De onde morava podia se enxergar grande extensão dos morros acinzentados que iam se confundindo, ao longe, com o verde do céu sem nuvens. Apesar do clima úmido e quente que fazia nesta região durante quase o ano todo, Gaia estava ansiosa e saltitante. Da pequena janela da cozinha que dava para o lado de fora da casa, a menina podia ver chegar, a passos lentos, seu avô que a acenava de longe trazendo consigo um afetuoso sorriso que preenchia seu rosto. Era dia de histórias. A cada 15 dias, Gaia se reunia com seus avós e juntos contavam, inventavam e liam histórias sobre os mais variados temas, e principalmente sobre aqueles contos que traziam a história dos tempos passados. Cultivavam essa prática há anos e, sem dúvidas, aquele era o momento mais colorido de seus dias.
Gaia vivia com sua avó Marla e seu avô Friedrich no roinn da terra nos limites de uma vila, isolada. Durante as semanas, ajudava sua avó na colheita, plantando e adubando o solo. Ela dizia que as terras dessa região eram as únicas plantáveis no planeta e por isso era um trabalho de importância vital. A pequena Gaia não entendia muito bem o trabalho de seu avô, sabia que tinha algo a ver com uma fábrica e que ele estava sempre cansado -menos quando se reuniam para contar histórias.
Foi em uma tarde singularmente ensolarada que, enquanto passeava pelo vale, Gaia escutou um ruído alvoroçado de vozes e gargalhadas que apenas as crianças são capazes de reproduzir. Eram meninos de outra parte do roinn que frequentemente brincavam ali perto.
Ao se aproximar, Gaia pode identificar que eram seus amigos: Robin, Maximillien, Danton e Agatha.
-O que vocês estão fazendo? -perguntou Gaia.
-Oi, Gaia! Estávamos mesmo querendo falar com você - Disse Robin.
-O que aconteceu? Adiantou a menina curiosa.
-Achamos uma caixa no bosque ontem cheia de coisas muito antigas – Respondeu Agatha.
-Acho que é de antes da guerra- completou Maximillien, em um tom mais baixo.
-Onde está? Eu quero ver isso!
-Nós escondemos em uma casinha abandonada, atrás do cemitério.
No caminho, enquanto passava pelo cemitério, Gaia pode sentir que algo ou alguém estava tentando se comunicar com ela. Apesar do esforço, a menina não conseguiu entender a mensagem. Uma sensação estranha tomou conta de seu corpo, como se um vento gelado passando em seu cabelo. Mas decidiu não contar nada aos seus amigos.
Já se iniciava o anoitecer quando os jovens chegaram ao seu destino. A casa abandonada era escura como a noite, com apenas uma janela que há muito tempo não tinha mais vidros, uma porta já inexistente e uma escadinha de madeira que sabe-se lá como havia resistido aos espólios das guerras. Gaia foi a primeira a entrar na casinha, toda animada e ansiosa para saber e ver com os próprios olhos o que havia na caixa. Após seus amigos mostrarem onde ela estava escondida, Gaia foi até a caixa e a analisou antes de abrir.
- Vocês tem razão. Isso só pode ser de antes da guerra.
Eles a observaram em silêncio enquanto ela olhava o que havia dentro, pois sabiam que ela precisava se concentrar para ver os mínimos detalhes. Passou-se alguns minutos e então ela os encarou, séria.
- Preciso ir ao cemitério sozinha.
- Como assim? – Perguntou Agatha
- Você enlouqueceu? – Retrucou Robin.
- Devo admitir que isso é estranho, até para você. – Observou Maximillien.
- Ah, ela está brincando gente, não é, Gaia? – Perguntou Danton, coçando seus cabelos verdes.
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A Dor da Terra
FantasySinopse: Num mundo pós apocalíptico, a população sobrevivente se subdividiu em quatro províncias, chamadas de roinns: Fogo, Água, Ar e Terra, onde cada roinn tinha seu "dom". Mas o roinn do Fogo, por ser o mais forte, queria ser o soberano e que os...