Capítulo I

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                    Mais um dia nesta escola infernal, mais um dia perdido nesta vida. Ainda gostaria de saber qual o objetivo de nos obrigarem a estudar para algo que não queremos e para o qual não somos vocacionados.

                    Para ti que te estás a questionar quem eu sou, o meu nome é Isabella, tenho 17 anos e basicamente não faço nada nesta vida. A minha rotina baseia-se entre a escola, casa e ele. Ele é a melhor parte do meu dia... 1.75 de pura beldade possuindo olhos castanhos avelã e cabelos castanhos aloirados- era como eu o caracterizava desde a primeira vez que o tinha visto.

                    Nunca tive a coragem de falar com ele, sempre o admirava de longe levando a que, neste momento, eu conhecesse todas as suas manias. O morder do lábio inferior até ao mexer nas suas madeixas loiras quando o nervosismo se fazia de presente.

                    Ainda mesmo agora, sentada no banquinho de madeira do costume, enquanto espero pela minha boleia (vulgo a minha mãe), observo-o ao longe desejando que fosse mais do que uma simples admiradora.

                    Os seus olhos outrora com brilho encontram-se apagados denunciando que algo acontecera e eu nada poderia fazer. Será que algum dia estaria ao seu lado dizendo-lhe que tudo ficaria bem e sempre estaria ali para ele? Seria eu a pessoa que lhe enxugaria as lágrimas, ao mesmo tempo que lhe dava um abraço reconfortante desejando que a dor dele desaparecesse?

                    Fui tirada dos meus pensamentos pela chegada do carro da minha mãe. Apressei-me a entrar antes que ela começasse com os seus gritos habituais, o que não adiantou de muito porque mal eu pus um pé dentro daquele carro já estava a ser acusada de algo que eventualmente nem culpa tinha, por isso limitei-me a por os meus fones e a continuar com os pensamentos nos meus olhos avelã.

                    A viagem durou cerca de 10 minutos; mal o carro parou eu já estava fora dele seguindo em direção ao meu quarto situado no segundo andar daquela casa, logo ao lado do meu quarto de pintura/desenho.

                    As artes são o grande sonho da minha vida. É nelas que eu consigo por completo exprimir as minhas emoções, preocupações, medos e receios. Elas não me dececionam e muito menos me relembram a cada cinco minutos que sou a "culpada" pela morte do meu pai.

                    Sim, segundo a minha mãe eu sou a responsável por tal acontecimento. A razão disso? Pois, também eu gostaria de saber um dia, por agora fico descrita por sendo " a filha conturbada com graves problemas mentais".... Grande titulo, ah?

                    Mal entro no quarto sou absorvida pela tenebrosidade que se fazia de presente, levando-me para uma realidade completamente diferente. Era no recanto daqueles insignificantes dez metros quadrados que eu desabava por completo.

                    Era ali que eu deixava de ser a aparente rapariga forte que aguenta tudo e todos, para ser a menininha que sentia a falta de um pai que nunca chegou a conhecer, a menininha que tinha uma mãe que só o representava pelo nome e de quem ela também sentia falta, a menininha cheia de medos que não contava com ninguém pois sabe que no final só lhe trazem deceções e tristezas e, portanto, preferia ser conhecida pela "esquisita antissocial que não tem quaisquer amigos".... Como reparam a minha vida é cheia de bons títulos e nomes carinhosos.

                    Larguei a mochila num canto qualquer daquele quarto e, literalmente, atirei-me para cima da cama gigantesca que se fazia lá presente, repensando o dia de hoje e, passados poucos minutos, entregando-me á escuridão.


                    Desde muito novo que tive que aprender a sobreviver sozinho. Os meus pais morreram num acidente de carro quando eu tinha apenas dois anos e, não tendo mais parentes vivos, a minha única solução foi um lar de adoção.

                    No dia que fiz dezoito anos, a tão esperada maioridade, saí de lá com a incerteza do sítio onde morar, onde trabalhar, como sobreviver no mundo real. Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que todos os meus medos eram insignificantes.

                    Provenho de uma família com bastante dinheiro, imóveis e ações o suficiente para me sustentar o resto da minha vida. Mas eu não quero isso. Eu quero ter algo pelo que lutar e, onde quer que os meus pais estejam, conseguir deixá-los orgulhosos, apesar das lembranças deles na minha vida serem nulas.

                    Salvador foi o nome que encontraram na minha certidão de nascimento e, consequentemente, a única recordação que tenho deles. Mas, na minha opinião, isso não é razão para eu não tentar ser o melhor de mim.

                    Contudo, essa não é a única razão pela qual eu me levanto todos os dias de manhã disposto a enfrentar um novo dia. Isabella é o nome da minha outra inspiração. Baixinha a rondar o 1.60, cabelo castanho ondulado com breves toques ao loiro e aqueles olhos azuis oceano que me fez encantar desde o primeiro momento. Apenas por ela eu digo que a morte dos meus pais teve algo de positivo.

                    Se tudo tivesse corrido bem, com os meus atuais 20 anos, já não era suposto eu encontrar-me neste ambiente, mas sim em alguma universidade a aprender como dar continuidade aos negócios dos meus pais ou, quem sabe, já mesmo a trabalhar porém todos sabemos como o ambiente de casas de acolhimento podem ser desestabilizadores e, sendo assim, conheci-a.

                    Sempre sozinha e isolada, a sua grande companhia são os seus auriculares permanentemente encaixados nas suas orelhas. O que eu sacrificaria para conseguir falar com ela ou, simplesmente, saber a música que ela tanto ouve.

                    No entanto, o medo da rejeição é maior. Posso possuir os bens que tenho (ou melhor, os bens dos meus falecidos pais), mas nunca vou deixar de ser aquele rapaz que foi criado num orfanato com tantas outras crianças.

                    Agora, vendo-a do outro lado da estrada, fico dividido entre ganhar coragem e ir ter com ela ou continuar onde estou contemplando-a como sempre faço. Mas, no meio da minha indecisão, chega quem eu presumo que seja a mãe da minha Isa, tirando-a do velho banco de madeira onde ela se encontrava e levando-a para longe, inalcançável aos meus olhos.

                    Após isto, apenas me resta dar o meu dia por terminado naquela tormenta escola e sigo em direção a casa, esperando que o próximo dia se avizinhe rápido para poder voltar a vê-la. 

Enquanto estiveres aíWhere stories live. Discover now