Nevasia sempre fora conhecido como o reino dos reinos, próspero, divino, abençoado por todos os deuses; toda criança nascida em suas extensões, pertencentes à nobreza ou não, possuíam sangue nevasiano, a pele branca como a neve que a cobria e os cabelos negros como suas noites, a alma pura como as águas que corriam em seus rios e a valência do grande urso branco exibido em seus estandartes. Seu rei era um homem justo, nascido para governá-lo, assim como seu herdeiro seria após ele; e sua rainha era bela como uma flor de açafrão, a mesma qual corava seus lábios, e possuía uma graciosidade sem igual.
E foi em um dia de neve que o pequeno príncipe de Nevasia, Junmyeon, abrira seus olhos pela primeira vez. Era belo, uma alma imaculada, um olhar inocente, um coração puro. Saudava as terras, os mares, e os ares que um dia seriam seus, saudava a vida e também saudava a morte: a vida da rainha fora tomada em troca da de seu filho.
A dor da perda destroçara o coração do rei, aflito, desolado; orava para que os deuses a trouxessem de volta, mesmo que isso fosse significar a morte daquilo que, em seu pensamento, havia a tirado dele. Embriagado de vinho, ele lamentava acima do berço de marfim, fitado pelos grandes olhos negros e sonolentos, amaldiçoando-o.
- "És uma praga, um monstro repulsivo. Não permitirei que tome meu trono, que governe meu reino. Não permitirei que carregue meu nome, nem meu sangue em suas veias." - e a cada palavra cuspida, ele erguia a adaga que tinha em mãos, até que a encostasse no pescoço de seu herdeiro, podendo sentir a pele frágil em sua ponta. Não havia hesitação em seu olhar, não havia mais resquício de sanidade, nem gotas de amor em seu coração, havia apenas um ódio cego.
Prestes a deslizar a lâmina, fora interrompido. O bebê Junmyeon havia sido salvo por uma das arrumadeiras, que resolvera banhá-lo justo naquele momento, tirando o adormecido do braço de seu rei que saíra de seu transe e caíra em prantos. Apesar de arrependido, se tratava de um homem que honrava sua palavra, quaisquer que fossem estas. Assim dito, não criara seu filho como um herdeiro, e sim como um indiferente; nunca o dera a esperança de reinar, por mais que Junmyeon soubesse que havia nascido para aquilo. Não fazia questão de amá-lo, nem de ensiná-lo; tratava-o com o ódio que havia nascido junto a ele.
Pois as noites iam e vinham, incansáveis, incontáveis, e a tristeza do coração do rei não se cicatrizava; sua expressão era gelada, como o governante solitário de um reino de gelo. Até que, anos depois, encontrasse a sua nova rainha, e a própria lhe presenteasse com mais um filho.
Junmyeon se revoltava mais a cada dia vivenciado com aquele que deveria chamar de irmão. Injustiçado e impaciente, desertou das terras nevasianas. Cavalgara por dias e noites, sendo acolhido como seu próprio filho por um rei de um reino longínquo de nome Priorium.
O rei de Priorium era um bom governante, porém idoso e estéril. Nenhuma de suas 7 esposas e amantes tiveram a benção de dar a luz à uma criança, a alguém que pudesse continuar seu legado quando enfim o Deus da morte o levasse. Ele enxergava o jovem Junmyeon como uma criança inteligente, prodígio e estável, de bom coração, porém ainda imaturo, inconstante e indeciso. Fizera então, um voto perpétuo, jurara diante dos deuses: faria dele um senhor, um lorde, um rei. Ensinou-o a caçar, a pescar, a lutar e a ler; a manusear espadas, arcos e lanças. E o prometeu a uma jovem princesa, a qual dizia ser a mais bela de todos os quatro reinos, aquela que fora banhada na água do rio sagrado ao nascer.
E ao final do inverno daquele mesmo ano, o rei viera a falecer por conta de uma forte febre. O jovem Lorde Junmyeon, das terras de Nevasia, o primeiro de sua linhagem, herdara seu trono com honra; fora unido por um matrimônio à sua prometida rainha na primavera, trazendo ao mundo seu primeiro filho no inverno do ano seguinte.
Iniciando então um reinado próspero, o qual seu pai nunca lhe dera a honra de aderir a Nevasia. Sua inteligência era grande, assim como sua determinação e paciência. E então, Priorium atingira seu auge, se tornando a capital dos quatro reinos.
O novo reino dos reinos.
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For Four
FanfictionQuatro irmãos, quatro estações, quatro reinos. Em um mundo de ambientação medieval, conflitos amorosos, batalhas sangrentas e histórias fúnebres estão presentes em cada canto das Terras Douradas, ladeados pelo som doce de uma harpa, o tinir de uma e...