Capitulo 3

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— O QUE VOCÊS QUEREM FAZER HOJE À NOITE? — Elizabeth perguntou ao se jogar no sofá. Do lado de fora da janela atrás dela, o céu passava de azul para rosa, de rosa para laranja, e eu risquei mentalmente mais um dia entre os milhares que ainda faltavam para mim. — Não estou muito a fim de ir numa balada.

— Opa, opa, opa! — exclamei, erguendo os braços. — Está doente? — provoquei.

— Ha-ha — ela replicou. — Só estou com vontade de fazer alguma coisa diferente.

Normani levantou os olhos da tela do notebook que compartilhávamos.

— Onde ainda é dia? A gente podia ir a um museu.

Elizabeth balançou a cabeça.

— Nunca vou entender como você pode gostar tanto de lugares silenciosos. Como se a gente já não ficasse quieta o bastante.

— Pfff! — desdenhei, lançando um olhar para Elizabeth. — Você, quieta?

Elizabeth me mostrou a língua e pulou para perto de Normani.

— O que você está vendo?

— Paraquedismo.

— Uau! Agora sim uma coisa divertida!

— Não vai se animando. É só uma pesquisa por enquanto. Queria saber o que aconteceria com nossos níveis de adrenalina se fizéssemos uma coisa dessas — Normani explicou enquanto tomava notas num caderninho. — Tipo, se a gente teria um pico de adrenalina acima da média.

Comecei a rir.

— Mani, é para ser uma aventura ou um experimento científico?

— Um pouco dos dois. Li que picos de adrenalina podem alterar a percepção, fazer as coisas parecerem desfocadas ou meio que congelar um momento. Acho que seria interessante fazer uma coisa dessas, descobrir o que vou sentir e depois tentar reproduzir na arte.

Achei graça.

— Tenho que reconhecer que é criativo. Mas não existe um jeito mais fácil de ter um pico de adrenalina do que pular de um avião?

— Mesmo se tudo der errado, a gente sobrevive, certo? — Normani quis saber, e ambas se viraram para mim como se eu fosse a maior autoridade no assunto.

— Acho que sim. Em todo caso, pode me deixar fora dessa aventura em particular.

— Está com medo? — Elizabeth caçoou, imitando um fantasma, agitando os dedos para mim.

— Não — rebati. — Só não tenho vontade.

— Ela está com medo de arranjar problemas — Normani especulou. — Medo de que a Água não goste.

— Como se Ela algum dia fosse ficar brava com você! — Elizabeth disse, com uma pontinha de amargura na voz. — Ela te adora.

— Ela gosta de nós três — eu disse, cruzando as mãos sobre o colo.

— Então Ela não ia ligar se você pulasse de paraquedas.

— E se vocês ficassem aterrorizadas e começassem a gritar? — desafiei. — O que aconteceria?

Elizabeth, que estava pronta para criticar minha preocupação, recuou.

— Bom argumento.

— Ainda faltam vinte anos pra mim — eu disse em voz baixa. — Se estragar tudo agora, vou jogar fora os últimos oitenta anos. Vocês conhecem tão bem quanto eu as histórias das sereias que fizeram algo errado. Mani, você viu o que aconteceu com Miaka.

A Sereia (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora