava cortejando-a.
"Sir William," Aileen olhou ao redor, eles estavam praticamente sozinhos no corredor com exceção ao guarda que fazia a vigia na curva próximo à escada. "gostaria de acompanhar-me até meus aposentos?"
"Seria uma honra Vossa Alteza." Respondeu com prontidão, pegando uma das mãos da garota posicionada em seu vestido e beijando suavemente, não sem antes roçar seus dedos na altura da coxa da princesa.
Aquilo fez Aileen recuar um passo para trás, o jovem sorriu sem mostrar os dentes, como se essa reação fosse comum. Aquilo não era um simples cortejo-ela podia sentir isso-. Willian fazia parecer que eram algo além de recém conhecidos. E isso não parecia correto e muito menos confortável. Porém independente de seus pensamentos, respirou fundo e começou a caminhar junto do rapaz até seu quarto. Afinal, ainda era alguém da corte, e uma futura rainha.
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Olá pessoas, o quê estão achando?
Um abraço bem forte para meus amigos da escola (caso estejam aqui pressionados pelo meu merchandise), e para outros que ainda não me conhecem: sim, eu estudo como uma adolescente normal.
Hoje puderam conhecer nosso guarda Willian, e confesso que estou me segurando para não contar nada sobre para você.
XX, Kathe.
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Beta T- Uma Segunda Chance
ContoNão se sabe informar quando deu tudo errado; em qual momento, ano ou após determinado acontecimento. Foi um processo degradante, que levou ao fim tudo o quê eles-ou nós-conhecíamos como lar. Ou quase. Graças à tecnologia descobriram um novo planet...