You, the ocean and me | JIKOOK

and me

"Talvez o céu também esteja caindo 
Não estaria certo ir embora"

Não sabia se a dor que sentia no peito era medo, desespero, arrependimento, culpa ou apenas a falta de ar causada pela rapidez com que corria em direção à sala de embarque do aeroporto. Tentava, ainda que rapidamente, capturar com o olhar cada metro quadrado dos lugares por onde passava na esperança do reflexo de Jimin aparecer no intervalo de algum segundo entre os minutos que ainda o restavam. Suspirou, quase se dando por vencido, quando viu que o lugar estava quase lotado, dificultando todo o seu processo de procura. Enquanto andava tentava ler as palavras nos grandes monitores anunciando os próximos voos, prestando atenção em cada fila, em cada rosto, perdendo um fragmento da sua esperança frágil quando não encontrava o de Jimin.

O tempo era o seu pior inimigo.

Foi então que o viu. Estava atravessando o portão giratório, já havia feito todos os procedimentos necessários. Era só passar por aquela maldita porta de ferro e caminhar por aquela longa rampa até o avião. Jungkook correu, mas não bastaria correr. Então gritou com toda a sua voz o nome de Jimin, freando seus passos quando de súbito o outro o encarou assustado, com os olhos arregalados, não acreditando no que via. Ficaram inertes na presença um do outro, enquanto algumas pessoas paravam, curiosas, para observar a cena. Jungkook sussurrou um "por favor" inaudível para Jimin, que mantinha os olhos fixos nele enquanto as lágrimas caíam, tão desesperadas quanto o coração. Então os abaixou, sem dizer adeus, e seguiu o seu caminho. Jungkook quis gritar, deixar seus joelhos chocarem-se contra o chão, mas apenas ficou parado olhando para a porta giratória enquanto chorava.

Ele não esperava que Jimin voltasse. Muito menos que voltasse e o abraçasse com a força de uma última vez enquanto a voz que saía dos altos falantes anunciava partidas e chegadas a todo momento.

— Por um momento eu realmente achei que você fosse embora. — Jungkook falou entre soluços, sem se desvencilhar do braço de Jimin, apertando-o mais contra si. — Por favor, eu não quis dizer aquelas coisas, Jimin. Eu estava assustado. Eu estava... você não entenderia.

— Esse é o problema, Jungkook. — Foi Jimin quem deu fim ao contato físico, fazendo questão de olhá-lo nos olhos. — Você sempre diz que eu não entenderia, mas nunca me dá oportunidade de entender. Até agora eu ainda não entendi o que aconteceu naquela rua. Por que você apertou a minha mão daquela forma, por que congelou, por que se recusou a me respondeu e quando finalmente o fez, me empurrou e disse todas aquelas coisas.

— Jimin...

— Não, Jungkook. Eu preciso falar tudo enquanto ainda tenho tempo.

— Você não...

— Eu sinto como se eu tivesse forçado você a me ver. Que você ainda não estava preparado para isso, mas eu achei que estivesse. Se não queria que eu viesse, era só ter dito antes. Não precisava ser depois de a gente passar tantos dias incríveis, de confidenciar tantas coisas um ao outro. Será que pra você não significou nada?

— Jimin, eu não quis dizer aquilo. Eu estava com raiva.

— Com raiva de que? De mim? O que eu fiz pra você até agora além de tentar entender, de acolher, estar ao seu lado? O que eu fiz de tão ruim para você olhar nos meus olhos e dizer que preferia que eu não tivesse vindo? Você consegue ter noção do quanto isso dói? Você consegue sentir o peso disso? Não, né? Não foi você que ouviu. Sabe, eu não sou nenhum santo....

— Ji...

— Deixa eu falar! Eu quis tanto estar aqui contigo, Jungkook... eu fiz tanta coisa para estar aqui com você e... você simplesmente teve a coragem de me dizer que preferia que eu não estivesse aqui. Eu entenderia se não estivesse preparado, mas eu não consigo entender como você foi capaz de me dizer depois de eu estar na sua frente. Desculpa, mas da mesma forma que existem coisas que são demais pra você, isso é demais pra mim. Não existe coisa pior do que atravessar o oceano para ver alguém que você ama e acabar se afogando nele.

— Jimin, as coisas não funcionam dessa maneira. Eu também quis mais do que tudo estar com você.

— Então por que disse o contrário? Ou pior... por que muitas vezes demonstra o contrário? Eu não sou nenhum idiota, Jeon... Eu sei quando você fala a verdade. Eu também sei que você não está preparado para nós, por mais que nem você consiga admitir pra você mesmo. Eu vejo nos seus olhos, e hoje mais cedo você deixou claro na sua fala. Eu não posso mais ficar aqui se você não está preparado para me ter aqui. Você não está bem e não precisa de mim. Você precisa de você. Só que... você poderia ter evitado tudo isso se ao menos me falasse que não estava preparado. Eu entenderia. Sim, claro que eu ficaria chateado, mas eu entenderia, assim como eu...

— Jimin, cala a porra da boca. Para de falar. Eu to de saco cheio de ouvir! Agora me escuta! Pelo amor de Deus me escuta! Você não é vítima aqui. Você nunca vai ser. Você vive dizendo que entenderia, mas na primeira oportunidade nem ao menos me deixou explicar! Você nem quis conversar comigo. Você escolheu agir que nem um mimado de ego ferido, pegar suas coisas e ir embora. Isso é entender? É sério que esse é seu senso de compreensão?

— Pra você todas as outras vezes não contam?

— Outras vezes? Sério?

— Sério. Você continua agindo como se eu nem houvesse tentado...

— Jimin...

— Eu vou perder meu voo. É melhor as coisas acabarem aqui.

— As coisas não precisam acabar aqui. E nem assim...

— Tem razão, Jungkook, mas elas vão.

— Você me prometeu. Jimin, você me prometeu...

— Promessas são tentativas. E eu não posso tentar sozinho. Eu não posso prometer por nós dois, eu não posso tentar por nós dois. — Jimin segurou as duas mãos de Jungkook e voltou a olhá-lo nos olhos.

— Não vai embora. Por favor.

— Quando eu te falei que viria, sua primeira reação foi felicidade ou desespero? — Jungkook foi pego de surpresa com a pergunta. Encarava, sem piscar, os olhos vermelhos e inchados de Jimin. Não foi capaz de responder porque sabia que, novamente, suas palavras o magoariam. O silêncio já seria autoexplicativo e doloroso o suficiente. Limitou-se a se aproximar e a dar um beijo demorado na testa do mais baixo, segurando sua cabeça delicadamente. Soube que nada o faria ficar, nem o amor.

Jimin limitou-se a falar qualquer coisa a mais. Respirou fundo e se afastou devagar, olhando para Jungkook, antes de virar-se e atravessar o portão brincando com o tempo, prestes a perder o voo. Sua silhueta desapareceu entre as portas de vidro que giravam vagarosamente. Enquanto as observava, Jungkook ainda sentia os poros arrepiados pelo último abraço. Aquilo não podia fazer sentido. Era uma brincadeira de mau gosto. Acreditou naquilo por tantos minutos que ficou parado encarando o portão, esperando receber outro abraço caloroso.

Só que dessa vez Jimin não voltou.