Ele era bonito, muito bonito. E tinha os olhos mais intensos que eu havia visto na minha vida, de uma cor clara de castanho que me chamava a atenção principalmente porque ele olhava de cima pra baixo enquanto segurava um copo com cerveja.
O forró estava pocando e eu ainda não havia encontrado ninguém para dançar comigo, mas meus olhos não saíam daquele menino de jeito nenhum. Respirei fundo e resolvi que seria uma ótima hora para levantar e pegar uma bebida nova pra mim, porque aquela já tinha acabado.
Eu havia ficado solteira recentemente, num golpe de azar da vida, acabei sendo incapaz de fazer algo sobre isso e me deixei levar. Havia sofrido por muito tempo, havia escutado todos os álbuns de Maiara e Maraísa, mas nada tinha sido de fato útil para fazer as coisas mudarem.
Que falta eu sentia de um bem, que falta me fazia um xodó, eu era dessas que não conseguia passar um simples tempo sem ninguém. Eu era amorosa, intensa, mas também era frágil e doce.
O vestido que eu vestia arrastava no chão, e deixava meus ombros nus, era florido e vermelho. Eu, alta como sou e morena por causa do céu ensolarado, chamava a atenção por onde passava. E não foi diferente quando eu justamente passei do lado do moreno dos olhos de Capitu.
Ele me parou antes mesmo que eu conseguisse chegar ao caixa para fazer o pedido. Fiquei nervosa com sua presença. Seu toque era leve, mas ao mesmo tempo firme, fiquei entonteada com sua presença e não consegui me segurar, meus olhos encontraram os seus e o mundo ao redor de mim ficou em silêncio. Eu mal conseguia ouvir o grave da zabumba, os agudos do triângulo e a melodia da sanfona.
Meus olhos eram os dele.
"Onde você pensa que está indo?", ele perguntou me tirando de vez o norte.
"Vou pegar uma bebida.", respondi, completamente abobalhada, me sentindo uma verdadeira anta.
"Não vai querer dançar comigo?", suas perguntas eram verdadeiros desafios, eu não sabia o que fazer com elas, mas respondia da forma que minha mente dizia que eu deveria fazer.
"Quero.", afinal eu não estava querendo um par para uma dança? Porque não aquele homem? Porque não naquele momento?
Ele segurou minha mão, me levou até o centro da pista de dança, juntou seu corpo no meu, beijou o meu cabelo, cheirou meu cangote, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar.
Fiquei completamente tímida, de um jeito que eu nunca fiquei de jeito nenhum com ninguém antes.
O trio tocava Avisa do Falamansa, enquanto isso ele me recolheu junto ao peito dele. Me senti em casa naquele momento.
E nos braços daquele moreno eu poderia ficar a noite inteira.
Dançávamos devagar, gostosinho, de um jeito que eu gostaria que fosse. Não tinha como, o olhar dele era a isca para os desejos mais profundos.
A música era lenta, mas nós parecíamos estar parados no tempo com aquela situação.
A noite inteira a gente dançou no mesmo passo, no mesmo ritmo, sentindo nossos corpos se moverem juntos numa mesma sintonia.
A lua no céu estava cheia, já era meia noite e meia, quando ele se afastou de mim e disse:
"Até logo, até mais ver."
"Já?"
"Se eu morasse aqui pertinho, nega, todo dia eu vinha te ver."
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Nosso Xote - Um Conto
ContoMoreno, me convidou para dançar um xote... Venha se envolver nesse xote entre um casal que busca acima de tudo dançar e arrastar o chinelo a noite inteira